O FOGO QUE NÃO SE APAGA.
17 de Julho de 2017
“Quando mexemos uma peça há milhões de opções mas só uma é a jogada certa.” Não quero ser tão determinista como Bobby Fisher, o perturbado xadrezista americano que foi campeão do mundo e só seria derrotado pela paranóia e mania da perseguição. Mas de tantos milhões de palavras só uma me parece certa para começar este expresso curto: fogo. Ou então, inferno. Juro que preferia falar da vitória de Roger Federer, do regresso de A Guerra dos Tronos ou do europeu feminino de futebol que desta vez vai ter a participação de uma selecção portuguesa.
Dois dias depois de enviar a carta, Catarina recebeu um telefonema da Segurança Social de Leiria a garantir que se a seguradora não a ressarcisse, seria o Estado a pagar a despesa. O presidente da República ligou-lhe a partir do México a garantir que ele próprio trataria das despesas se o problema não se resolvesse. “Eu atrapalhei-me toda, chamei-o uma série de vezes de professor, e fiquei, mais uma vez, revoltada, porque este telefonema nunca deveria ter partido inicialmente dele.” Exemplar.
António Costa disse no fim-de-semana que é preciso “humildade” para “aprender com os erros” e a verdade é que o Governo tem-se esforçado por continuar a errar bastante. A comissão independente nomeada para perceber o muito que correu mal ainda não começou a trabalhar depois de um processo não lhe queria chamar surreal mas acho que não tenho outra opção - em que os partidos escolhem os seus representantes “independentes”, negoceiam e só depois se começa a trabalhar (neste caso ainda não se começou). A IGAI também ainda não começou qualquer inspecção ao que correu mal e a PJ e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera não se entendem sequer sobre a origem do fogo. Um raio invisível ou mão criminosa? Se não fosse trágico até podia ter piada. Indiferente, o inferno continua a arder: no Alijó as chamas obrigaram à evacuação de uma aldeia. Um helicóptero caiu e houve casas e pessoas em risco. Hoje de manhã o fogo ainda não tinha sido extinto. E, adivinhem, o Siresp, o sistema de comunicações que nos custa 40 milhões de euros por ano, voltou a falhar. Com grande humildade o Governo encomendou um estudo a um escritório de advogados para perceber se o contrato feito por um escritório de advogados não lesa os direitos do Estado. Ainda temos mais um mês e meio de verão e calor. Quem acredite, reze. Às vezes é a única opção para escapar ao inferno. |