"Pai, o que é ser Social-democrata?"
O meu filho perguntou-me o que era ser social-democrata. Pergunta de resposta difícil
nos tempos que correm. Não o queria enfadar com uma explicação teórica e científica. Decidi então falar-lhe do
coração baseando a resposta no conhecimento empírico e no senso comum, pondo de lado
a teoria de quem trabalha e estuda a Política. Tinha de o orientar e por isso clarifiquei a
resposta. Um social-democrata defende a liberdade, seja ela individual ou colectiva. Não abdica de
defender a igualdade de oportunidades e a subordinação dos interesses particulares aos
interesses colectivos. Um social-democrata incentiva a democracia representativa, nunca abdicando de lutar por
um País onde a solidariedade e a justiça social sejam pilares da sociedade. Gastará todas
as suas forças a defender a predominância do poder político – eleito por sufrágio directo
e universal – sobre o poder económico. Defenderá o cumprimento das regras que advogam a responsabilidade financeira, mas sem
nunca descurar as prioridades sociais. Para um social-democrata, não pode existir uma sociedade sem Estado Social. Não existe
equidade e igualdade quando deixamos de defender a escola pública com o mesmo fervor
(e bem) com que defendemos a escola privada. É inconcebível uma sociedade que abdique do serviço nacional de saúde e que secundarize
e desinvista num serviço de segurança social que se quer abrangente e protector. Disse-lhe com firmeza que não se pode querer uma sociedade justa quando se abdica da
solidariedade social em detrimento da ditadura dos números e estatísticas. Uma
sociedade justa e com olhos postos no futuro não pode abdicar de defender estas causas.
Enquanto me ouvia, disse-lhe que podia até ser incompreendido por um nicho que (hoje)
se move naquela “associação” política (de cor quente e mobilizadora) onde o Pai investe
a sua paixão, convicção, energia e tempo. Mas com convicção disse que é esta a matriz que
se deve defender, hoje e sempre, para fazer regressar essa “associação” política á sua
génese e por consequência á gestão do nosso País.
A mudança necessária faz-se defendendo e praticando os princípios que lhe estava a
ensinar naquele momento. A mudança nunca se fará vendendo o medo ou a esperança do
falhanço.
Não se pode apostar na derrota do País para nos consideramos vencedores. Isso
afasta-nos dos cidadãos, que por sinal são também eleitores.
Se outras “associações” políticas, com projetos diferentes, fizerem algo de bom
pelo País, expliquei-lhe que deve valorizar isso. Mas nunca deve abdicar de
demonstrar as diferenças e de defender aquilo em que acredita poder fazer
melhor.
É por isso, porque acredito que se pode fazer melhor, que lhe expliquei que é
necessário mobilizar e trazer do exílio político muitos que também são
social-democratas.
Hoje ser social-democrata parece fazer de nós elementos á deriva num espectro
político desvirtuado, mas acredito num futuro onde regressaremos aos caminhos
da social-democracia, rejeitando o discurso do falhanço, do medo e da ausência
de esperança.
Por fim disse-lhe que ficaria feliz se pudesse abraçar estes princípios, mas acima de
tudo ficaria feliz se tivesse a garantia de que, como meu filho, nunca abdicaria
de defender aquilo em que acredita.
Rodrigo Gonçalves
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