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O ENTARDECER

O ENTARDECER

O FUTURO DO MUNDO

 

Se nos atrasarmos nunca mais acertaremos o passo com o futuro que alguns dizem estar para vir :

Qual é o Futuro no Mundo?

Não fiquemos de boca aberta. A Nova Economia não está morta. Diz-se que vai haver um segundo "boom" até 2009. A Internet, a Web, o telemóvel e a banda larga entrarão num percurso imparável - passarão a valores próximo da total penetração nos mercados dos países mais desenvolvidos atingindo mesmo a massificação por volta de meados/final desta primeira década do século XXI.

Telecomunicações e transportes.

Desenvolvimentos tecnológicos nas telecomunicações: TV, vídeo, fax, telefonia móvel, Internet, estradas e redes de informação. Desenvolvimentos tecnológicos nos transportes: aviões, comboios de alta velocidade, automóveis de baixo consumo, bicicleta; consequência: o bombardeio da informação e da publicidade, a aldeia global, a progressiva não-habitabilidade das cidades; reflexões éticas sobre o controle da informação e a criação de opinião.

Ciência, tecnologia e sociedade no mundo desenvolvido

A energia. Desenvolvimento científico; desenvolvimento tecnológico: energias contaminantes e energias alternativas; o controle da investigação energética; problema da ciência militarizada; a necessidade da participação dos cidadãos na tomada de decisões; consequências económicas e do meio ambiente; ética nuclear e ética do meio ambiente.

A produção industrial. Desenvolvimentos tecnológicos: automatização da produção (informática, robótica…); consequências sócio - económicas; industrialização e desindustrialização; terceirização; crises no Estado de bem-estar social; consumo e desemprego; desequilíbrios em nível mundial: primeiro e terceiro mundos; reflexão ética e política sobre um problema social.

Saúde e demografia. Desenvolvimentos científicos: a Biologia e a Genética modernas; desenvolvimentos tecnológicos: a Medicina moderna (vacinas, novas técnicas cirúrgicas, controle da natalidade) e a Engenharia genética; o controle da investigação e da fixação de prioridades; a influência da ideologia; consequências; controle da mortalidade e explosão demográfica; políticas de controle da natalidade; escassez e progressivo esgotamento de recursos naturais.

Estas profundas mudanças económicas atingirão de forma particularmente violenta, a população activa com baixos níveis de escolaridade onde os houver, a qual passou a concorrer no mercado de trabalho com imigrantes de todo o mundo. A educação passou a ser de facto um capital ainda mais socialmente valorizado pelas famílias.

As Pessoas, será ponto assente, que a principal riqueza de um País ou de uma instituição, seja empresa ou serviço público, são as pessoas que nelas vivem e trabalham.

A nova geração, ou sejam os nossos netos, viverão um novo "boom" longo como aquele que ocorreu entre 1942 e 1968 ou tal como o que aconteceu entre 1902 e 1929.

O próximo "boom" longo, entre 2023 e 2040, desenvolverá, ainda mais, estas tecnologias, estilos de vida e modelos de negócio até atingirem a saturação no mercado de massas, exactamente como aconteceu entre os anos 40 e 70 do século XX. A biotecnologia, tal como as baterias de hidrogénio, serão grandes motores deste "boom".

 

 

A LINHA DO BEM COMUM

Em todo e qualquer país, em todas as sociedades civis, há um fio condutor que assegura o seu progresso e a sua existência. Este fio condutor é composto fisicamente de duas realidades diferentes ; uma de natureza humana e outra de natureza sobrenatural. Esta última representa o seu passado e os milhares de pessoas que o serviram, mas que já morreram. A natureza humana representa aqueles que estão vivos e a representam.

 

Este fio condutor obedece a regras inscritas, talvez, na natureza. Aquela parte do fio de condição humana pode aguentar esforços de distensão rápida ou mesmo de estagnação ou compressão, mas nunca de rupturas. De qualquer modo, deve estar sempre atenta à componente a que chamei de natureza sobrenatural, muito extensa, que representa aqueles já desaparecidos, ou seja, o passado do país e da sua sociedade civil.

 

Quem tem a incumbência de tomar decisões se não respeitar esta realidade, ou até rindo dela, pode provocar rupturas de grande dimensão e, muitas vezes, a rutura do tal fio e das realidades e projectos que ele assegurava. Aquilo que foi o esforço de muitos vivos e mortos, acaba por desaparecer pelo efeito da entropia ou seja do lixo avolumado. Isto acontece mesmo que ponham um camião às 10 da manhã a escondê-lo!

 

De certo modo foi isso que aconteceu em Portugal depois da Revolução dos Cravos. Os capitães tiveram muitos seguidores, embora de natureza mais moderada, mas que cometeram e continuam a cometer erros de estratégia na tomada de decisões. Isto acontece pela total desresponsabilização com que se passa uma esponja aos sistemáticos maus decisores.

 

Quando por exemplo se aposta numa revolução informática é preciso saber que tipo de licenciados temos produzido e fazer nascer esta realidade em largo tempo e , enquanto isso, manter a coesão das várias gerações nas suas competências e saberes adquiridos.

 

Num momento em que a nossa adesão à UE levou a drásticas reduções no tecido laboral, por vezes, nos limites da sua quase extinção, casos da agrícultura ou das pescas, teria sido preciso garantir que muita dessa gente atingida, ainda tivesse podido ter sido muito útil ao nosso país. No fundo, poucos países têm tanto mar disponível como nós, e há muitas formas de pescar, e muita riqueza nele por descobrir, para desperdiçar tanto talento e experiência. Na agricultura passa-se o mesmo. Por vezes nem é uma questão de dinheiro, mas sim de respeito pelo Homem. E esta falta de respeito por quem tem valor e se esforçou sem cansaço, desinteressadamente, pelo BEM COMUM, paga-se muito cara em termos de falta mobilização e perda de criatividade.

 

LINDA PASTORINHA

 

Quem haveria de dizer que uma lavadeira de Linda-a- Pastora entraria na história da literatura portuguesa! Pois, tal aconteceu. Foi a Senhora Francisca, lavadeira bem conhecida do lugar, que " deu a última e, ao que parece, mais correcta versão que do presente romance se tinha obtido.

Deixo, pois, notações somente das principais versões da lenda, ou seja, acrescentarei mais esta outra, que a lavadeira de Linda - a - Pastora, de nome Sr.ª Francisca, terá contado a Almeida Garrett, durante o verão que aqui passou e que foi por ele publicada no "Romanceiro":

 

-Linda pastorinha, que fazeis aqui?

Procuro o meu gado que por aí perdi.

- Tão gentil senhora a guardar o gado!

Senhor, já nasce com este fado.

-Por estas montanhas em tão grande p'rigo!

Diga-me, ó menina, se quer vir comigo.

Um senhor tão guapo dar tão mau conselho,

Querer que se perca o gado alheio!

-Não tenha esse medo que o gado se perca,

Por aqui passarmos uma hora de sesta.

Tal razão como essa não na ouvirei:

Já dirão meus amos que demais tardei.

-Diga-lhe, menina, que se demorou

Co´esta nuvem de água que tudo molhou.

Falarei a verdade, que mentir não sei:

À volta do gado eu me descuidei.

-Pastorinha, escute, que oiço balar gado...

Serão as ovelhas que me têm faltado.

-Eu lhas vou buscar já muito depressa,

Mas que me espedace por essa charneca.

 

Ai como vai grave de meias de seda!

Olhe não as rompa por essa resteva.

-Meias e sapatos tudo romperei

Só por lhe dar gosto, minha alma, meu bem.

Ei - lo aqui vem; é todo o meu gado

-Meu destino foi ser vosso criado.

Senhor vá-se embora não me dê mais pena,

Que há - de vir meu amo trazer-me a merenda.

-Se vier seu amo, venha muito embora;

Diremos, menina, que cheguei agora.

Senhor, vá-se, vá-se, não me dê tormento:

Já não quero vê-lo nem por pensamento.

-Pois adeus, ingrata Linda - a - Pastora !

Fica-te, eu me vou pela serra fora.

Venha cá, Senhor, torne atrás correndo....

Que o amor é cego, já me está rendendo.

Sentaram-se à sombra.... tudo estava ardendo...

Quando elas não querem, então estão querendo.

 

Quanto custa ser idoso em Portugal

 

Que Deus nos ajude, mais vale ser precário na função pública!

 

A reforma para a grande maioria dos nossos políticos só tem um significado, cortar nas reformas de idosos para “tapar” outros buracos! Cortam nas reformas sem respeito pelo facto de elas terem sido pagas ao longo de uma vida pelos trabalhadores. E com muito sacrifício”!

Eles, em breve vão morrer e por agora já não votam!

Esta gente sem formação moral ou social, pensa desse jeito, muito mais ainda para os lados da geringonça. Esta gente sem passado e de futuro duvidoso, nunca saberá ou perceberá o que é passar uma vida a trabalhar e fazendo sacrifícios para ajudar toda a família, pagando uma reforma que antes de chegar a si, terá servido para muitos outros aguentarem a velhice. E outros, terem que comer antes da morte!

Mesmo sem terem descontado um tostão!

Também para manterem precários ou melhorar, taxas propagandísticas de desemprego! Sempre, tendo em vista, as próximas eleições, que para eles assim, são canja!

 

Quem descontou uma vida inteira, vegeta com uma reforma de mais ou menos mil euros mensais que não chega para se ter uma velhice digna, sem falarmos do custo da habitação, do IMI, das pequenas ou grandes reformas na casa em que vivem, e da dependência física e mental de toda a família.

Mas 85% dos nossos idosos têm uma reforma igual ou inferior a 409 euros e a média mensal é de 387€, dados de Maio. Se não fossem os apoios da Segurança Social, das instituições de solidariedade social e das famílias, a maioria não conseguiria sobreviver com o que recebe ao fim do mês como reforma. É isto que se houve como lamúrias de quem está velho e doente! Ao invés, as reformas de políticos e muitos outros fiéis servidores desta gente, são completamente escandalosas! Na maioria das vezes sem descontarem um tostão para elas!

- Os reformados, ou mesmo pré-reformados, com pouco dinheiro no bolso e alguns pobres sonhos na cabeça, não se deitam tarde, pois as preocupações com o dia seguinte não os deixam dormir! Mas levantam-se com o nascer do sol que já entra por uma telha partida. Nos dias de chuva entra pela fresta do telhado a água que vem do céu! Pôr uma telha nova no telhado já não é obra para idoso e puxar do bolso algumas moedas só resulta para o Estado.

- Para o Estado, sim é! Hoje paga imposto quem compra e quem vende, mas aquele que lucra é sempre o mesmo, o dito Estado, que nada produz e só gasta! Fingindo que é dono do dinheiro apanhado a quem trabalha ou trabalhou, mesmo pré reformado!

- Depois do parco pequeno-almoço, vão à padaria, buscar o alimento do dia! Isso é sagrado, a par de dois dedos de conversa com os vizinhos igualmente madrugadores! E todos os dias pagam 1,20 euros pelo pão, uma parcela "pequenina", mas que ao fim do mês representa 12,8% da pensão, a mínima do regime rural! E "Chamam a isto uma reforma?"

- A pensão mínima do regime rural (224,60€), segundo os dados de Maio do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, é a que recebem 191 800 pensionistas. Mas existem 33 031 com uma pensão social (187,18€). E 85% dos idosos portugueses têm um rendimento mensal igual ou inferior a 409,50, a reforma mínima do regime geral. É assim que se leva a vida. "Lamentações! Para quê? A extrema – esquerda só fala no aumento do ordenado mínimo!

- Mas temos de ter espírito alegre, é isso que nos faz viver", justifica-se esta gente. "A minha filha teve de se mudar para uma casa mais pequena e acabei por ir para um lar. Éramos uma família. Agora recorda sobre como foi divertida a sua vida e as viagens que fez devido à profissão do pai, "deputado da Nação".

- A solução para muitos idosos foi encontrar apoios extra familiares, o que representa um grande encargo financeiro. "É muito complicado conciliar a vida profissional com a familiar e a minha mãe recebe a pensão mínima. Mas ela gosta de convívio e é muito importante que essa vivência lhe seja garantida", justifica a sua filha.

- A pergunta que se coloca ao reformado é: "Porque não optou por um lar mais económico?" "Tendo em conta a pessoa que ela é seria muito mau se a colocassemos num espaço cheio de idosos e num ambiente depressivo. Vi lares que não eram muito mais económicos e tinham menos condições", disseram-nos.

 - Quanto à situação de carência dos portugueses com 65 ou mais anos, não temos dúvidas em afirmar: "É impossível diminuir as prestações sociais. Se não fossem esses apoios, a maioria dos idosos não sobreviveria. E a classe média é sempre a que acaba por ter maiores dificuldades. O meu filho é autónomo e não tenho dívidas. Caso contrário, não conseguiria garantir à minha mãe as condições ideais que tem."

- As utentes do Centro não trazem pulseiras nem fios, algumas nem sequer têm dinheiro para comprar ou mandar arranjar a placa dentária. E há quem adie a ida ao oftalmologista, com medo que ele os faça comprar outros óculos.

- Num lar para 120 pessoas, todos com alguma dependência, é um centro de dia que recebe 70 idosos diariamente e dá o apoio domiciliário a mais 80. Os pedidos de inscrição é que não param. Tantos que nem vale a pena fazer lista de espera para as entradas no lar. Já o centro de dia e o apoio domiciliário vai-se esticando conforme as necessidades. É a vida ….

- Nos Centros de Dia, os gastos com as habitações, as refeições, os consumíveis e com os 160 funcionários fazem com que cada idoso internado custe 1300 euros, 700 no apoio em casa e 600 no centro de dia.

- "Tomara eu poder trabalhar. Agora é que se ganha dinheiro. Fui mulher-a-dias e no meu tempo era uma miséria. Estará no centro de dia enquanto "tiver pernas", o que não acontece com o marido que sofreu um AVC e "não se mexe, coitadinho". Tem duas filhas, que "também têm as suas vidas e fazem o que podem. Coitadinhas!"

- A forma como se vive a velhice depende de múltiplos factores, nomeadamente do sítio onde se vive, no meio rural ou citadino, rodeado por prédios ou por árvores.

- "Tomo um Vastorell de manhã e à noite (3,95 euros a embalagem, arteriosclerose) e uma aspirina ao almoço. O meu marido sofre de reumatismo e tem de tomar mais remédios para as dores. O dinheiro vai dando graças a Deus. Conseguimos equilibrar as contas. Com esta idade, já temos o que nos faz falta, o resto é para a comida, água, luz, a botija de gás e os medicamentos", dizem muitos idosos!

- Estar por "nossa conta" significa que não dependemos da filha de ambos e do filho dele, tanto para as despesas como para a organização doméstica. "Enquanto pudermos, ficaremos na nossa casinha. Não estamos encafuados num lar."

- Muitos idosos têm de andar de canadianas, nada que os impeça de ir ao café, todos os dias depois do almoço, com a esperança que apareça "um companheiro" para conversarem.

- É frequente cruzarmo-nos com alguém que já ultrapassou os 70 aos, ao contrário do que acontece com crianças que ainda não estão na escola.

- Os jardins estão povoados de pessoas com mais de 65 anos, a maioria homens. Eles vão jogar às cartas e ver quem passa, as mulheres ficam em casa na lida doméstica.

- "Custa muito, vou indo”. Estive em casa dos meus filhos, que me dão muito apoio, mas vim para a minha casa. Não quero ser um peso!" lamentam-se quase todos.

 

Outro fontanário, outros tempos.....

 

Neste lugar que serviu de inspiração a vários poetas, como uma espécie de retiro espiritual, surge associada uma outra figura, tão ou mais poética, tão ou mais romântica. 
A jovem pastora é retractada com seu rebanho nos azulejos de outro fontanário, situado ao lado da avenida Tomás Ribeiro, em Linda - a - Pastora.

Hoje alindado, feito jardinzinho e em simultâneo miradoiro, e que também vai servindo de local para descanso de gente mais cansada ou pensativa.

Sobre esta pastorinha consta um bonito poema da autoria de Jorge Verde, irmão do conceituado Cesáreo Verde, dedicado a esta figura que merece o carinho desta população;

 

Há na Terra uma Pastora

Que está sempre olhando o mar,

Não é morena nem loira

E é branca como o luar.

 

Chamamos linda a pastora

Que os dias passa a cismar

Numa encosta encantadora

Que de longe olha p' ra o mar.                                        

 

Determinados autores apontam, contudo, designações como Ninha Pastora e Linda Pastora, que poderão estar na base do termo Linda - a - Pastora, podendo aqueles referirem-se à proximidade do Ryo Ninha (século XIV), sendo que o termo "ninha", de origem céltica, se encontra associado aos "lugares altos ou na sua vizinhança".

 

As lavadeiras

 

constituíam a ocupação mais numerosa no século XX, ocupando pessoas de qualquer dos sexos na antiga freguesia de Carnaxide.

O levantamento eclesiástico de 1865 ( P.e Francisco da Silva Figueira, " Os primeiros Trabalhos Literários" ) dá - nos conta da existência do total de 191 (?), assim sendo distribuídas: Carnaxide, 43; Linda-a-Pastora,44; Linda- a - Velha, 14; Outurela, 12; Portela, 2 ; Algés, 40 ; Praias, 10; Queijas, 16 ; e dispersas, 10.

Para se ter a noção do peso desta ocupação, convirá dizer que, logo a seguir, surgem as criadas de servir, em número de 36, e as costureiras, com 20. Entre os homens a profissão que envolvia mais pessoas era a de trabalhador da lavoura - 108.

Embora mal remunerado, o trabalho da lavadeira constituía uma ajuda importante para as parcas posses dos agregados familiares . Daí o elevado número de mulheres que, em toda a cintura saloia de Lisboa, se ocupava nesta tarefa, desde a juventude até à velhice. E assim. era vê-las, todas as segundas- feiras, estrada fora, a caminho da capital, em cortejo, escarranchadas na albarda do burro ou de carroça, entre trouxas, a fim de devolver às clientes a roupa já lavada  - bem branca pela acção do sol e cheirosa pelos odores silvestres de onde fora depositada a corar.

Regressavam já tarde ou no dia seguinte, ajoujadas de entre trouxas, agora de roupa suja que a água do Jamor e a força dos seus braços branqueariam. Aproveitavam e vendiam às clientes ovos e queijos frescos que também levavam, com essa intenção. No regresso traziam mais uns cobres que muito ajudavam a saciar as dificuldades caseiras.

Este trabalho era pesado e pernicioso para a saúde. Mas a necessidade a tal obrigava. Há séculos que o saloio desempenhava.        

 

No Rio das Lavadeiras

 

Os ares eram lavados, a água cristalina, a várzea agricultada, as antigas azenhas e moinhos de vento, estes empoleirados nas cumeeiras e encostas marginais, constituíam as ancestrais marcas que caracterizavam o bucólico e atractivo vale da ribeira do Jamor, até quase ao termo da primeira metade do século XX.  Depois, a avassaladora onda de expansão urbanística quebrou o sortilégio paisagístico, poluiu a ribeira, desfez equilíbrios naturais. E perdeu-se um dos mais cantados "recantos" do concelho de Oeiras.

Uma referência era pois a ribeira do Jamor, ainda é comum encontrarem-se muitos avós em Queijas e Linda - a - Pastora, que nadaram neste percurso de água hoje muito debilitado.

Será certamente com muita emoção para eles, lerem a descrição que o jornalista Rocha Martins dele fez ;

 

 "O Jamor é um ribeiro torcicolante desde Belas, formam-no dois riachos e, passando por Queluz e na baixa de Carenque, saltita nas pedras, ora alastra e empoça, ora se aprofunda e adelgaça , tendo largueza junto a S. Romão de Carnaxide, onde se miram em suas águas árvores verdes, moitedos de silvas e abrunhais bravos. Durante três léguas, brinca e gorgoleja, ruge nos invernos; pacifica-se nos verões e vai ligar-se ao Tejo, na Cruz Quebrada, já sem rumores, anémico, cansado. Teve, por vizinhança, reais velas brancas de Moinhos, pegureiros e princesas, paços e lugarejos de nomes lendários - a Ninha - a - Pastora, a Ninha - a - Velha, - viu mendigos e milagres."

 

Mas também, em 1945, José Dias Sanches ( Olisipo , n.º 32) ainda assinalava : " (... ) o rio Jamor , o rio das lavadeiras, o rio campesino serpenteando as viçosas hortas e os verdejantes pomares".

 

Referenciando a ligação histórica do Jamor às lavadeiras, Branca de Gonta Colaço e Maria Archer, nas " Memórias da Linha  de Cascais" ( 1943), por duas vezes sita : " o rio de lavadeiras" em vez de lhe chamar somente a ribeira do Jamor.  

 

Ao lado deste rio nunca deixou de estar a povoação de Linda - a - Pastora, que ninguém terá descrito tão bem como Almeida Garrett no seu livro "Romanceiro" III ;

 

" Já me eram familiares aqueles sítios; mas posso dizer que não os conheci bem e como eles são deveras, senão quando, haverá hoje três anos, ali fui um dia primeiro de Maio.

Fui, como de maravilha em maravilha, por todos os pontos que tenho nomeado; mas chegando à ribeira do Jamor, parei extasiado no meio de sua ponte, porque a várzea que daí se estende, recurvando-se pela direita para Carnaxide, e os montes que a abrigam em derredor, estava tudo de uma beleza que verdadeiramente fascinava. O trigo verde e viçoso ondeava com a viração desde as veigas que rega o Jamor, até aos altos onde velejam centenares de moinhos. Arvores grandes e belas, como rara vez se encontram nesta província dendoclasta, rodeavam melancolicamente, no mais fundo do vale, a velha mansão do Rodízio. E lá, em perspectiva, no fundo do quadro, uma aldeia Suiça com suas casinhas brancas, suas ruas em socalcos, seu presbitério ornado de um ramalhete de faias; grandes massas de basalto negro pelo meio de tudo isto, parreirais, jardinzitos quase pêncis, e uma graça, uma simplicidade alpina, um sabor de campo, um cheiro de montanha, como é difícil de encontrar tão perto de uma grande capital.

O lugarejo é bem conhecido de nome e fama, chama-se Linda - a - Pastora Porquê ? Não sei. Têm - me jurado antiquários de «meia tigela» que o seu nome verdadeiro é Niña - a - Pastora. Mas enquanto não achar algum de «tigela inteira» que me saiba dar razão por que se havia de chamar assim, meio em português meio em castelhano, um aldeote de ao pé de Lisboa hei - de chamar-lhe eu, como os seus habitantes e toda a gente diz : Linda - a - Pastora.

 

Será desses nomes lendários, que a seguir falaremos também de bonitas lendas dum passado, que começa a ficar deveras longe :

 

Heranças de lavoura e poesia

Linda - a - Pastora

Descobrem- se os recantos bucólicos, evocando uma vivência campestre ainda muito presente nos detalhes. Junto à igreja, por exemplo, ladeado por canteiros onde florescem enormes jarros plantados por algum morador, o fontanário, animado por singular obra de azulejaria, retracta um animal alimentando-se nos campos, rodeado de árvores, enquanto lá ao fundo se imaginam as velas de um moinho, girando ao sabor dos ventos. 

Um bonito fontanário

ali ao lado, uma mesa e dois bancos em madeira, muitas buganvílias dependuradas na muralha e um pequeno jardim em frente, constituem um dos vários locais que em Linda-a-Pastora convidam ao descanso e à reflexão, e para tal a Junta de Freguesia se empenhou em todos os aspetos.

 
Não terá sido, por certo, obra do acaso, que nesta terra de tranquilidade inspiradora, tenha passado longos períodos da sua vida Cesário Verde. 
O poeta que, à semelhança da tal linda pastora, constitui figura de referência para as gentes da terra.

 

A água que lá corre, de óptima qualidade, dizem que vem dos lados de Queijas, do seu subsolo.

Em tempo de corte no abastecimento público do precioso líquido, é de lá que as populações de Queijas e Linda a Pastora se socorrem para os gastos mínimos.

 

Durante centenas de anos Linda - a - Pastora foi a segunda maior localidade, a primeira era Carnaxide, da enorme freguesia com este nome.

Dos registos de censos efectuados, temos o primeiro dos anos de 1755, que refere ter esta terra, setenta e tantos habitantes, enquanto Carnaxide teria oitenta e tantos. Depois temos o de 1865 com 403 e Carnaxide com mais três habitantes.

A partir do século XX, começa a dar-se uma inversão e Carnaxide cresce muito em habitantes, por exemplo em 1969 em que Linda - a - Pastora tem 860 e Carnaxide 1278. Neste ano Queijas já apresenta 1076 habitantes e Algés (20948), Dafundo/Cruz Quebrada (8770) e Linda - a - Velha (7196) tornam-se as  maiores localidades da freguesia..

A partir deste momento a tendência foi para a estagnação ou lenta evolução do número de habitantes em Linda - a - Pastora, tendo a auto-estrada do Estádio Nacional, de algum modo, emparedado esta terra em relação ao rio Jamor e às terras, dos belos pomares da sua margem direita.

 

O RESPEITO PELOS OUTROS

Boa noite,
 
Há em Portugal uma espécie de regra não escrita do jornalismo de sentido único de acordo com a qual basta meia dúzia de manifestantes juntarem-se nas imediações de qualquer ato oficial para se lhes dar a mesma, porventura até mais cobertura do que ao evento que está a decorrer. Os sindicalistas, em especial os sindicalistas da CGTP, sabem que assim é e, apesar de muitas vezes serem os mesmos e só terem levado as suas faixas de um “protesto” para outro, já sabem que têm garantida uma generosa cobertura mediática.
Ontem, na Guarda, durante as cerimónias do 10 de Junho, era isso que estava de novo a acontecer até que o Presidente da República se sentiu mal e teve de ser socorrido no local. Os manifestantes, onde avultava a figura de Mário Nogueira, ignoraram o facto e continuaram aos gritos, só se calando depois de o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, general Pina Monteiro, ter subido à tribuna para pedir “respeito por Portugal e pelas Forças Armadas”, como aqui relatámos. E amainaram porque, nessa altura, a população presente fez sentir aos manifestantes que já tinham ido além do tolerável. Mesmo assim, ao olhar hoje para as bancas de jornais, vemos que houve quem entendesse que se justificava chamar à primeira página a existência dos protestos, apenas porque existiram.
Outros tiveram, contudo, uma atitude bem diferente. Foi o caso de Ferreira Fernandes, no Diário de Notícias:
“Quando discursava, Cavaco Silva desmaiou. Perante um homem que desmaia, um homem que lhe berra cala-se. Nogueira continuou a berrar. E a dúvida que se lhe pode pôr na política - ele presta-se à direita ou à esquerda? - Fica desfeita na vida geral: simplesmente ele é sem préstimo.”
Mas o comportamento dos manifestantes na Guarda não destoou, para o bem e para o mal, do comportamento de muitos cidadãos que, nas redes sociais, entenderam ser aquele momento adequado para umas piadolas . Helena Matos refere-se ao fenómeno, e uma piadinha em particular, neste post do Blasfémias:
“Num país distante, uma minoria que se considerava moralmente superior lidava mal com o princípio de “um homem um voto”. Nesse país, um homem que a minoria detestava ganhou várias eleições e tornou-se Presidente da República. Um dia esse homem enquanto Presidente sentiu-se mal enquanto discursava na cerimónia do dia do seu país. No Facebook alguém escreve  «nem o tipo morre nem a gente almoça». O tipo não morreu. E mais ou menos uma hora depois o tipo estava a colocar uma medalha no peito do pai da autora daquele comentário.”
É caso para dizer que os atos ficam com quem os pratica, e o relevante, no dia de ontem, foi o apelo, mais um, do Presidente da República a um acordo entre os principais partidos, acordo que se deveria concretizar até à apresentação do próximo Orçamento do Estado.
No Observador,  David Dinis sublinhou de imediato que “o acordo que [o PR] agora recuperou não é pedir demais: é o mínimo”. Mais: “este Presidente já não pode perder um minuto deste seu último mandato que não seja nesta batalha por um acordo partidário de médio prazo”. Só que, acrescentou, já se sabia o que ia acontecer:
“Nos próximos dias meio Portugal dirá que não faz sentido, que sabemos todos que não é possível, que o PS está no meio de uma guerra, que o Governo está noutra”. 
Foi exactamente o que aconteceu. Mesmo assim notou-se em algumas análises, uma indisfarçável inquietação pelo rumo que a discórdia política está a tomar.
No Diário Económico António Costa notou “que ainda não é claro se os líderes políticos já aprenderam a viver no euro ou se os últimos três anos foram, para eles e para a generalidade dos cidadãos, um 'mal necessário' para um desejado regresso ao passado”. Isso explicaria aquilo que viu como um “ultimato” de Cavaco, prevendo que este possa ainda utilizar a única arma que lhe resta: antecipar o calendário eleitoral.
Já no rival Jornal de Negócios,  Helena Garrido (texto só para assinantes) foi um pouco mais longe e falou de “ameaça de crise de regime”. E explicou:
“Quando o Presidente recomenda que se escolha como "tempo de diálogo" o tempo que vamos ter até à apresentação do Orçamento do Estado para 2015, quem conhece os riscos que enfrentamos sabe que tem razão. PS, PSD e CDS têm poucos meses para recuperar a confiança dos portugueses. E é urgente que o façam, se querem ter nas eleições do próximo ano os votos necessários e suficientes para garantirem o poder de uma revisão constitucional.”
Não temos, de facto, nem muito tempo nem muitas alternativas. Basta consultar o Boletim Económico de verão do Banco de Portugal, que foi hoje divulgado. Mais do que os pequenos ajustes a que procedeu às suas previsões de crescimento económico, sem muito significado, contam os seus alertas: ou seja, o “crescimento da economia portuguesa continuará a ser condicionado por alguns constrangimentos estruturais”, pelo que é fundamental “assegurar um nível de consumo compatível com o rendimento”. Exige-se, também, “uma visão de longo prazo que garanta a consistência intertemporal das políticas e entre políticas, bem como “um enquadramento institucional estável”.
Até porque “o ajustamento das contas públicas está longe de estar concluído” e, só até 2019, ainda vamos necessitar de medidas equivalentes a 4% do produto interno bruto, ou seja, sensivelmente 6,7 mil milhões de euros. Isto contas feitas ainda antes da recente decisão do Tribunal Constitucional.
 
Outros tiveram, contudo, uma atitude bem diferente. Foi o caso de Ferreira Fernandes, no Diário de Notícias:
“Quando discursava, Cavaco Silva desmaiou. Perante um homem que desmaia, um homem que lhe berra cala-se. Nogueira continuou a berrar. E a dúvida que se lhe pode pôr na política - ele presta-se à direita ou à esquerda? - Fica desfeita na vida geral: simplesmente ele é sem préstimo.”

Boa noite,
 

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