Esfomeados, feridos, e separados dos donos, centenas de animais domésticos vagueiam pela paisagem desolada do interior, a mais fortemente atingida pelos fogos deste verão. Sem equipas de resgate e socorro como noutros países, devido às tragédias de todo o tipo ocorridas, Algumas poucas pessoas, dedicaram-se exclusivamente a salvar cães e gatos.
“Nas áreas mais afectadas, não encontrámos qualquer sinal de vida animal”, disse-nos um amigo dos nossos animais! Porém em alguns locais, vimos pegadas no lamaçal, mas estas não nos conduziram a lado nenhum, não encontrámos qualquer animal”.
Contudo, pouco a pouco, começam a surgir junto das casas atingidas pela catástrofe, cães e gatos que conseguiram escapar às chamas gigantescas. Muitas pessoas abandonaram os seus animais de companhia assim que soou o alarme de fogo, o que os obrigou a sobreviver num ambiente extremamente hostil, sem água nem comida. Houve, também dezenas de animais mortos!
É de lamentar que as associações de defesa dos animais, logo após a catástrofe e com apoio estatal, não se tenham mobilizado durante duas ou três semanas no terreno, à procura desses animais desprotegidos e esfomeados. Estas equipas, que normalmente integram médicos veterinários voluntários, fornecem alimentos e cuidados médicos aos animais feridos e tentam arranjar um abrigo para aqueles que perderam os donos. Também visitam os centros de refugiados, onde nem sempre os animais são bem-vindos. É compreensível. Há sempre pessoas que são alérgicas aos cães, e outras que se queixam de que eles estão sempre a ladrar”.
Alguém, perto de nós, adiantou: estes acontecimentos fizeram com que muitas pessoas preferissem ficar nas suas casas em ruínas, com os seus animais. A senhora Alice que sobreviveu à tragédia juntamente com o marido, recusou deixar o seu cachorro à porta de um refúgio ali chegado no momento.
“Quando fugimos, a única coisa que trouxemos comigo foi o “pepe”, contou uma mulher, de 79 anos. “Não consigo imaginar a minha vida sem este cão tão meu amigo1”.
Apesar da dimensão da tragédia que se abateu sobre Portugal, tem havido algumas boas notícias sobre animais esfomeados que vão regressando aos terrenos que foram da casa onde viviam.
Mais do que subsídios ou isenções fiscais, o combate á desertificação deverá ser feito instalando no interior serviços prestados pelo Estado, não criados propositadamente, é óbvio, mas sim deslocalizando na medida do possível do litoral para o interior por exemplo, escolas, universidades, laboratórios e institutos, os quais ainda teriam a virtude de atrair massa cinzenta, que tanto tem fugido das cidades do interior. Naturalmente para tal, seria necessária coragem, e vontade política, de contrário, daqui a uns anos, sem qualquer invasão, ouviremos falar castelhano na maior parte do território nacional, sem ser necessária qualquer invasão, nem me venham falar em regionalização para combater o problema. Primeiro fixem-se populações, antes que o interior seja efectivamente um deserto, ou que a fronteira se aproxime cada vez mais do litoral. Não se fale de equilíbrio demográfico, ou mesmo de robustecer as cidades do interior, esquecendo as suas aldeias. A fixação demográfica passa por elas.
Ouvir uma ministra da Educação, com ar muito seráfico, falar de cátedra aos portugueses sobre o encerramento de escolas do interior (4 000 já foram e 900 vão sê-lo), faz-nos dar voltas ao estômago. Escolas com menos de 21 alunos e nas quais serão afectadas 15 mil crianças das 470 mil que frequentam o 1.º ciclo. O Encerramento de escolas leva a uma “forte quebra da qualidade do ensino” e ao “aumento do desemprego”, considera em comunicado a Federação Nacional dos Professores.
Muitos outros problemas irão afectar estas crianças inopinadamente afastadas da sua família, dos seus carinhos e da sua vigilância local. Serão atiradas para tempos mortos em zonas de desafectos e perigosas, remetendo-as de vez para a separação do seu local de nascimento. As actuais cidades estão hoje cheias de gente que suspira pela segurança e quietude das aldeias que perduram nos seus sonhos. Era lá que preferiam morrer em paz.
Salta à evidência uma vontade governativa e indómita de mais “obras públicas”! Mais despesa, sempre mais despesa! Contudo, a senhora ministra, sempre de nariz empinado, dá a garantia de melhores condições para os alunos e assegura o transporte adequado. Como pode ela dar estas garantias, se afasta crianças indefesas para longe das suas famílias? Como pode assegurar transporte quando o que existe já dá uma tremenda despesa ao Estado? Desconhece certamente os montantes da responsabilidade do Estado, envolvidos indemnizações compensatórias? Os elevados encargos com material circulante e combustível, sempre importados, por um país com uma dívida externa medonha. Desconhece a previsibilidade do crescente aumento do crude e da acrescida insustentabilidade dos próprios transportes público a curto prazo!
Tudo isto tendo pela frente uma normal situação do ensino, mais económica e segura, mais criadora de desenvolvimento do emprego local e manutenção do mesmo. Sem reter que perante as dificuldades em horizonte próximo, haverá sempre outras alternativas a não ignorar ou desvalorizar, tais como: “Após as décadas de 1960/1970 a educação à distância, embora mantendo os materiais escritos como base, passou a incorporar articulada e integralmente o áudio e o videocassete, as transmissões de rádio e televisão, o videotexto, o computador e, mais recentemente, a tecnologia de multimeios, que combina textos, sons, imagens, assim como mecanismos de geração de caminhos alternativos de aprendizagem (hipertextos, diferentes linguagens) e instrumentos para fixação de aprendizagem com feedback imediato (programas tutoriais informatizados) etc.
Actualmente, o ensino não presencial mobiliza os meios pedagógicos de quase todo o mundo, tanto em nações industrializadas quanto em países em desenvolvimento. Novos e mais complexos cursos são desenvolvidos, tanto no âmbito dos sistemas de ensino formal quanto nas áreas de aperfeiçoamento profissional.”
O Magalhães está muito longe de satisfazer qualquer qualidade de ensino, pese embora, os elevadíssimos custos actuais. Mas estudar perto da família é muito importante. Eliminar a desertificação de Portugal também!
A VERDADEIRA SUSTENTABILIDADE (MORAL E ECONÓMICA) DESTA NAÇÃO, PASSA PELA REABILITAÇÃO DAS NOSSAS ALDEIAS.
Podem chegar momentos de grandes catástrofes, em qualquer País e é precisamente nestes momentos, de total desespero, que vem o apelo mais profundo:
Regressar à Aldeia
É justamente esse sentimento que assalta milhares de haitianos, perdidos e profundamente amargurados na tragédia que se abateu sobre este pobre povo. Alguns relatos arrepiam e mostram à saciedade que ninguém está a salvo duma tremenda desgraça. As origens e causas podem ser as mais variadas como, o bloqueio de uma cidade por desordens naturais ou de ordem cívica e económica. A água não chega à grande cidade, nem o abastecimento regular e só por isto a vida nela, pode torna-se angustiante e medonha. Uma grave convulsão social trás as pilhagens, a total insegurança, que pode atingir irremediavelmente a ordem e a segurança tidas como garantidas. A cidade vira, de um momento para outro, uma verdadeira selva. Acontecem estas e outras situações arrepiantes, constantemente, em qualquer lugar do mundo. Todavia lá, na aldeia, o ritmo das desgraças e privações, acontece em menor grau, ou mesmo não acontece. A vizinhança funciona, a fonte deita água pura, a segurança é garantida pela distância e isolamento e, até, algumas galinhas não deixarão de pôr os seus ovinhos. Alguma hortaliça, fruta e legumes, que com boa vontade e economia, a todos podem socorrer e valer. A vida é local e os transportes não se apresentam como indispensáveis.
Depois, é destas aldeias, podem acreditar, que continua a irradiar para todos os eixos da vida do País, uma imensa vontade vital e espiritual. Mesmo quando destruídas e abandonadas. Delas, mesmo em ruínas, continua a erguer-se uma força estranha e forte, das gentes antepassadas, como bênção às gentes presentes e futuras. E, deveria ser principalmente por isso, além do muito mais, que elas deveriam estar arranjadinhas, do jeito que sempre foram. Inalteradas, mas bonitas.
Sem mudanças, tal e qual muitas gerações as viram e nelas viveram felizes. Poderiam ser os nossos hospitais de campanha, o lazer da juventude já perdida e o refúgio, doce, para os momentos mais amargos. Também, para todo o tipo de turismo, ou repouso de gente alquebrada pelas canseiras de uma vida de trabalho e saudosa da sua aldeia.
Vamos pois, dignificar aquilo que nunca nos sairá do pensamento, a aldeia onde aprendemos a ler e a escrever, onde espreitámos o primeiro ninho e vimos os passarinhos nascidos, de bico aberto, esperando alimento dos pais.
Se esta for uma real preocupação da União Europeia, assim poderá ser por toda esta terra de civilização cristã. E, por essa razão, nas nossas aldeias poderíamos dar guarida e apoio a gente em desespero, como são actualmente as crianças, idosos e adultos haitianos, ou outras. Mesmo nossas. Amanhã poderá ser a nossa vez, a vida só tem razão de ser, quando todos tivermos de mãos estendidas e sorriso aberto, para aqueles que estiverem em desespero. Também para comungar os momentos bons e felizes da vida em vizinhança, na quietude da nossa aldeia.
Almeida Henriques – Presidente da Câmara Municipal de Viseu
Nada poderá ser como dantes. Esta é a conclusão imperativa dos trágicos fogos de Junho e Outubro e da calamitosa seca que ameaça severamente o bem-estar, a segurança e a economia do País. Nestes dois funestos fenómenos, Governo e regime têm imensas responsabilidades e, na mesma proporção, imensas oportunidades.
Responsabilidades e oportunidades para realizar mudanças reais e investimentos consequentes, se não quiserem converter a política nacional num hediondo espectáculo de hipocrisia, nem os lamentos televisivos em miseráveis lágrimas de crocodilo. O que os acontecimentos recentes vieram revelar de modo gritante, sacudindo o País mediático, de um irreal romance cor-de-rosa de Verão, tem nomes inconvenientes na nossa imagem: atraso, impreparação e irresponsabilidade. Atraso do ordenamento territorial e do modelo centralista de organização do Estado; impreparação para responder aos fenómenos críticos do despovoamento, da desertificação e das mudanças climáticas; irresponsabilidade do Estado e dos agentes políticos. As perdas e os gemidos de um País Real abandonado e entregue à sua sorte só serão justificadas por políticas realmente reformistas. Políticas reformistas que não tardem e tenham a coragem de sair do papel e dos gabinetes doTerreiro do Paço em direcção às regiões e ao interior, sem conservadorismo e preconceitos. E que privilegiem o futuro de médio longo prazo em detrimento das negociatas política. Partidárias de sobrevivência de curto-prazo no Poder.
A julgar pelo Orçamento do Estado para 2018 teme-se o pior. Não se vislumbram ali sinais de reformas para o território, a água ou o Estado anquilosado que temos. Este é um mal endémico com um nome difícil de pronunciar: procrastinação. Um eterno adiamento de uma acção necessária. Nota final para assinalar o gosto deste regresso no contacto com os leitores do CM às “terras do Demo”.