MALES E BLOQUEIOS CULTURAIS
(…) “Mas se a história das nossas "dependências" económicas e culturais está feita, se porventura a definição e entendimento dos nossos males e bloqueios culturais está determinada, não deixa ainda de ser interessante que a voz de Fernando Ilharco engrosse essa corrente pelo esforço lúcido e inteligente de "repensar" a nossa identidade, mesmo com o risco de ser um "discurso" já conhecido, repisando outras posições e atitudes ideológicas que, no correr dos anos, se não tem calado ou silenciado na leitura crítica dos problemas da sociedade portuguesa. No entanto, em O Leme a Deriva, que agora relemos com o mesmo prazer, revela-se uma posição firme de compreender o que de facto mudou depois do 25 de Abril, se acaso mudou alguma coisa de essencial. É um esforço sociológico sensível e otimista, que analisa todas as nossas dependências e mitologias, das descobertas à emigração, da dependência económica de séculos até à tão apregoada "vaga de felicidade" trazida pelos ventos da comunidade europeia, das razões da história ou da brandura dos nossos próprios costumes, enfim da herança de uma consabida pobreza e dos diferentes mitos sebastiânicos e saudosistas de quem soube erguer e perder um vasto império. Mas se ainda fala com algum sentido otimismo dessa nossa "comunidade lusíada" nas páginas deste livro, Fernando Ilharco Morgado deseja sobretudo indicar o caminho que nos trouxe a este porto, quando de todo parece que perdemos o leme e à deriva prosseguimos no esforço da nossa afirmação histórica e cultural.” (…)
Serafim Ferreira
Crítico literário