HISTÓRIA DA METAFÍSICA
História da metafísica
No tratado de Aristóteles sobre metafísica, percebe-se certa ambiguidade quanto à delimitação do objecto da disciplina. Em certos trechos, ele afirma que o propósito da disciplina é investigar as causas primeiras de todas as coisas, em especial, de Deus como primeiro motor do universo. Nesse aspecto, a filosofia primeira ou metafísica seria uma das disciplinas compartimentalizadas - como a biologia, a psicologia e a física – com um campo de investigação próprio e objetos específicos. No entanto, em outros momentos, Aristóteles diz que a metafísica é a ciência do "ser enquanto ser", em outras palavras, seria a ciência que investiga a realidade em seus traços mais abrangentes e universais. Nessa concepção, a disciplina deixa de ser uma disciplina compartimentalizada, e passa a ser considerada como uma forma de investigação extremamente geral, cujo principal intuito é investigar os objetos em sua condição simples e fundamental de entidade. Segundo Aristóteles, uma das principais funções da filosofia primeira seria a de identificar as categorias a que as coisas pertencem e estabelecer as relações entre essas categorias. Por categorias, ele se referia a conceitos generalíssimos, tais como os de substância, unidade, identidade, etc. Acima das categorias, não é mais possível classificar uma entidade.
Essa dupla compreensão do que seria o objetivo da metafísica manteve-se durante a Idade Média. Os filósofos e teólogos medievais também consideravam como "metafísicas" tanto as investigações sobre a natureza de Deus e de suas relações com o mundo, como as pesquisas sobre as características mais abrangentes da realidade.
Uma alteração significativa ocorreu na Idade Moderna por obra dos filósofos racionalistas. Temas que para a tradição aristotélica seriam próprios de outros campos de pesquisa, foram reunidos pelos racionalistas sob o termo "metafísica": entre as novas frentes de investigação metafísica estariam a discussão sobre as relações entre a mente e o corpo e sobre as origens e fundamentos da realidade física. No quadro geral esboçado pelos racionalistas, a investigação do ser enquanto ser constituiria a chamada metafísica geral. Mas, além dessa abordagem generalíssima das características dos entes, os racionalistas inauguraram subdivisões na disciplina conforme os seus novos interesses e problemas. Desse modo, no âmbito da chamada metafísica especial teríamos as seguintes subdivisões: a teologia racional, que trata do Ser divino e de suas relações com os demais seres; a cosmologia racional, que trata dos princípios fundamentais da constituição do cosmos (a natureza da matéria, do vácuo, etc.); e a psicologia racional, que trata da substância espiritual e de suas relações com a matéria.