Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

O ENTARDECER

O ENTARDECER

Zona Fulcral dos Conflitos

 

As fontes de riqueza natural expandem-se desigualmente pelas diferentes regiões do Globo, com os aspetos curiosos e inesperados que a geografia económica revela. Se o crude e o seu derivado petróleo, sobressaem na importância de toda e qualquer economia, já vimos anteriormente que as reservas do Médio Oriente são consideráveis a nível mundial.

O petróleo, uma arma do Médio Oriente

Descoberto no início do século XX (a primeira exploração data de 1909 no Irão), o petróleo tornou-se um dos mais importantes elementos da economia mundial. Além de utilizado como combustível, vários outros derivados colocam o petróleo como base da economia de muitos países, sendo alvo da cobiça e sinal de riqueza para quem detém jazidas. O Médio Oriente, logo após a Primeira Guerra Mundial, já era o maior produtor petrolífero do mundo e, por isso, despertava o interesse das grandes potências. Assim, houve uma partilha dos países do Médio Oriente com a França e a Inglaterra, que passaram a dominar as empresas de exploração de petróleo. Para citar um exemplo, em 1926, a Irak Petroleum foi repartida entre Inglaterra, que detinha 52,5% das ações; França, com 21,25% e EUA, 21,25%; restando ao Iraque somente 5%. Cerca de 90% da produção mundial passou ao controle de apenas sete empresas, conhecidas como as “Sete Irmãs”, das quais cinco eram norte-americanas. Como consequência desse imperialismo, houve um grande êxodo rural na região, principalmente do Egipto para os países do Golfo, provocando desequilíbrios populacionais e económicos. Vale a pena lembrar que, apesar de se estarem a formar grandes riquezas, apenas uma pequena classe de privilegiados tinha acesso ao dinheiro e a maioria dos “petrodólares” eram investidos nos grandes centros dos países ricos, restando 7% de investimento aos países árabes. Com o nível de vida das populações a baixar, apareceu um forte sentimento de independência nos países árabes. Os produtores de petróleo passaram a pressionar as “sete irmãs” estabelecendo uma divisão de lucro de meio por meio e, em 1960, criam a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) para organizar e fortalecer essa política de independência. Os países membros são: Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Irão, Catar, Kuwait, Iraque, Líbia, Gabão, Indonésia, Nigéria, Equador, Venezuela e Argélia. Em 1968, cria-se a OPAEP (Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo), com o objectivo de defender os interesses referentes à nacionalização das companhias estrangeiras.  

Também já vimos que foi nesta área do Golfo que nasceram das mais influentes religiões do mundo

Constatámos igualmente ser o Médio Oriente, uma das zonas que apresenta maior instabilidade política e social, sendo inclusive, aquela onde se desenrolaram nos últimos tempos mais guerras. O conflito entre israelitas e árabes, tornou-se latente há muitas dezenas de anos, sem fim à vista. É nesta zona que atuam muitos dos grupos de guerrilheiros organizados e conhecidos em todo o mundo. Logo nesta região que é das que apresenta maior densidade populacional. Naturalmente que existirão razões históricas na origem de todos estes factos, motivo pelo qual valerá a pena relembrá-los. As zonas onde se desenvolveram as primeiras civilizações históricas, apresentam uma baixa latitude nas suas terras, de clima seco e muito quente, onde os desertos ocupam lugar importante, deixando apenas como regiões favoráveis à fixação do homem as duas únicas grandes planícies (Egipto e Mesopotâmia), cuja fertilidade se devia à enchente dos seus rios: Nilo, Tigre e Eufrates.

A civilização egípcia floresceu durante mais de três milénios no vale do Nilo, dispersando-se pelas terras que o rio, extenso e impetuoso, tornava ciclicamente férteis. Venerado como um Deus que tudo dava e a quem tudo se agradecia, o Nilo Azul foi, assim, razão de existência para um povo que se iria mostrar inteligente e activo, ao ponto de erguer e estabilizar uma cultura que a História regista como a mais duradoira da Antiguidade. A decadência do mundo egípcio começa no século VII a.C., com o assalto das hordas assírias e, mais tarde, dos Persas. O Egipto torna-se por último uma província da Roma vencedora.

A civilização dos sumérios floresce na Mesopotâmia no fim do IV milénio a.C. Hamurabi, que foi o primeiro grande rei dos semitas, unificou toda a Mesopotâmia Meridional (ou Babilónia), mas a verdadeira unidade viria a ser conseguida por um outro povo semita – o assírio (1243 a.C.) que, embora sob constantes vicissitudes, foi o último grande povo do vale entre o Tigre e o Eufrates que dominou a região antes da conquista persa.

A Babilónia foi a primeira do mundo a pôr a alegria de viver acima da glória militar.

Babilónia capital, como Paris, era um centro de cultura internacional. E como Paris era um centro de diletantismo e divertimento. A mulher babilónia era a mais emancipada do Oriente. A poligamia era proibida mas a concubinagem era legal. E para além das leis, a mulher mandava no coração dos homens. Os célebres jardins suspensos da Babilónia, foram erguidos por Nabucodonosor para consolar as suas amigas. Vénus a mais querida das deusas babilónicas, era representada sob a forma de uma mulher em pé sobre dois leões. A força submetida à beleza. Uma frase resume a História do Médio Oriente até final do século XII: Um desfile de civilizações.

Em 1500 anos (cerca de 4500 a 3000 a.C.) os homens do vale entre o Tigre e o Eufrates e os do vale do Nilo, inventaram a roda e os transportes rodados, aprenderam a trabalhar o linho, construíram barcos à vela, descobriram os números, inventaram a escrita, aprenderam a irrigar as terras de cultura, criaram as primeiras cidades e revelaram o seu talento para as artes.

A invasão dos bárbaros provocou uma rotura na marcha da sua história

O Médio Oriente vinha sendo, deste modo, a fonte de civilizações brilhantes e sucessivas havia 40 séculos. Hordas sinistras de bárbaros saíram do centro da Ásia e semearam a destruição durante oito séculos nas terras luminosas do Médio Oriente: Genghis - khan e seus tártaros, Tamerião e os mongóis, Osman e os seus turcomanos. A crueldade desses tiranos estendia-se aos animais e às coisas inanimadas. Por onde passavam destruíam as ovelhas e as árvores. Na Mesopotâmia, demoliram os canais de irrigação. É difícil de compreender por que razão ou misteriosa sabedoria foi desencadeado em terras de gente tão humana e civilizada uma tão feroz barbaridade?

O império otomano governou a maior parte dos territórios árabes desde 1560. A Inglaterra teve uma aliança com os otomanos durante a maior parte do século XIX. Em 1899 o Kuwait tornou-se um protectorado britânico. Os otomanos aliaram-se aos alemães durante a primeira guerra mundial e por isso a Inglaterra, a França e a Rússia concordaram secretamente em Maio de 1916 em repartir as terras do antigo império Otomano. Por esta mesma altura a Inglaterra decidiu apoiar uma revolta árabe chefiada por Hussein, xerife de Meca e xeque do clã Hashemita, para derrubar o poder otomano e criar um Estado árabe independente, com a promessa de que todas as terras entre o Egipto, o Irão e a Turquia pertenciam a esse Estado. Depois da primeira Grande Guerra o território de Hussein foi repartido e foram formados Estados independentes. A Liga das Nações deu mandatos à França para governar o Líbano e a Síria, e à Inglaterra para governar a Palestina e a Mesopotâmia. Londres fez dos filhos de Hussein reis do Iraque e da Jordânia. A Síria e o Líbano tornaram-se independentes depois da segunda Guerra Mundial. Os protectorados britânicos, como o Kuwait, conseguiram o mesmo depois de 1960. Sob a égide inglesa é proclamado em 13 de Maio de 1948 o Estado de Israel. Um golpe militar derrubou a monarquia iraquiana em 1958. Em Abril de 1979 é proclamada a Republica Islâmica do Irão, depois da queda do Xá Reza Palevi e do regresso do líder carismático Ayatolla Khomeini. Decorridos que são oito séculos muito se tem passado na região do Médio Oriente e muito se irá ainda passar.

Mais sobre mim

foto do autor

Arquivo

  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2018
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2017
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2016
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2015
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2014
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub