“OS AMIGOS DA ONÇA”
Amigo da onça é o indivíduo que se mostra amigo, e ao mesmo tempo, é alguém em quem não se pode confiar, pois é uma pessoa falsa, que trai as amizades, hipócrita e infiel. Satírico, irónico e crítico de costumes, o Amigo da Onça aparece em diversas ocasiões desmascarando os seus interlocutores ou colocando-os nas mais embaraçosas situações.
Muitos foram os escritores de renome que glosaram tais situações originadas pela falsa amizade do “Amigo da Onça”. Ora vejamos: “ <Fracas> avisa o fidalgo, <as mulheres são o diabo …>. Eça, embora diga que não, concorda no íntimo. “Amélia, não vamos mais longe, é o diabo que tentou o Padre Amaro (<a devoção caía como uma vela a que falta o vento, e as tentações e4m bando apoderavam-se dele …>); Luísa a fraqueza da carne que cede ao Primo Basílio; a Rapariga Loura, a heroína ladra que esconde na beleza um diabo pecador. E a lista não terminaria. As Evas queirosianas têm muito que se lhes diga … Certo, torna a voz prudente de D. Francisco. <Mas a providência não perdoa. Está lá na Carta: Mulher honrada é boa vida e boa morte.> De facto, pois, de facto, Maria, traindo Pedro leva-o ao suicídio; a filha Eduarda, paga as leviandades da mãe com uma vida desregrada e, quando se recompõe, termina no incesto; Amélia morre depois do parto clandestino (Crime do Padre Amaro); a amante do Primo Basílio segue igual sorte … Não há dúvida o crime não compensa – e D. francisco Manuel de Melo há muito que o tinha escrito. Que crime? O do adultério, bem entendido. Adultério com Deus (Padre Amaro) ou com os cavaleiros da civilização que vêm das grandes europas para perturbar uma sociedade sonolenta, povoada de donzelas que leem romances. A mulher fraca, ou a mulher-tentação ou a mulher-pecado são criaturas destinadas a ceder à carne e ao diabo. Nesse sentido a Carta fora, de resto, mais que profética: <Há homens fáceis em mostrar a seus amigos a sua mulher. Assim, Pero da Maia, desconhecia o conselho? Pois bem, viu-se traído por um estrangeiro que hospedou em sua casa. Choen o, mesmo; ao receber João da Ega prepara a capitulação da própria esposa. D. Francisco Manuel avisa: <todo o casado no ausentar-se por longo tempo de sua casa, tenha muito tento.
José Cardoso Pires – Cartilha do Marialva
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