A BEIJOCA DO SOARES
Depois de o Expresso ter publicado em três etapas a retrospetiva dos melhores debates televisivos em Portugal, agora prossegue com uma nova série: histórias de campanha. A um mês das legislativas, revisitamos as nossas memórias políticas. Este é o segundo capítulo
Quando a caravana de Mário Soares nas presidenciais de 1986 andava por terras do Algarve, a parar a cada momento, tanta era a gente que queria cumprimentar o candidato, deu-se o talvez o episódio mais caricato de todos os episódios caricatos que envolveram aquele que era na altura (e, de certo modo continua) o mais carismático dos políticos portugueses.
Estávamos, salvo erro, na segunda volta, que opunha Soares a Freitas do Amaral (na altura tido pela esquerda como quase fascista).
Chegados a Faro, logo uma pequena multidão envolve Soares. Os candidatos não têm descanso; devem por obrigação de campanha apertar a mão às velhinhas, dar beijos às criancinhas, abraços e palmadas nas costas aos homens. Mário Soares era exímio, ou não fosse ele o mais expansivo e experiente dos políticos portugueses.
Estava, pois, em Faro, ali perto do hotel Eva, rodeado de gente, as crianças à frente, numa algazarra, na disputa dos autocolantes e, quem sabe, de umas palas para o Sol, e o candidato a distribuir beijinhos aos meninos.
Tudo ia bem, até que uma dessas crianças esperneou de mais. Não era para admirar: Mário Soares preparava-se para beijar um anão, que por ali vendia lotaria.
Ao dar pelo erro, largou-o e seguiu em frente. Quase ninguém deu por isso, mas eu relatei o episódio no semanário ‘O Jornal’, o antepassado da revista ‘Visão’. Há cenas que nunca se esquecem.
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