AS ASSOCIAÇÕES
Como se tem dito as associações integram as comunidades onde se inserem e nasceram para dar respostas às dificuldades existentes, alicerçando-se em valores que têm a ver com: solidariedade / fraternidade; independência / autonomia; democracia / cidadania e trabalho voluntário.
A evolução do Movimento Associativo Popular está intrinsecamente ligada à evolução sociopolítica da própria sociedade portuguesa, pelo que as rupturas políticas influenciam sobremaneira a vida das colectividades, clubes e outras associações. Assim, podemos referir os seguintes período: Monarquia Constitucional, 1.ª República, Revolta de 28 de Maio de 1926 / Estado Novo e 25 de Abril de 1974.
Na segunda metade do século XIX, especialmente no período da regeneração, verificou-se um importante entusiasmo na constituição de associações de vários tipos: associações de instrução e recreio; associações de classe; associações de bombeiros; cooperativas, etc.
Para dar conta da importância do associativismo nessa época, transcrevemos: “Em 1856-1857, o que valeu aos portugueses para não serem dizimados pela febre-amarela foram as 85 Mutualidades Autónomas de Assistência Social, que haviam de crescer para 586 até 1903.”
Na 1.ª República (1910 / 1926) as associações colaboraram de forma importante na instrução que era desígnio nacional, como se pode ler: “… A criação desta escola insere-se num movimento de desenvolvimento da educação popular, ligado a meios operários que esteve na origem de inúmeras escolas primárias criadas por organizações populares e sindicalistas.”
O Estado Novo, instituído pela Constituição de 1933, promulgada a 11 de Abril, tendo como base o “nacionalismo corporativo”. “Nacionalismo porque “estão subordinadas aos supremos objectivos da nação, com os seus interesses próprios, todas as pessoas singulares e colectivas que são elementos constitutivos do seu organismo” (O. Salazar). E a forma de estruturar política e harmoniosamente tal sujeição dos interesses atomizados ao interesse nacional seria a construção do “Estado social e corporativo em estreita correspondência com a constituição natural da sociedade”4, condicionou toda a sociedade portuguesa e concomitantemente o Movimento Associativo Popular.
Desde logo a dificuldade de relacionamento do Governo com a recentemente constituída Federação Distrital das Sociedades Populares de Educação e Recreio, a 31 de Maio de 1924, conforme pudemos ler: “Em 8 de Maio de 1932, comemora-se o Dia das Sociedades de Recreio mas, dado que “as principais entidades oficiais (…) em absoluto continuavam a desconhecer a acção das Sociedades de Recreio” e “ Já nos primeiros meses de institucionalização do regime corporativo, em Abril de 1934, a Federação ensaia de novo um diálogo com o Poder contornando uma vez mais os contactos com o governo através de um convite ao Presidente da República… Carmona acede mas, “por motivos oficiais”, informa não poder comparecer…”5
Dado que as iniciativas de aproveitamento dos tempos livres dos trabalhadores permaneciam totalmente entregues ao associativismo espontâneo e privado, o Governo criou a FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho), que no seu artigo 2.º reza: “A F.N.A.T. tem por fim aproveitar o tempo livre dos trabalhadores portugueses de forma a assegurar-lhes o maior desenvolvimento físico e a elevação do seu nível intelectual e moral.”
Apesar desta tentativa de subordinar os trabalhadores “…inscritos nos Sindicatos Nacionais e nas Casas do Povo e suas famílias…” (artigo 3.º do mesmo estatuto), o Movimento Associativo Popular continuou o seu caminho, obviamente com mais escolhos, dado que tudo tinha de merecer a homologação do Governo, nomeadamente os dirigentes das associações, eleitos em Assembleias-Gerais de associados, a forma suprema de democracia que se manteve mesmo em condições extremamente adversas. São muitos os exemplos de atropelos, pelo Poder de então, a este valor essencial do nosso associativismo, pelo que nos dispensamos de os enunciar.