HERANÇAS DE LAVOURA E POESIA
O rio era o JAMOR. Campesino, serpenteava as viçosas hortas e os verdejantes pomares. Era o rio das lavadeiras de Linda-a-Pastora, nos anos de 1865. Os habitantes da Freguesia de Carnaxide (191) estavam distribuídos por Carnaxide 43, Linda-a- Pastora 44, Linda-a- Velha 14, Outurela 12, Portela 2, Algés 40, Praias 10, Queijas 16, diversos 10.
Às segundas-feiras, as lavadeiras lá iam a Lisboa, entregar a roupa lavada e buscar trouxas de roupa suja. Aproveitavam e vendiam às clientes também ovos e queijos frescos que também levavam consigo, com essa intenção. No regresso traziam mais uns cobres que muito ajudavam a saciar as dificuldades caseiras.
Os ares eram lavados e a água era cristalina, a várzia estava agricultada à vista das antigas azenhas e moinhos de vento. Os peixes nadavam aos pés, descalços, destas lavadeiras, mergulhados na água. O Jamor era navegável e tinha, nos actuais terrenos do Estádio Nacional, perto da piscina, o seu ancoradouro, destruído em finais do último século.
Era o rio no qual muita gente, ainda viva, mergulhou e nadou nos seus pegos. Depois a avassaladora onda de expansão urbanística quebrou o sortilégio paisagístico, poluiu o rio, e desfez os equilíbrios naturais. Assim, se perdeu um dos mais cantados, “recantos” do concelho de Oeiras. Ao lado deste rio nunca deixou de estar a povoação de Linda-a- Pastora, que ninguém terá descrito tão bem como Almeida Garrett no seu livro “Romanceiro III”. E lá em perspectiva, no fundo deste quadro, estava tudo de uma beleza em seu derredor, verdadeiramente fascinante.
As lavadeiras acabaram, mas a vida continua. Que tal fazer-se a navegação deste rio até ao Santuário da Rocha, por todos os motivos. É uma coisa que não pode tardar mais. Mas, a grande razão, é sem dúvida o seu aproveitamento religioso e o desenvolvimento turístico de Oeiras. A procura turística de Portugal pelos estrangeiros, não pode deixar-nos quaisquer dúvidas!