UMA CONSCIÊNCIA NACIONAL
Afinal o que é isso? Há um abismo total entre o querer perceber ou não querer mesmo perceber, ou preferir não perceber, e as pessoas preferem não perceber, preferem não entender. Se cada um fizesse um esforço para se situar em relação a esta realidade…, mas não, não há sequer isso, fazem um esforço máximo para não participarem desta coisa. E esta coisa é precisamente uma nação ser um corpo alma ou sem ela. O esclarecimento é algo perfeitamente indispensável e julgo que de uma maneira geral é assim. Desde criança deveríamos ser despertos para o “sentimento da nacionalidade”. Para o sentimento da nossa integração num mundo que fala a mesma língua e que tal mundo é mesmo um mundo de irmãos. Sem esse sentir, a consciência nacional não funciona em pleno! Só o sentimento de irmandade, legítimo o sentimento de consciência nacional. Mas, antes da incursão nestes conceitos, temos de desejar construir uma civilização, num país em que a população seja civilizada, e nunca degradada moral e etnicamente. Ou seja:
«Se não existir lugar no vosso coração para aqueles que estão abaixo de vós, não haverá lugar para vós na casa que é de todos.»
Se o poder quiser tirar o país da estagnação e conduzi-lo a grandes passos para o desenvolvimento e progresso tem, em primeiro lugar, de criar nesse povo o sentimento de nação casa de todos e para todos. Tal, só o poderá conseguir pela cultura do povo frente à grandeza da nação e mais ainda face às suas sempre existentes fraquezas.
Mesmo num país, multimilenar como o nosso, não podemos ouvir, nos meios de comunicação o martelar constante de apelos e reivindicações de cariz corporativo. Elas, não passarão de uma afronta imprópria, aos mais desprotegidos.
Simplificando: «ouvir presidentes de sindicatos, bastonário dos enfermeiros, chefes dos guardas prisionais etc., etc. anunciarem a necessidade de aumentar os respetivos efetivos ou condições salariais/laborais sem assumirem a preocupação com na degradação nas reformas dos idosos, no elevado desemprego, na conjuntura económica fragilizada, com a morte contínua da nossa “sociedade civil”, por fim, sem a menor preocupação com as enormes fragilidades da nossa economia (potenciadora da criação de riqueza que pagará todas as necessidades do país e dos portugueses. Ainda, sem a noção de que sem dinheiro, as prioridades sempre serão para os portugueses, ou problemas nacionais em maior aflição. A defesa do mundo próprio de cada um ou do setor empresarial mais frágil, deverá sobrepor-se a tudo o mais.
A expressão viva da nação é a consciência dinâmica de todo o povo. É a prática coerente e inteligente de homens e mulheres. A construção coletiva de um destino supõe uma responsabilidade à altura da história. De outro modo, é a anarquia, a repressão, o aparecimento de partidos tribalizados, do federalismo, etc. O governo nacional, se quer ser nacional, deve governar pelo povo e para o povo, pelos deserdados e para os deserdados. Nenhum «leader», qualquer que seja o seu valor, pode substituir a vontade popular, e o governo nacional deve, devolver a dignidade a cada cidadão, povoar os cérebros, encher-lhe os olhos de coisas humanas, desenvolver um panorama verdadeiramente humano, habitado por homens conscientes e soberanos. Embutir-lhe a partilha das dificuldades, em conjunto com uma partilha de esperança que um dia chegará.