A “VIRGEM OFENDIDA”
Não confundir nunca pura maldade com traição. Por vezes andam juntas, mas podem andar sozinhas. A maléfica vai mais longe, invoca Lúcifer, fala com corvos, enfeitiça reinos e belas herdeiras... Mas qual é a verdadeira razão de tanto trabalho? Merece a pena condenar um bebé à morte só porque não se foi convidado para o seu baptizado? A verdadeira razão é encontrar e juntar-se com a traição.
Não é o tormento de saber que “queria, mas não queria”, mas agora já quer. Ela sabe que ataca quem a ajudou e que, depois, se submete aqueles que transportam em si, o signo de mandar nos outros. Sem direito a renúncia!
É uma pena que a vilã mais requintada de toda a TRAMA seja a menos sofisticada.
Toda a cabra que se preze sabe que a vingança é um excelente motivo para cometer actos pérfidos, horrendos, reprováveis e malcheirosos. Toda a cabra que se preze sabe também da importância de mandar nas vozes que tantas vezes fazem eco nas cabeças mais despenteadas. Porque “ o ataque sórdido” não é (só) maluqueira, a nossa “Virgem” teria dado uma excelente cabra se não fosse precisamente isso, doida. É doida mas não VIRGEM, PORQUE AMANHÃ VOLTA A PECAR. Tantas vezes quantas forem precisas.
A VIRGEM que vimos despertar do nada tem maldade, sede de vingança, é invejosa, mentirosa, retorcida, silenciosa e conhecedora dos medos angelicais que disfarça. É uma cabra de livro? O problema é que não é dela este ódio sobrenatural. A verdadeira cabra deste filme não está morta e chama-se ASSALTO. A URDIDURA não passa de um fantoche tresloucado, de uma pobre velha histérica perseguida por um fantasma que a domina, que se lhe mete na cama e lhe molha os sonhos. É o monstro que traz no corpo, a ofensa. É o ataque a quem é competente, honesto, amigo, transparente e se endireita com os monstros da escuridão. A nossa VIRGEM OFENDIDA sabe de tudo isto e mais ainda, mas tem de obedecer a Lúcifer. Tem de trair os justos, porque se não, nunca haverá lugar para ela no reino da podridão.
António Reis Luz