As Relações Humanas
As relações humanas vividas na “Quinta da Cardiga” eram seguramente diferentes de qualquer outra realidade. O relacionamento entre a já larga família proprietária da Quinta e os trabalhadores e suas famílias, eram não só de respeito mútuo, mas também, de estima e saudável entreajuda. A palavra solidariedade tem aqui perfeita aplicação. Em situações difíceis ou mais complicadas os donos da Quinta davam o seu apoio a qualquer pessoa. No sentida inverso os moradores sentiam, como seu, todo e qualquer infortúnio que atingisse a família que lhes assegurava emprego e apoio social e humano.
A figura do “ Feitor ” no desempenho das suas funções emanava calma, serenidade e respeito. Normalmente eram homens de poucas falas, menos risos, mas credores da simpatia de todos os meios sociais envolventes e de todos que na Quinta ganhavam o seu sustento. Contando com as famílias a comunidade residente rondaria o meio milhar de pessoas. Alguns empregados, os que assumiam maiores responsabilidades, vivam junto ao palácio. Umas doze famílias. Os outros, com emprego fixo, viviam num lugar muito próximo chamado de São Caetano.
A grande força de trabalho era, de algum modo, flutuante e residia nas aldeias e lugarejos das redondezas. Ninguém recorda conflitos ou grande azedume entre os habituais moradores na Quinta ou mesmo no lugar de São Caetano.
Problemas graves de saúde, ou mesmo falecimentos, eram casos que só de muito em muito longe aconteciam, mas que todos sentiam como seus. Neste lugar não podia haver indiferença, a solidariedade estava sempre presente. O contacto com a natureza incutia em toda a gente franqueza , lealdade e um forte sentimento de respeito para com o próximo .
Na escola da Quinta os alunos eram poucos e a brincadeira dos recreios fazia-se na estrada e nos olivais em redor. O exame ou a prova, como na altura se dizia, tinha que ser feita na Sede de Concelho que ficava a uns cinco quilómetros de distância. Para o efeito a Quinta punha à disposição um carro puxado a cavalos. Nele seguiam a professora e os alunos.
Muito poucas eram as crianças que podiam continuar para além da 4ª. Classe, como de resto acontecia por todo o país.