“ OS PARTIDOS POR DENTRO “
A vida interna dos partidos traduz-se num clima de luta permanente entre as várias sensibilidades existentes. Tenho vindo a afirmá-lo.
Esta luta não é nada digna nem consentânea com a unidade de esforços que seria indispensável para alcançar os objectivos necessários à resolução dos grandes problemas que afligem a população em geral e os mais desprotegidos em particular.
O actual presidente da Câmara do Porto é, sem sombra de dúvida um homem competente e muito sério. São personalidades deste tipo que estão a fazer falta na política portuguesa.
Só que todos sabemos como são fortemente controlados e conduzidos para o afastamento da vida política.
No seu livro “A POLÌTICA in situ” tem um prefácio do dr. Pacheco Pereira, do qual podemos extrair o seguinte trecho que é o retrato perfeito da calamitosa situação política em Portugal.
“ O processo conhecido como “ refiliação “, de responsabilidade primeira de Rui Rio e apoiado pela direcção original de Marcelo Rebelo de Sousa, foi nos tempos recentes a mais profunda mudança interna conhecida pelo PSD e ela se deveu a uma conjugação excepcional de circunstâncias dificilmente repetíveis. Na sua origem estava o impulso inicial da direcção de Marcelo, que se materializou no seu primeiro sucesso político – a luta contra o “ totonegócio “ – e a experiência pessoal de Rui Rio, como militante activo e empenhado, e que tinha a experiência de estar em oposição e em minoria, real ou manipulada, dentro do partido. Esta experiência deu-lhe uma visão muito crítica sobre os mecanismos habitualmente utilizados no interior do partido para a manutenção do poder.
Ele conhecia bem as inscrições maciças de militantes com moradas falsas, o crescimento artificial de secções controladas de forma caciqueira para garantir um maior número de delegados a congressos e a assembleias distritais, os comportamentos aparelhisticos das juventudes partidárias, actuando como sindicatos de votos para garantir a negociação de lugares e pessoas, o fechamento de secções a inscrições de novos militantes para os seus dirigentes mantivessem o controlo, o pagamento colectivo e selectivo de cotas em vésperas de eleições para garantir votos, a utilização das secções para pequenas «cotories» pessoais e de grupo, cujo único objectivo era o controlo sobre as escolhas de meia dúzia de cargos autárquicos ou de deputados, a corrupção favorecida pela promiscuidade entre situação e oposição nas vereações municipais, etc., etc., Ele também sabia que havia medidas discretas, fáceis de aplicar e seguras para evitar estas perversões da democracia interna e do sentido de bem público da acção política. Medidas que podiam ser tão simples como a mera obrigação do pagamento individualizado de quotas através de cheque ou transferência bancária. “
Também a Igreja se tem vindo a manifestar claramente mal impressionada com a situação política do país.
Não enjeitando à mesma, acesas críticas como ficaram demonstradas num artigo publicado pelo Diário de Coimbra em que o Bispo desta cidade arrasa o Governo socialista.
“ZANGAS ENTRE MEMBROS DO GOVERNO: IMAGEM DEGRADADA E HUMILHANTE “.
Diário de Coimbra 24 Dezembro 2000