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O ENTARDECER

O ENTARDECER

ENGOLIR EM SECO

 

Os portugueses parecem ter uma relação estranha com a democracia. Andam muito desconfiados. São republicanos, democratas radicais e parecem envergonhar-se do regime monárquico que os governou oitocentos anos. Parecem querer ignorar o esplendor que Portugal atingiu no mundo inteiro, nesse período !

Por outro lado, olham para os políticos eleitos por nós, empoleirados em Lisboa ou bem instalados nos edifícios públicos de todo o país, e sentem - se constrangidos e mal, mesmo muito mal, representados.

 

Aqui mora o estranho dessa relação: para a maioria dos cidadãos, aquelas caras são os seus representantes legítimos. Será verdade? Perguntam surpreendidos?

Porém, sentem por eles, quase sempre, um sentimento que abarca desprezo e repúdio, raiva e indiferença, asco e desconfiança. Se quiserem, ainda, muito mais do que isto!   Sem exagero, sentem desdém!

Vivemos longos anos debaixo de uma ditadura instalada. A grande maioria habituou-se! Até achava que não era mau de todo. Só que os interesses das grandes potências exerciam sobre Portugal e as riquezas das suas colónias, uma feroz pressão. Lá, Portugal tinha de tudo! Petróleo, ouro, minérios, madeiras etc.,  e o respeito dos indígenas!

Eram tudo coisas muito apetecíveis.

Então, aliciados alguns promissores democratas (?) internos, a máquina de propaganda internacional enchia os ouvidos do povo com as qualidades supremas da democracia! Prometer mais e melhor é fácil e resulta. Hoje continua assim! Naquela época já se olhava para S.Bento e tínhamos vontade de chorar. Mas tínhamos um álibi: a maioria daquelas figuras estava lá contra a nossa vontade.

As instituições foram minadas, a credibilidade governativa também e o império foi caindo.

 

O regime do continente também caiu, e veio o grito de liberdade!

 

Veio a liberdade e com ela o assalto ao poder pelos menos preparados em todos os sentidos. A herança “fascista” encheu muita gente que nunca tinha querido trabalhar. Muitos outros tiveram de fugir, os que gostavam e sabiam trabalhar. Decorridos mais de trinta anos e entrados no século XXI, após a necessária democratização, boa parte da sociedade portuguesa continua com um travo amargo na boca ao olhar para os políticos. É como se tivéssemos um corpo estranho na alma!

 

Só que, agora, não temos que engolir em seco: fomos nós que os pusemos lá!

 

Será assim? É melhor nem saber. Mas que somos os verdadeiros responsáveis por toda esta bandalheira, pela falta de carácter e de vergonha, pelas patetices e pelas mesquinhices que eles perpetram. Nisso estamos todos de acordo.

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