VONTADE DE PODER
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O que não esperavam aqueles que votaram é que a sua vontade fosse subvertida. ALMEIDA HENRIQUES 10.11.2015 00:38 Vem nos livros: a vocação dos partidos é o controlo do Poder. Mas a Política (quando é maiúscula, nobre e verdadeira) é uma coisa diferente. É a arte do bem comum, seja no exercício da governação ou na luta do contrapoder. Quer isto dizer uma coisa simples: que o controlo do Poder não pode ser o fim mesmo da Política e dos seus atores. E que a sua conquista não se pode realizar a qualquer custo, de forma cega, por conveniência ou conivência, sem limites éticos. A conquista democrática do Poder nunca será um assalto, nem o exercício nobre da Política um enredo. Surpreende-me (ou dececiona-me), por isso, o culto intelectual da "reconfiguração" do xadrez político-partidário nacional. Essa exaltação trata tal "reconfiguração" (provisória, como se verá, e colada de forma pouco transparente) como um bem em si mesmo ou uma garantia da qualidade da Política. E não o é. É preciso mais, bastante mais, do que uma "vontade de poder". Os portugueses perceberam bem isso nos últimos anos, por experiência própria e com custo da sua pele. E talvez por isso lhes custe a entender as promessas de fantasia em que tudo o que é bom aumenta exceto o défice! O sequestro da governação a que assistimos hoje em Portugal não enobrece a Política como arte do bem comum, nem a nossa democracia multipartidária. Poderá não faltar legitimação formal ao anunciado e autoproclamado "Governo de Esquerda" (numa linguagem que é já em si bastante facciosa), mas faltará seguramente legitimação política substantiva. Por muito que hoje não pareça, há uma moral na democracia. A vontade da maioria – que legitima o princípio de que deve governar quem vence as eleições – não é respeitada. A "maioria absoluta" não pode ser um artificialismo apressado de laboratório imposto à democracia. Não é de agora que os portugueses andam de candeias às avessas com os partidos e os políticos. Os níveis de abstenção sistematicamente elevados testemunham-no. Mas o que não esperavam aqueles que votaram é que a sua vontade fosse subvertida por um súbito casamento de conveniência, de resultado duvidoso. Em regime de separação de bens, com convidados constrangidos e divórcio preanunciado. Por interesse, não por amor. O País quis (e merecia) coisa diferente.
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