A QUADRATURA DO CÍRCULO
(A propósito de um comentário de António Costa no programa Quadratura do Círculo)
“A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil”
Com o pressuposto de que Portugal (e outros países da UE, como a Grécia) iriam aproveitar os fundos, modernizarem-se, subir na cadeia de valor. Mas não foi isso que aconteceu.
O que aconteceu foi que continuámos a pescar, a agriculturar e a textilar, com uma agravante: em menos quantidade e volume. Os dinheiros entretanto foram usados para fazer Expo’s, estádios de futebol e outros. Assim de repente lembro-me das fraudes com os dinheiros para formação. ( … )
Alguém se esqueceu de nos avisar que obter dinbeiro emprestado implicava pagar juros. E que esses juros são impostos encapotados. Só que ficam debaixo do tapete. Empurra-se com a barriga. Lá mais para a frente há outros que vão pagar a factura. Calhou-nos agora a sorte.
“Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público – privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos… Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos. Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise.”
Não me vou repetir sobre por quem é a classe política que devia pagar pelos erros. Mas vou dar um exemplo caricato da mesma.
“Eh, pá, isto dava jeito gastar umas massas para ajudar a Economia”, disse o Ministro da Economia Pina Moura. “Mas é uma merda, vou ter de pedir autorização ao Ministro das Finanças”, concluiu. Mas subitamente fez-se luz: “Mas pera lá!!! Eu sou o Ministro das Finanças! AAAWWWWWWYYYYYYEEEEEEAAAAHHH! Spend all the money!!”.
Um tipo que foi comunista, depois socialista e agora é capitalista. Um tipo que tem a lata de vir dizer para a televisão que os problemas que estamos a passar deviam ter sido resolvidos há 10 anos ou 15 anos atrás. Quando ele, o próprio artista da rádio-cassette-tv-e-disco estava no Governo. Como Ministro da ECONOMIA *E* das FINANÇAS.
“Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia.”
A austeridade não é uma condenação, é uma necessidade. Permanente, diria eu, uma vez que significa rigor e parcimónia coisa que não acontece com o uso dos dinheiros públicos. Quanto ao assalto fiscal não há nada a fazer. Uns assaltantes não quiseram fazer barulho e deixaram para trás uma bomba relógio. Que explode agora nos assaltantes que se seguiram.
NOTA: tenho o maior respeito por António Costa como pessoa, pelas poucas vezes com quem interagi. Como socialista é dos que me causa menos alergia por ser dos mais razoáveis e racionais. O discurso em causa, no entanto, é completamente errado, populista e demagógico.