ESTENDER A PASSADEIRA
Confesso que é uma expressão que causa, certamente, calafrios a qualquer pessoa de bem. Num mundo em que vivemos, no qual a condição humana é tão perene, serão muito poucos aqueles que poderão merecer que se lhes estenda a passadeira. E esses, se fosse o caso, seriam exactamente eles próprios, os primeiros a recusar tal honraria!
Uma passadeira estendida, só para o criador deste universo fabuloso em que vivemos.
Claro, que não penso ser merecida tal honraria, para aquele Presidente de Junta que mandou pintar uma passadeira de peões, mesmo à sua porta! Ou que sejam necessárias tantas passadeiras de peões, como já se viram pintadas nas ruas de um pequeno bairro da minha terra!
Todavia, se pensarmos num acto heróico de alguém que pôs em risco a sua própria vida para salvar quem nem conhecia, neste alto serviço público já o caso muda muito de figura, deveremos obrigatoriamente estender a passadeira, de preferência vermelha.
Na freguesia de Queijas, por exemplo, temos uma instituição sediada em Linda – a – Pastora com largo prestigio internacional, e que muito nos honra. Oficialmente designa-se por Congregação das Irmãs Hospitaleiras da Imaculada Conceição, quem as conhece integra-as na Obra Social Madre Maria Clara. Existem desde 1871 e fixaram-se em Linda - a - Pastora por volta de 1990. Prestaram e prestam um apoio quase invisível mas, sem o qual, muita gente passaria por grandes dificuldades.
Madre Maria Clara do Menino Jesus (1843-1899) sempre impelida pela mesma ânsia de a todos socorrer, enviou as suas Irmãs a Angola, em 1883, à Índia em 1886, à Guiné e a Cabo Verde, em 1893 e nunca mais parou. Nos sete bairros de barracas na ex- Freguesia de Queijas, animaram, acarinharam e deram todo o seu apoio àquela gente toda que vivia em barracas e dormia no chão!
Sob o lema " Onde houver o bem a fazer, que se faça ", a obra da Congregação é muito vasta e a partir da antiga Quinta de Cesário Verde, em Linda - a – Pastora, são hoje geridas obras espalhadas pelo mundo fora: Pontevedra, Roma, Bombay, Margão-Goa, Philippines, Salvador da Baía etc.
A fundadora desta “ Obra “ tem, merecidamente, uma estátua em Queijas e a sua instituição é igualmente merecedora que se lhe estenda a passadeira vermelha.
Parece-me, por isso, de elementar justiça que na frente da sua entrada principal seja recolocada uma passadeira de peões ( já lá esteve) de modo a tornar mais fácil a vida destas Irmãs que diariamente se deslocam às paragens dos transportes públicos, muitas vezes para irem ajudar quem necessita.
Ao contrário dos nossos políticos, não têm bons carros de serviço, nem reformas douradas. Andam a pé e vivem modestamente como toda a gente.
Aos autarcas, exige-se uma política de proximidade, sempre atenta, a quem presta grandes serviços públicos, as mais das vezes a troco de pouco ou nada. Muitas vezes até, a troco de difamações repelentes e nojentas!
António Reis Luz