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O ENTARDECER

O ENTARDECER

A GERAÇÃO DE OURO

 

Qual é, e que idade tem a Geração de Ouro do nosso País?

 

Bem, deixa-me pensar um momento... entretanto lembrei - me do “mail” que

o meu amigo me enviou e da pergunta do neto para o avô. Tive de relê – lo ;

 

Nasci antes da televisão, e já crescidinho ela apareceu, com um único canal e a

preto e branco.

 

Nasci antes das vacinas contra a poliomielite, das comidas congeladas, da

fotocopiadora, das lentes de contacto e da pílula anticoncepcional....

 

Não existiam os radares, os cartões de crédito, o raio laser nem os patins .

on - line.

 

Não se tinha inventado o ar condicionado, as máquinas de lavar e secar, (as

roupas secavam ao vento) e frigoríficos quase ninguém tinha.

 

O homem ainda nem tinha chegado à lua.

 

Os meus avós e eu casámos e só depois vivemos juntos e em cada família

havia um pai e uma mãe.

 

"Gay" era uma palavra inglesa que significava uma pessoa contente,

alegre e divertida, não homossexual.

 

Das lésbicas, nunca tínhamos ouvido falar e os rapazes não usavam Piercings .

 

Nasci antes das duplas carreiras universitárias e das terapias de grupo.

 

Não havia computador, Comunicávamos através de cartas, postais e telegramas.

 

Mails, chats e Messenger, não existiam. Computadores portáteis ou

Internet nem  em sonhos...

 

Estudávamos só por livros e consultávamos enciclopédias e dicionários.

 

As pessoas não eram medicadas, a menos que os médicos pedissem um  exame

de sangue.

 

Chamava-se a cada polícia e a cada homem "senhor" e a cada mulher "senhora".

 

Nos meus tempos a virgindade não produzia cancro.

 

As nossas vidas eram governadas pelos 10 mandamentos e bom juízo.

 

Ensinaram-nos a diferencear o bem do mal e a ser responsáveis pelos nossos actos.

 

Acreditávamos que "comida rápida" era o que comíamos quando estávamos com

pressa.

 

Ter um bom relacionamento, queria dizer dar-se bem com os primos e

amigos.

 

Tempo compartilhado, significava que a família compartilhava as

férias juntos.

 

Ninguém conhecia telefones sem fios e muito menos os telemóveis.

 

Nunca tínhamos ouvido falar de música estereofónica, rádios FM,

Fitas, cassetes etc ....

CDs, DVDs, máquinas de escrever eléctricas, calculadoras (nem as mecânicas

quanto mais as portáteis).

 

"Notebook" era um livro de anotações.

 

"Ficar" dizia-se quando pessoas ficavam juntas como bons amigos.

 

Aos relógios dava-se corda todos os dias, mesmo aos de pulso.

 

Não existia nada digital, nem os relógios nem os indicadores com números

luminosos dos marcadores de jogos, nem as máquinas.

 

Falando de máquinas, não existiam as cafeteiras eléctricas, ferros

de passar eléctricos, os fornos microondas nem os rádios-relógios

despertadores. Para não falar dos vídeos ou VHF, ou das máquinas

de filmar minúsculas de hoje...

 

As fotos não eram instantâneas e nem coloridas. Eram a branco e preto

e a sua revelação demorava mais de três dias. As de cores não existiam

e quando apareceram, a sua revelação era muito cara e demorada.

 

Se nos artigos lêssemos "Made in Japan", não se considerava de má

qualidade e não existia" Made in Korea", nem "Made in Taiwan",

nem "Made in China".

 

Não se falava de "Pizza Hut" ou "McDonald's", nem de café instantâneo.

 

Havia casas onde se compravam coisas por 5 e 10 centavos. Os

sorvetes, os bilhetes de autocarros e os refrigerantes, que se chamavam

pirolitos, tudo custava 10 centavos.

 

Cem escudos dizia-se: "cem mil reis".

 

No meu tempo, "erva" era algo que se cortava e não se fumava.

 

"Hardware" era uma ferramenta e "software" não existia.

 

Vimos aparecer milhares de outras coisas, nunca vistas. Vimos cada uma delas evoluir, não parar de evoluir. Habituámo-nos a aceitar que tudo muda, nem sempre para melhor, mas só pode evoluir na continuidade e com muito suor. Recusaríamos deixar para trás os mais velhos, a vida só pode existir com eles. Sempre com eles, se alguém está a mais são os mais novos que se licenciam sem saber escrever correctamente na sua própria língua! A culpa não é só deles . É da geração revolucionária.

 

Quando ouvimos falar de trapalhadas começámos a ficar perplexos e, mais ainda ficámos, quando mais à frente as mesmas coisas passaram a ser tratadas de enganos.

 

Fomos a última geração que acreditou que uma senhora precisava de um

marido para ter um filho.

Somos a geração que nasceu nos anos trinta e nos anos quarenta do século passado e que começou a trabalhar respectivamente nos anos cinquenta e sessenta, sempre antes de ir às “sortes” como se dizia então.

Apanhámos toda a evolução atrás referida e sem ter tido condições de ir para a universidade ou mesmo ao secundário, fora ou dentro do país. Mas, nos anos em que estudámos aprendemos muito, se lhe juntarmos a experiência adquirida,  em valor relativo temos uma licenciatura e em civismo um doutoramento licenciado.

Não nos manifestámos contra as propinas, embora tivéssemos pago os estudos a muitos alunos e a tudo nos adaptámos. Aprendemos a arranjar e a trabalhar tudo que havia, computadores, televisões, máquinas de lavar, frigoríficos, automóveis, aviões etc., tudo aquilo ( milhares de coisas) que Portugal nunca tinha visto e que em meia dúzia de anos nos invadiram.

Devemos ter sido a última geração a ter ouvido alguém dizer para se :

“  Produzir e Poupar”.

As seguintes foram incentivadas a recorrer ao crédito até atingirem o endividamento que é hoje dos mais elevados e escandalosos do mundo! Alguns acreditaram depois da revolução dos cravos que o consumismo trazia a abastança ao país. Mesmo sem produzir !

Tivemos uma alimentação deficiente e ainda ouvimos falar de “ uma sardinha  para três”. Não tivemos médicos, nem professores, nem tudo aquilo que agora se esbanja para apresentar indicadores de gente rica.

Os professores, os médicos, os juizes etc. , que havia, não pensavam nos interesses de classe. Pensavam no serviço público que muito os honrava.

Saímos de casa dos pais cedo, muito cedo, às vezes para muito longe e muitas outras vezes para nunca mais voltar. Roíam as saudades, mas era preciso poupar para enviar “dinheiro” que assegurasse algum sustento aos país já velhinhos e ajudasse a equilibrar as finanças da mãe pátria, já que ela não nos tinha podido ajudar.

Sempre com Portugal no coração, mesmo sem dinheiro para vir de férias, íamos mandando para cá o pouco que sobrava, ou fazíamos sobrar, apertando o cinto. Soubemos mais tarde que era esse pouco de cada um e o muito porque éramos muitos, que ia permitindo ao nosso país manter uns senhores doutores a ganhar bem e a dizer que a culpa do estado do país era nosso, porque não tínhamos estudos! Não há melhor universidade que a vida! Os maiores empresários portugueses e do mundo não tinham cursado, mas Deus deu-lhes o dom de saberem reproduzir a riqueza!

Íamos mantendo um país que comia muito mais do que aquilo que produzia e assim desequilibrava, anos a fio, a sua balança de pagamentos e as contas do Estado.

Fizemo-nos empresários espalhados pelo mundo e fomos admirados e respeitados pelo comportamento cívico que soubemos ter . Os nossos filhos respeitaram-nos.

Nós que aguentámos tantas guerras, como a da Guiné, de Angola, de Timor, de Moçambique, da Índia etc. Quantos de nós lá morreram? Quantos ficaram feridos para sempre ? Quantos perderam o sossego e ganharam noites de insónias sem fim ?

Quantos vimos desaparecer do conceito de pátria que nos tinham ensinado, partes de Portugal como Goa, Damão e Dio, Macau, Timor, Angola etc. Nós até sabíamos que esses povos supostamente independentes iriam passar um longo calvário e que, no fundo, se consideravam também portugueses, porque nos bancos da escola foi isso que aprenderam.

Quantos anos temos é o que menos importa, pois, o que mais importa é que temos uma experiência de vida nunca antes alcançada por outra geração anterior ou posterior. Polivalentes, experientes e com uma alma de “ antes quebrar que torcer”.

Pela experiência de vida que temos, vivemos muitos mais anos que a média de esperança de vida referida nas estatísticas oficiais, mesmo sem os vivermos.

Nós que do pouco que ganhávamos sempre descontámos para na velhice termos uma reforma e que vemos agora uns senhores doutores reduzirem - na e porem em perigo aquilo que nós honestamente conquistámos. Eles que arrecadam reformas chorudas em 4 ou 5 anos de pouco ou nulo trabalho.

Eles que acumulam erros graves na governação do país a todos os níveis, não os assumem, nem há quem os faça assumir. Erros que somos nós a geração de ouro que paga em sacrifícios e muito sofrimento.

Os mesmos senhores doutores que nos atiraram para reformas antecipadas que não queríamos. Nós sempre quisemos trabalhar até poder. Quiseram dar o nosso lugar a jovens que dizem ter cursos superiores, mas na realidade pouco sabe e por essa razão o país está e continuará a estar, como todo o mundo sabe. Sempre a pedir cada vez mais sacrifícios.

Os donos das tais universidades que leccionam cursos sobre tudo e sobre nada, têm os bolsos cheios. Pela sua influência atiraram e continuam a atirar trabalhadores honestos e competentes para a pré-reforma para o negócio continuar a render e qualquer dia somos como o Brasil onde todos são “doutores” e as favelas proliferam num país rico!

É preciso arranjar trabalho para tanto licenciado desempregado e a segurança social já não tem fundos para suportar maios trabalhadores na pré-reforma. Agora é preciso reduzir centenas e centenas de cursos sobre nada e encaixar nas autarquias milhares de licenciados que a actividade privada não precisa nem quer! Lá vão mais uns milhões em subsídios para colocar licenciados.

Entretanto recebemos milhares de emigrantes porque os portugueses não sabem ou não querem arranjar torneiras, televisões, barcos etc. Os alunos das estatísticas nacionais sabem de tudo e não sabem de nada. O mercado de trabalho não os quer! Também eles não têm culpa, hoje já nem podem empregar-se na função pública de onde terão que sair muitos milhares de trabalhadores considerados excedentários. Saem por um lado e entram por outro ( licenciados estagiários) !

A Geração de Ouro não pertence às que se lhe seguiram e a quem disseram que o 25 de Abril lhes daria tudo, mesmo sem trabalharem e, disso, muito se orgulha.

As outras gerações também não têm culpa, são igualmente vitimas. A culpa será dos poderes de decisão deste país estejam eles onde estiverem.

Em 2006 o Desemprego e as Dívidas levam os portugueses a continuar a procurar melhor sorte noutros países.

O Instituto Nacional de Estatística ( INE ) diz que, em 2006, 30 mil portugueses fixaram residência por mais de um ano noutros países, mas a Igreja católica e os sindicatos dizem que, neste ano, foram mais de cem mil os cidadãos lusos a procurar emprego e melhor sorte além – fronteiras, o que corresponde a um aumento de 20 por cento em relação a 2005.

Será ainda preciso não esquecer os milhares de portugueses que têm contratos sazonais, os muitos milhares que estão ilegais e os milhares que trabalham em Espanha, indo ao domingo e vindo à sexta-feira! São explorados e trabalham e vivem em “péssimas condições”, comparáveis às que se viviam nos anos 60 e 70 do último século.

O destino preferido está a ser o Reino Unido, que o ano passado acolheu cerca de 40 mil portugueses e onde, os últimos dados, indicam que a comunidade lusa nas ilhas britânicas já deve passar as 400 mil pessoas.

Com encerramento de consulados e embaixadas, as comunidades lusas nunca no pós 25 de Abril estiveram tão esquecidas pelo governo português como agora, e tal problema irá ser abordado na reunião do próximo Dia Mundial do Migrante e Refugiado.   

Portugal com o potencial mais baixo da União Europeia.

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