PORTUGAL, UM PAÍS DO ABSURDO
O tema eleito é mais actual do que nunca. Com a última campanha eleitoral em pleno, elegem-se os políticos de proximidade. Aqueles que melhor conhecemos e que nos devem representar por quatro anos! E, agora, lá vai o absurdo, saído da boca de milhares de pessoas que nós reputávamos de respeitáveis! Ei-lo: “voto nele porque rouba, mas faz obra”! Tanta gente a dizê-lo, em relação a tantos candidatos, é, também, OBRA!
Não aludo a ninguém em particular, mas sim ao facto concreto, e ao absurdo que ele traduz.
- Por absurdo, consideremos que em determinado concelho as pessoas iriam votar em dois candidatos, a saber:
Candidato (A); “rouba, mas faz obra”.
Candidato (B); “ não rouba, mas faz obra”.
Dir-me-ão: “isso não é possível todos roubam ou, o que rouba faz mais obra”. O caso começa a complicar-se. O mérito, parece-nos, ter de estar reservado a quem faz obra e não rouba. Também se poderia argumentar que aquele que rouba precisa de obra para roubar!
- Vamos ainda, por absurdo, pensar que o candidato escolhido, candidato (A), acima referido, entraria na calada da noite e roubaria da vossa casa, uma peça em ouro. Este candidato até já vos tinha ajudado algumas vezes com decisões da Câmara. Pergunta-se: Continuariam a votar nele e não entregariam o caso do roubo aos tribunais?
Sem esperar pelas respostas, adianto algumas conclusões, agora, não por absurdo, mas bem reais: o comum das pessoas desculpa os políticos que roubam, por estes roubarem dinheiro do Estado, considerando que este não tem dono. Aqui fica o primeiro logro, o dinheiro do Estado tem dono e esse dono somos nós. Poderá significar para nós uma pequena parcela, mas, o muito pouco de muitos é o dinheiro que alguns políticos roubam! E o seu valor pode significar a escola que não se faz, o Centro de Saúde que nós não temos e muitas outras coisas que, apesar da obra feita, nós não usufruímos! Pode, também, significar nesta linha de pensamento, que o nosso filho tenha de frequentar uma escola distante correndo perigos, que nós não tenhamos, a tempo, um hospital que nos salve a vida e muitas, muitas outras coisas básicas para NÓS E PARA OS OUTROS!
CUIDADO, NÃO ESTAMOS A FALAR DE ABSURDOS, MAS DA VIDA CONCRETA E REAL. Se, por último, pronunciamos a estafada frase: ELE ROUBA MAS FAZ OBRA e votamos em quem rouba, então, estamos também a denegrir o poder judicial, a desautorizá-lo, por não estar como queríamos, mas a verdade é que se alguém nos roubar ou fizer mal a uma pessoa que amamos, É A ELE, E SÓ A ELE, QUE PODEMOS PEDIR PROTECÇÃO PARA QUE NOS FAÇAM JUSTIÇA! Estamos a destruir a única coisa que, mesmo mal, pode funcionar em nossa defesa.
António Reis Luz