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O ENTARDECER

O ENTARDECER

A EXISTÊNCIA TERRESTRE

 

Platão, foi convidado a fazer o mesmo que Aristóteles, ou seja, numa frase definir o mundo, aquele mundo a que chamamos de Terra, antes porém quis, ele próprio defini-lo adiantando: “a melhor definição que posso adiantar como minha, aponta nele para um modelo aristocrático do poder. Mas não se trata de uma aristocracia vinda do berço, nem da riqueza, mas da inteligência e cultura, em que o poder é confiado aos melhores. Reconhecidos como tal, ou seja: aos detentores do poder e da sabedoria. Seguidamente, Platão resumiu assim numa frase parte do seu pensamento sobre o mundo:

Para mim o fim do caminho, verdadeiramente, nunca se atinge na existência terrestre, apenas se pode chegar muito perto

O SONHO DO HOMEM

A esperança é o combustível da vida, a forma de mantê-la viva é não prender os olhos nas tragédias, pois a cada desgraça que contemplamos corremos o risco de perdê-lo [combustível]. Existe na mitologia grega a presença de uma figura interessante: uma ave chamada fênix, que quando morria entrava em autocombustão e passado algum tempo renascia das próprias cinzas. A fênix, o mais belo de todos os animais fabulosos, simbolizava a esperança e a continuidade da vida após a morte. Revestida de penas vermelhas e douradas, as cores do sol nascente, possuía uma voz melodiosa que se tornava triste quando a morte se aproximava.

O homem pode ser resistente às palavras, forte nas argumentações, mas não sobrevive sem esperança. Ninguém vive se não espera por algo de bom, que seja bem melhor do que o que já conhece, já possui ou já experimentou. Deus alimenta a nossa vida por meio da esperança!

Pe. Xavier

 

 

A ESPERANÇA

 

A esperança é a vacina contra o desânimo e contra a possibilidade de invasão do egoísmo, porque apoiados nela nos dedicamos à construção de um mundo melhor.  A perda da esperança endurece os nossos sentimentos, enfraquece os nossos relacionamentos, deixa a vida cor de cinza, faz a nossa vida perder parte do seu sabor. Porém, todos os dias somos atingidos por inúmeras situações que nos podem desesperar.

A BEIJOCA DO SOARES

 

Depois de o Expresso ter publicado em três etapas a retrospetiva dos melhores debates televisivos em Portugal, agora prossegue com uma nova série: histórias de campanha. A um mês das legislativas, revisitamos as nossas memórias políticas. Este é o segundo capítulo

HENRIQUE MONTEIRO

Quando a caravana de Mário Soares nas presidenciais de 1986 andava por terras do Algarve, a parar a cada momento, tanta era a gente que queria cumprimentar o candidato, deu-se o talvez o episódio mais caricato de todos os episódios caricatos que envolveram aquele que era na altura (e, de certo modo continua) o mais carismático dos políticos portugueses.

Estávamos, salvo erro, na segunda volta, que opunha Soares a Freitas do Amaral (na altura tido pela esquerda como quase fascista).

Chegados a Faro, logo uma pequena multidão envolve Soares. Os candidatos não têm descanso; devem por obrigação de campanha apertar a mão às velhinhas, dar beijos às criancinhas, abraços e palmadas nas costas aos homens. Mário Soares era exímio, ou não fosse ele o mais expansivo e experiente dos políticos portugueses.

Estava, pois, em Faro, ali perto do hotel Eva, rodeado de gente, as crianças à frente, numa algazarra, na disputa dos autocolantes e, quem sabe, de umas palas para o Sol, e o candidato a distribuir beijinhos aos meninos.

Tudo ia bem, até que uma dessas crianças esperneou de mais. Não era para admirar: Mário Soares preparava-se para beijar um anão, que por ali vendia lotaria.

Ao dar pelo erro, largou-o e seguiu em frente. Quase ninguém deu por isso, mas eu relatei o episódio no semanário ‘O Jornal’, o antepassado da revista ‘Visão’. Há cenas que nunca se esquecem.

Palavras-chave

BASÓFIAS

 

 Em Português, o termo significa gabar-se de talentos, capacidades e coisas diversas com grande exagero e, por vezes, com pouca verdade.

Exemplos; o desemprego “poupa”, 251 milhões de euros. Dado que o valor dos apoios caiu mais do que o previsto pelo executivo. Fala-se, evidentemente, na despesa da Segurança Social de 2016, com o subsídio de desemprego face a 2015. Estes termos de comparação, de tão repetidos, já nos são familiares; “ O governo anterior” ou “ de 2015 para 2016”.

Tudo isto, não passa de uma ideia fixa! Uma ideia fixa impregnada de politiquice. Está bem de ver, logo sem grande virtude. Pensemos assim: Os 251 milhões são bons ou maus? Logo à partida e com enorme simplicidade, é assim:

1 - Se forem Funcionários públicos é bom, pois a produtividade é a mesma e a despesa da Segurança Social é menor, portanto fica dinheiro em caixa. Se é que há segurança social na Função Pública!

2 – Se for na actividade privada já é difícil concluir com facilidade: A produtividade diminui e a despesa, quando comparada com a produtividade, pode representar tanto um ganho como uma perda! Depende por exemplo, de constituir exportação ou, simplesmente, um produto de grande oferta no mercado nacional.

Chamando para isto, o maior produto deste País, o “futebol”, criemos então a seguinte imagem:

  1. a) Um jogador que galga o campo todo, fintando adversários para, em cima da baliza, dar a bola a um colega para este a empurrar e fazer um golo simples. De quem foi o mérito maior?

Consta que a taxa de desemprego chegou a Dezembro em 10,2% e o montante dos subsídios orçamentados desceu para 14,3% face ao ano anterior. Então, aqui aparentemente temos um ganho?

Se o montante desceu porque emigraram milhares de portugueses, estes deixaram de dar despesa em Portugal e, normalmente, poupam e mandam para Portugal as suas poupanças. Isto é óptimo. Por ser riqueza que entra e vai equilibrar a nossa balança de pagamentos.

Estas confusões são o “prato do dia” dos políticos, mais preocupados em manter o “tacho”, do que defender o “bem comum”, “e o interesse público”, etc. Para tal jogam com os números a seu belo prazer fazendo a cabeça dos votantes. A comunicação social, parece entrar neste jogo endiabrado!   

E O NOSSO BODE EXPIATÓRIO?

 

 

Não adianta querer esconder o ou, os, responsáveis, por desastres, ofensas, prejuízos ou até descalabros nacionais. Mas muitas vezes isso acontece de uma forma chocante, a figura do bode expiatório aparece carregada ás costas de um pobre diabo, para encobrir os verdadeiros responsáveis!

Nos últimos tempos tem-se usado e abusado de uma expressão carregada de malvadez.

Referênciamos a expressão dirigida a alguém de uma forma extremamente injusta:

" A culpa é do Governo anterior"

O tema é usado com regularidade nos dias de hoje: quando, por exemplo, uma professora chama a atenção de um aluno galhofeiro por causa de algumas tropelias na sala de aula e a primeira coisa que ele responde é “não fui eu senhora professora”. Então, a culpa da bagunça recai sobre aquele estudante que geralmente é mais ingénuo ou mais discreto da turma. São, em situações como esta, que os bodes expiatórios costumam aparecer.
O bode expiatório é o alvo favorito dos zombeteiros e daqueles que querem fazer alguém se submeter ao ridículo, recebendo arbitrariamente as culpas pelos erros dos outros, explica o escritor e professor Ari Riboldi no livro "O bode expiatório".

Porém, vem de muito longe o uso desta simbologia:

“Mas o bode, sobre que cair a sorte para ser bode emissário, apresentar-se-á vivo perante o Senhor, para fazer expiação com ele, a fim de enviá-lo ao deserto como bode emissário” (Lv 16.10).  

No Dia da Expiação, conforme Levítico 16, um bode era sacrificado como oferecimento pelo pecado. Sobre a cabeça de outro bode, a ser enviado ao deserto, fazia-se a confissão de pecados.

“O primeiro bode era morto e o seu sangue, derramado (Lv 16.15), representava a morte substitutiva de Cristo e o derramamento do Seu sangue por nossos pecados. O sumo-sacerdote tinha então de tomar o bode emissário, confessar os pecados de Israel sobre a cabeça daquele bode, e enviá-lo para o deserto. Isso representava o efeito de levar embora, para sempre, os pecados de Israel, e simbolizava a obra de Cristo, que era levar para sempre os nossos pecados, como Isaías profetizou: “Mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos” (Is 53.6). Os vários aspectos da obra de Cristo na redenção são simbolizados pelo que os dois animais desempenhavam no Dia da Expiação, cada um com o seu papel” (Norman Geisler).

A AUTORIDADE NAS ESCOLAS

 

Foram precisos 35 anos para se voltar a falar de autoridade nas escolas. É uma discussão pela qual se têm batido uns poucos na esfera pública, professores como Nuno Crato, Fátima Bonifácio, Helena Matos, sociólogos como António Barreto, políticos como Paulo Portas, um ou outro psicólogo desalinhado, um ou outro colunista de jornal. Uma discussão que muitos professores travam entre si diariamente, sem cuidarem de saber se são de esquerda ou de direita, porque não desistiram da profissão e sofrem na pele os efeitos da sua própria desautorização, promovida por sucessivos governos, em nome de Pedo Ciências falhadas.

Até Maria de Lurdes Rodrigues, a ministra que parecia ter um rumo, mas que o perdeu a meio do mandato, deixou como herança um estatuto do aluno que é o oposto da imagem exigente e disciplinadora que projetava de si própria. Um estatuto que menoriza o professor e a sua autoridade, que burocratiza os procedimentos disciplinares, que premeia o absentismo na tentativa de recuperar os faltosos. Um diploma que se traduziu num retrocesso em relação a mudanças antes introduzidas pelo ministro David Justino no delirante estatuto Benavente, de 1998, o qual levou para a escola os piores defeitos da Justiça portuguesa, de tal modo a burocracia do processo e os mecanismos 'desculpabilizantes ' do prevaricador impediam a aplicação de sanções em tempo útil. Cada ação disciplinar transformou-se, como aqui se escreveu então, num calvário para o seu instrutor e para o docente ou funcionário que ousasse apresentar queixa de um estudante. David Justino deu um pequeno passo para o desmantelamento dessa 'justiça' escolar complacente, Maria de Lurdes Rodrigues deu um passo atrás. Veremos se Isabel Alçada tem a coragem de uma revolução, ou se, como é de temer, apenas ousará alguns remendos, mantendo o essencial dos vícios de que enferma a filosofia subjacente ao estatuto.

De um país que convive há 12 anos com uma lei aberrante, não se espera que reabilite em pouco tempo a escola pública que desacreditou em três décadas. Mas, agora que soou o alarme e é impossível disfarçar os danos, convinha que os partidos tomassem posição e compromissos, já que do PSD não se sabe o que pensa, o PS pensa uma coisa hoje e o seu contrário amanhã e a esquerda restante, ao invés do que sucede em muitas outras áreas da governação, aqui também tem o seu lastro de culpa, pois contribuiu para estabelecer as bases de modelo de escola pública que ainda temos. É também por isso que os sindicatos do sector se transformaram em 'forças de bloqueio' a qualquer propósito de mudança. Mais depressa convocam manifestações para manter o que está do que contribuem para mudar o que precisa de ser mudado.

Texto publicado na edição do Expresso de 2 de Abril de 2010

O BOM PORTUGUÊS

«O bom português deve cultivar em si o patriota, que abrange o indivíduo, o pai e o munícipe e os excede, criando um novo ser espiritual mais complexo, caracterizado por uma profunda lembrança étnica e histórica e um profundo desejo concordante, que é a repercussão sublimada no Futuro da voz secular daquela herança ou lembrança...
É já grande o homem que subordina à Pátria, sem os destruir, os seus interesses individuais, familiares e municipais.
Por isso, o viver como patriota não é fácil, principalmente num meio em que as almas, incolores, duvidosas da sua existência, materializadas, não atingem a vida da Pátria, rastejando cá em baixo, entretido em mesquinhas questões individuais e partidárias. Mas para Portugal continuar a ser, precisamos de elevar até ele a nossa pessoa e conhecê-lo na sua lembrança e na sua esperança, na sua alma, enfim.
Não podemos amar o que ignoramos.
Impõe-se, portanto, o conhecimento da alma pátria, nos seus caracteres essenciais. Por ela, devemos moldar a nossa própria, dando-lhe atividade moral e força representativa, o que será de grande alcance para a obra que empreenderemos, como patriotas, no campo social e político.
O político estranho à sua Raça não saberá orientar nem satisfazer as aspirações nacionais. É preciso que ele encarne o sonho popular e lhe dê concreta realidade. Do contrário, fará obra artificial, transitória e nociva, por contrariar e mesmo comprometer o destino superior de uma Pátria.
Sim: o bom português necessita de conhecer e comungar a alma pátria, a fim de se guiar por ela, no seu labor. Depois legislará, reformará ou criará literária e artisticamente uma obra duradoura e útil.»
Teixeira de Pascoaes
in «Arte de Ser Português», Assírio & Alvim (2007).

 

O DESENRASCANÇO

 

 

Portugal é o país do deixa andar, do bota-abaixo, do deixa para amanhã o que podes fazer hoje, do desenrasca, do medo e também da corrupção.

É ao mesmo tempo o Quinto Império e "os cafres da Europa" no dizer de Padre António Vieira. Os portugueses "são excessivamente sentimentais, com horror à disciplina, individualistas, talvez sem darem por isso, falhos de espírito de continuidade e de tenacidade na acção" - a descrição é de 1938 e pertence a Salazar.

Em 2011, como somos? Barry Hatton tira-nos as medidas no livro “Os Portugueses”.

"Quanto mais lá vou, mais quero lá voltar”. Somos hospitaleiros por natureza.

No que se referente ao Zé Povinho descrevem os portugueses como sendo simultaneamente "amistosos e irascíveis, deferentes e indómitos, apáticos e humildes, duros e ousados, compassivos mas irados, submissos e belicosos, sempre à espera que a sorte lhes sorria, boa companhia, conciliadores, diplomáticos, efusivos, espontâneos".

O Zé Povinho sintetiza essa personagem portuguesa, com todos esses adjectivos, numa contradição enorme.

É uma figura que tem cerca de 100 anos, é rústico e boçal. Sobretudo nesta fase pós-Europa e pós-revolução, queremos acreditar que evoluímos a partir dela.

Júlio César disse: "É um povo muito estranho, que não se governa nem se deixa governar." Hoje em dia um político diria a mesma coisa. Há muita coisa que vem de trás. Durante os Descobrimentos, os portugueses agruparam-se à volta do Estado - continua a ser assim. Adoram o Estado. É um traço amor-ódio.

Isso é uma visão catastrofista, não do que são os portugueses, mas do futuro dos portugueses. Se é assim há 600 anos, significa que não temos emenda.

Falando de uma coisa actual, da crise e do resgate financeiro: estas medidas são como um penso rápido numa perna partida, como se diz em inglês. Se Portugal quer mudar mesmo, vai ter de mudar a sua maneira de viver. Isto vai levar gerações, não vai mudar com um acordo com o FMI e Zona Euro. Situemo-nos na capacidade criativa dos portugueses e relembremos como os artífices do défice orçamental chegaram primeiro a 2,1% do PIB, para atingirem agora os 2% do PIB. Para trás ficaram investimentos orçamentais importantes por fazer, ficaram perdões fiscais, pagamentos em atraso, dívidas por receber e o mais que a Dr.ª Teodora sabe!

Mudar a maneira de viver, quer dizer implementar reformas de fundo? Dizer a verdade do estado financeiro de 2011?

Nem pouco mais ou menos. É preferível dizer que tudo estava mal por causa do “Governo Anterior”! Seremos capazes de tudo, menos de fazer reformas de fundo! Bem sabemos que das coisas que se mudam hoje, só conseguimos ver os efeitos daqui a um ou dois mandatos. A dívida externa, contínua a subir, cada vez mais! E quanto mais se paga, mais se está a dever …..

Se quiserem, vou-me embora, vou para outro país [riso].) Por outro lado, esta geração que cresceu com a União Europeia, que viaja, que tem contacto com a Internet, com os outros países, tem outras comparações para fazer (como se viu com os protestos da "geração à rasca").

As reformas de fundo poderiam ajudar a destapar os portugueses, que estão muito abafados pelas estruturas rígidas da sociedade. É um florescer que vem com o tempo, não vai ser de um dia para o outro.

Os portugueses têm imensas qualidades, embora os portugueses não acreditem isso. Como o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, disse no ano passado: "Só oiço dizer mal de Portugal em Portugal." Boaventura Sousa Santos, num livro sobre a autoflagelação dos portugueses, fala de uma má consciência por causa da passividade, que todos reconhecem, mas não conseguem mudar.

Raramente os portugueses dizem:

"A culpa é minha e a responsabilidade é minha."

Fernando Pessoa diz que, num grupo de cinco portugueses, o culpado é sempre o sexto.

Somos muito bons críticos de nós mesmos. Eça de Queirós é o exemplo acabado de como é possível, e de forma contundente, arrasar o portuguesinho.

Há muito pouca entrega democrática. José Gil fala da "não inscrição", de as pessoas, não participarem.

"Medo", palavra crucial. Não por acaso, do livro de José Gil em que se fala da "não-inscrição" tem por título Portugal, o Medo de Existir.

É outra coisa que vem de trás. As pessoas pensam que a democracia é só ir votar de dois em dois anos - não é nada disso. As pessoas não vêem solução através da sua participação democrática.

Medo de quê?

Medo de ser mal visto, de fazer figura de parvo. Uma pessoa levanta a voz e pensa que vai ser ridicularizada. Medo de ser castigado. Aos olhos dos portugueses, o poder está cá em cima, eles estão cá em baixo. As pessoas pensam que têm alguma influência, em nada. O medo vem de trás, da ditadura ("é melhor ficar caladinho, está mal mas ainda pode ficar pior"). Nos inquéritos de opinião os portugueses dizem sempre que a maior preocupação deles é ter emprego. Mesmo quando recebem o salário mínimo, pouco mais de 500 euros por mês. É a sua mentalidade: "Tenho pouco, mas pelo menos tenho isto."

Os portugueses conseguem, mas não acreditam que conseguem.

Temos uma baixa auto-estima. Num texto de Antero de Quental, que se refere a um período muito anterior, o diagnóstico que faz do país poderia ser feito em relação aos nossos dias.

Discurso do Declínio dos Povos Ibéricos. Antero foi buscar as raízes do problema muito lá atrás. Fala da Inquisição, do poder da Igreja Católica. Do "conservadorismo religioso instalado pela Contra-Reforma, que sufocou o pensamento inventivo nos países católicos como Portugal". Ele é muito mais eloquente que eu! Esse discurso é brilhante.

 Antero fala de uma centralidade "imposta por períodos de governo absoluto, que encorajou a submissão e a resignação". Uma grossa parte dos portugueses continua a viver da relação com o Estado, submissos e resignados.

Antero aponta uma terceira razão para o declínio. "O sistema económico gerado pela era dos Descobrimentos, de intoxicante abundância, que afastou os portugueses de uma gestão financeira prudente e de um trabalho honesto."

O FUTURO A DEUS PERTENCE

 

Lá fora não conhecem Portugal, não conhecem os portugueses. Essa coisa de nos retratarem como saloios é o que se vê nos filmes. A personagem portuguesa permanece sempre a de um labrego, barrigudo, com bigode.

Rafael Bordalo Pinheiro, vai a caminho de dois séculos, sentiu absoluta necessidade de criar uma “figura” bem representativa do português comum.

Ficou tal figura conhecida até aos nossos dias por Zé Povinho.

De calças remendadas e botas rotas, é a eterna vítima dos partidos apesar de ir dando a vitória ora a um, ora a outro.

A realidade é muito diferente, embora com as características que sempre existiram e existem. Contudo, quando lá fora ouvem falar de nós, nos últimos anos, é quase sempre pelas piores razões:

”Os portugueses querem, é música e vinho verde!”

Lêem-se casos de mau profissionalismo em muitos jornais ingleses, mas casos de corrupção, de má gestão e falta de empenho nos serviços públicos não são casos de todos os dias. São casos raros.

A culpa vai direitinha para a nossa comunicação social! Porquê? Parece ser toda muito leal ao poder político e, principalmente, para com aqueles que estão no poder. Fazer pensar e levar ao conhecimento da população assuntos de interesse nacional, parece fora de moda!

Em Portugal, as palavras acusatórias vão sobretudo para os políticos e para a sua grande trapaça, mas em surdina! Falar alto é muito perigoso, o “sistema” tem “mão de ferro”. Daí o tal medo.

Não vão longe os tempos, em que o homem que fugia aos impostos era um grande herói! Aquele que conseguia dar a volta ao Estado, e evitava pagar 50 euros em impostos, era o campeão. Andar no limite de velocidade nas estradas ou conseguir estacionar sem pagar, eram pequenas vitórias do dia-a-dia. Enfim ser diferente e abusador, dava jeito e fama. E nada disso era uma grande aventura.

Vejam aquele verso de O"Neil:

"Em Portugal a aventura termina na pastelaria." Parece que tudo tem uma escala de bairro”.

Afinal, milhares de portugueses acabam por fugir do seu país para fazerem uma coisa maior, lá fora. É frequente no estrangeiro, e de repente, que os portugueses sejam motivo de orgulho, engrandeçam e enriqueçam. Em Portugal são apupados ou mesmo, ignorados?

Sim. É muito sufocante a rigidez da sociedade, o seu pessimismo. Mas pode resultar, e vê-se que quando vão para fora, resulta.

Os portugueses, fora de Portugal, são trabalhadores, muito bem vistos, desde os anos de 1960, em França.

As multinacionais que estão em Portugal adoram os trabalhadores portugueses. Os portugueses podem conseguir tudo, mas têm de passar a acreditar que o conseguem. Porque são, na maioria, engenhosos, muito habilidosos e trabalhadores!

Também é forçoso falarmos da qualidade das elites, dos que organizam, mal ou bem, dos que apontam directrizes ao povo. Neste caso não temos uma organização que nos permita trabalhar em parceria, com associativismo, fazer um trabalho produtivo em conjunto com os colegas.

As elites, por exemplo têm medo de perder aquela coisa a que estão agarradas, ou seja ao poder. Deixar alguém subir é correr o perigo de perder a sua coisinha e ganhar um concorrente!

Em relação à organização, é como a história dos forcados: têm sucesso porque se unem à volta de um objectivo comum. Mas não é uma característica portuguesa, aquilo a que se chama associativismo.

Os portugueses têm mais talento, mas não o aproveitam unindo-se, organizando-se, para atingir um objectivo conjunto.

Conseguindo-se perceber e corrigir a raiz desta dificuldade que temos em ser organizados e em trabalharmos uns com os outros, atingiremos os melhores objectivos.

Ainda é difícil. É cada um por si.

A ambição também é mal vista em Portugal.

Uma pessoa ambiciosa tenta sempre chegar mais além. Fá-lo porque se acha melhor que os outros. Então, não passa de um oportunista para os outros.

E aqui temos outra característica dos portugueses! Gostar de fazer heróis e colocá-los no poder, mas, depois disso, também gostam de os derrubar, deixando-os cair com estrondo!

E é melhor nivelar por baixo. Pois há uma série de expressões com uma carga pejorativa para os que sobem socialmente:

- "Alpinista social" é um bom exemplo. As pessoas sentem-se ameaçadas porque outras conseguem o que elas ou não conseguiram,

- As pessoas sabem quais são os problemas de Portugal, os portugueses sabem muito melhor do que ninguém quais são os problemas de Portugal. Sabem o que era preciso fazer; mas não o fazem.

- No campo político, o pior dos defeitos, é desconhecerem as condições em que vivemos neste mundo. Ter convicções, não seria mal de todo. Mas, esquecer que Deus nunca põe os ovos todos no mesmo cesto é mau.

- Convém referir e salientar, que a maioria do povo continua a ter um “fraco pelo socialismo”! Não se trata de idealismo, mas de inveja por aquilo que os outros têm, e eles não têm!

- Se tivessem uma situação mais confortável, mudariam logo, pelo menos a maioria! Este não parece ser caminho para defender o interesse nacional, sem o qual não iremos a lado algum!

- Faltam-nos: ambição, autoconfiança, e crença nas possibilidades de Portugal.

É verdade.

Queixam-se muito, mas também gostam. Se os portugueses não gostassem da vida que levam em Portugal, já tinham mudado. Gostam de ir almoçar durante uma hora e meia, duas horas, à sexta-feira. E trabalhar só 35 horas semanais, Quem lhe permitir e facultar este devaneio, ganha as próximas eleições.

Estamos a falar de passividade. “Deixem-me viver descansado”!

- Quando se estava a fazer a reportagem dos 250 anos do Terramoto de Lisboa e se andava pela Mouraria e Alfama, perguntavam às pessoas na rua, se não tinham medo de que houvesse outro terramoto; elas respondiam:

 "Pode ser, mas o futuro a Deus pertence."

 

 

 

 

 

 

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