“ Partidos, que futuro?”
Para Nuno Ramos de Almeida, da ATTAC (associação que defende a criação de um imposto sobre os capitais especulativos internacionais), este passo dado pelas associações portuguesas garante que, no próximo ano, os até agora poucos portugueses presentes em Porto Alegre serão «actores e não meros turistas». «Só conseguiremos ter uma participação significativa no movimento global se trabalharmos em conjunto», afirma.
Trabalhar em conjunto significa aceitar a «carta de princípios» do FSM: não ao neoliberalismo, não à guerra e combate ao racismo e à xenofobia – este último ponto por proposta do Fórum Regional Europeu, que reunirá em Florença, em Novembro, e marcado pela ascensão da extrema-direita um pouco por todo o continente nos últimos actos eleitorais.
Jorge Costa, do Bloco de Esquerda, sublinha que «este é o primeiro encontro de movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda para debater a viragem à direita na Europa». O Bloco estará presente no lançamento do Fórum português para «demonstrar que existe outra Europa que cresce também». Mas a participação de partidos políticos na grande rede que se opõe à globalização económica é tudo menos pacífica. O PCP e os Verdes participaram em alguns encontros, mas não informaram ainda se estarão no Fórum. Albano Nunes explicou as reservas do PCP, na última edição do Militante, órgão interno comunista: «Naturalmente que os comunistas portugueses participam neste debatem com espirito unitário, mas sem se diluírem, afirmando a sua independência orgânica, política e ideológica e defendendo com firmeza as suas próprias posições».
Outras reservas têm Boaventura Sousa Santos. «O Fórum português terá êxito se corresponder ao espirito de Porto Alegre – onde cada organização tem direito de veto sobre as decisões – ou seja, a palavra às organizações e não aos partidos. Aceitaremos quem esteja connosco sem reservas, numa postura aberta e leal, sem tentativas de controlar as discussões». Para o sociólogo, «qualquer tentativa de manipulação terá como resultado a saída de muita gente e eu serei um deles». Mas isso são debates para o futuro.”
Visão 29 Maio 2002