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O ENTARDECER

O ENTARDECER

A PARTIR DA CASA DO SABER

 

Visionamento do mundo em 2020

Estás bem sentada? Precisas de muita coragem! O mundo que eu visionei no ano 2020, está ingovernável! Incontrolável. Insubmisso. O futuro em 2020 é caótico!

Dezassete anos depois desse visionamento, o mundo é um território tomado pela insegurança e pela desordem! Vive-se num caos global! Parece que ninguém manda, parece que todos são livres, mas, é uma liberdade sem lei e sem ordem, é um total caos. Não há fronteiras, não há polícia, nem esquadras, nem juízes onde ir denunciar os roubos e as tropelias, de toda a ordem, que sofre um cidadão qualquer. Também não há bancos, nem cheques, nem cartões de crédito, nem hospitais, nem transportes ou igrejas a funcionar. Não funcionam ministérios, nem registos públicos, nem correios, nem telefones. Os funerais são realizados, na íntegra, pela família e amigos, quando os há! Há voluntários a abrir valas comuns, para onde os sem-abrigo e sem amigos, são despejados! Existe um ativo comércio de rua onde só dinheiro vivo, tem aceitação. Tudo, o mais, se processa no comércio de troca na rua. Os preços todos os dias sobem, sem critério. Assim, temos uma amostra da situação catastrófica que se vive por todo o lado. Há de facto liberdade de cada um fazer o que lhe apetecer, mas o resultado é uma incaracterística liberdade, que faz as pessoas sentirem-se aterradas e desamparadas. É normal ver toda a gente receosa e com a alma encolhida, caminhando nas ruas apinhadas e sem ninguém comunicar com ninguém! Por todo o lado aparecem locais, edifícios e outras instalações, literalmente saqueadas. Quem são os saqueadores? Gente que tudo perdeu. A começar pelo seu emprego. O vandalismo é normal e já nem causa revolta! Está generalizado. A primeira reação perante o despertar desta situação, foi cavalgada pelo ódio contra os aparentes causadores de tudo isto. Datam daí as brutais destruições. Tudo foi destruído num ápice, até as fábricas onde trabalhavam, mas, que já não davam pão! Ainda se compreende que tenham roubado comida, vestuário ou tudo aquilo que pudesse ser usado ou vendido. Mas não se compreende que tivessem destruído as máquinas e as fábricas, as creches e as escolas! Qual a explicação para tudo isto?

Sem policiamento, mesmo com trânsito diminuto, como não haveria de haver buzinadelas e engarrafamentos? Um pandemónio diário! Cada condutor marcha por onde lhe apetece, a circulação rodoviária só melhora porque o número de viaturas vai diminuindo, em consequência dos acidentes e da falta de combustível e assistência. Mesmo nesta confusão, ainda vai aparecendo quem de apito na boca, se arme em polícia sinaleiro! Em muitos bairros, as pessoas angustiadas pela permanente insegurança, organizam-se em grupos de vigilância. Também o fazem para a limpeza do lixo acumulado. Tudo o que possa arder é queimado e os voluntários vão-se aquecendo. O mau cheiro chega a ser pestilento. As maiores dificuldades de que sofrem as populações mundiais, são a falta de luz e água potável. O “precioso líquido”, só corre nas torneiras duas horas por dia. Os poços secaram, ou então, a sua água está poluída. A falta de água corrente, está já a provocar um impacto negativo na saúde das populações, principalmente nas crianças. De acordo com a Unicef, nos últimos anos, o número de casos de crianças com diarreia, aumentou significativamente e multiplicam-se os casos de malnutrição. Os ataques às condutas de água ainda operacionais, são constantes para a sua captação oportunista. É a guerra contra a sede. Os campos estão por cultivar e em total abandono! Os apagões são constantes e chegam a durar dias. Nestes casos, as pessoas ficam sem defesa contra o frio e cozinhar! Torna-se impossível cozinhar e tomar banho! Em noites muito quentes as pessoas vêm para rua procurar uma réstia de fresco. Chegam a trazer os seus colchões e dormir ao relento. As ruas e as estradas estão completamente esburacadas. Não há matéria-prima para reconstruí-las. Nem tecnologia! As redes de transportes públicos deixaram de funcionar com regularidade, passam quando passam. Os autocarros vão encostando, por falta de tudo. A Agricultura atingiu os níveis mais baixos de sempre. Nos mercados as bancas estão quase vazias. Os pomares e hortas, com alguma coisa que apanhar, são assaltados e vandalizados. Aos poucos vão-se tornando em matagal. As cidades, aos poucos vão perdendo habitantes e ficando desertas. Muitas pessoas e muitas famílias, preferem o regresso aos campos, Onde ainda possuem uma casa de família e lhe resta algum respeito e ordem. Não há, por falta de condições naturais, meios de procurar um emprego. Ninguém se arrisca a investir e, desse modo. os desempregados vagueiam pelas ruas. O mundo regrediu aos seus piores tempos. Arrastado pela escassez de tudo, mas principalmente de água potável e combustível. Os avisos das Nações Unidas não foram escutados em tempo útil. Os países ricos foram-se defendendo da crise, com dinheiro para obtenção de petróleo e matérias-primas, foram aumentando os preços dos produtos transformados, cobrando neles a crescente subida da energia, já fora do alcance da grande maioria dos países. Sucumbiram, uns atrás dos outros. Por último, ia deixando de haver compradores. O impacto da crise espalhou-se pelo mundo inteiro. Os países que tinham oferecido luta à crise, também acabaram por cair. A crise quando nasce é para todos. A sociedade civil foi outra coisa a desaparecer. Os hospitais acabaram por fechar, por falta de medicamentos e outros materiais necessários. Também por falta de electricidade e água. Operar nestas condições era uma lotaria, e de resto já não havia pagamento de vencimentos e muitos médicos receavam os assaltos permanentes! O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), a Unicef e o Programa Alimentar Mundial (PAM), estão paralisados. As organizações humanitárias internacionais perderam toda a possibilidade de uma actuação mínima, por falta de meios e alguma ordem mundial. Multiplicaram-se as organizações de malfeitores. As organizações terroristas, que lutam sempre contra o poder, desapareceram gradualmente. Não havia poder ou, era incipiente. As populações mundiais deixaram de dar qualquer crédito aos actos eleitorais, nos poucos que persistissem na sua realização. Os partidos políticos foram das primeiras coisas a desaparecer. Tinham tido um largo quinhão nesta miséria! Extinguiram-se, pura e simplesmente. A democracia em tais circunstâncias, deixou de fazer sentido. Aliás, talvez nunca tivesse feito! Sempre foi um logro para os humildes. Agora havia pessoas nalguns cargos por nomeação de políticos, que se iam arrastando nos lugares. Nomeações para amigos, como, aliás, também aconteciam na velha democracia.

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