AS MIGAS DA AUSTERIDADE
Lá diz o ditado; “Quem se deita sem ceia toda a noite esperneia."
Os pobres tiveram de garantir que a sua alimentação pudesse promover-lhes uma noite bem dormida, sem a carteira vazia, nem o estômago cheio.
As migas foram a aposta segura. Derivarão do verbo migar que genericamente significa desfazer em migalhas ou esfarelar pão para o caldo.
A tradição de fazer migas com peixe e designadamente de bacalhau, deveu-se ao baixo preço que este gadídeo tinha. Acresce as regras religiosas que desde a Idade Média até ao século XVIII obrigavam a comer peixe em cerca de cento e trinta dias por ano.
Como podemos então caracterizar as migas? São um produto culinário elaborado a partir de pão ensopado e depois, terminada a sua coinfecção, com uma gordura envolvente em processo de ligeira secagem.
As migas são definidas como pão seco, esmigalhado, ensopado em água ou leite e depois frito em azeite, toucinho ou manteiga. Se lhe é acrescentada carne ou outro elemento as migas chamam-se ilustradas. As migas em Portugal são mais populares e variadas que em Espanha.
Mas como terão nascido as migas? O que as separa das açordas? À primeira vista parece a forma de finalizar as migas, envolvendo-as na gordura. Mas, a sua origem? Possivelmente só nos aparecem depois das açordas e como consequência destas. As migas podem também aparecer-nos como um prato de recurso pela necessidade de não desperdiçar pão. São as migas, possivelmente, um elemento da alimentação mais pobre e que o engenho transformou num prato/guarnição de elite apenas reconhecido a partir do século XX.