HAVIA PAIXÃO
As vezes que Nuno conseguia ver a Rita, iam aumentando. Talvez os dois fizessem por isso. Ela sabia que aquele jovem de quem nem sequer sabia o nome, vinha ali todos os dias para a ver. Nuno não acreditava que o aparecimento dela no varandim fosse um simples acaso. Procurando vê-lo sem qualquer disfarce, olhando-o com tanto carinho, não poderia ser um acto fortuito. Muito menos uma brincadeira da sua parte. Claro que os olhos do Nuno não viam somente a Rita, viam também que as águas do rio já não eram barrentas. Eram cada vez mais límpidas. Quase à superfície, apareciam peixes a nadar vencendo a corrente. A ramagem dos salgueiros deslizava na face das águas correntes. Os adeptos da pesca à linha, das terras vizinhas, estavam de volta.
Os outros, os profissionais também. Era vê-los remando e estendendo as redes nos seus barcos pretos, em forma de meia-lua. Vários aprestos de pesca como “covos”, “tarrafas”, etc., completavam a faina dos pescadores do rio. A venda deste peixe era feita nas terras envolventes, desprovidas de abastecimento de peixe do alto-mar.
Do lado agrícola, não tardaria que os trabalhadores especialistas, comecem a sua tarefa na poda das árvores e vinhedos. Manadas de bois puxam os arados na preparação das terras para as sementeiras, enquanto dezenas de alvéolas, de pernas finitas e cauda comprida e basculante, depenicam os vermes trazidos à superfície. As trepadeiras que cobriam as extensas paredes do palácio, não tardarão a florir. No verão, serão o esconderijo e dormitório de toda a espécie de passarada. O palácio pela sua beleza e arquitectura é considerado património nacional e a sua construção remonta a tempos desconhecidos. Incorporada no palácio existe uma linda capela com ricos vitrais.