O IMPÉRIO DO HOJE
(..) Mas há um outro lado da moeda deste império. Quem vive para o hoje também ignora o amanhã. Não poupa nem planta. Só desfruta. Desresponsabiliza-se da preservação dos recursos naturais e deixa o planeta aquecer. Demite-se de transmitir valores e tradições aos que nos sucedem, no pressuposto do não vale a pena. Não tem paciência nem persistência. Não é capaz de diferir remunerações nem de as emprestar ao futuro. Quer tudo para si e já. Paradoxalmente, apesar de um discurso e de uma aparente prática de valorização das crianças e dos jovens, os escravos de hoje não são verdadeiramente solidários com as novas gerações. Se o fossem agiriam diferentemente.
Temos, por isso, perante nós um enorme desafio de cultivar a solidariedade intergeracional. De reforçar uma cadeia, onde tudo se liga e na qual somos responsáveis não só pela gestão do presente mas também por continuar o passado e viabilizar o futuro. A História não começou connosco nem tão-pouco irá acabar connosco. Por isso o império do hoje é mais uma armadilha a evitar.
Rui Marques