Um certo Portugal começava a ruir há 50 anos. A 22 de Janeiro de 1961, um comando liderado por Henrique Galvão tomava o paquete português Santa Maria. A 4 de Fevereiro, o MPLA atacava a cadeia de Luanda e ateava o rastilho para a guerra de libertação de Angola. Um mês e onze dias depois, a UPA matava e esquartejava mais de 800 pessoas no Norte. Entre Março e Abril, o ministro da Defesa, Botelho Moniz, tentava e falhava um golpe palaciano para afastar António de Oliveira Salazar do poder.
As eleições legislativas de 10 de Novembro, manipuladas, são precedidas de intensa agitação. Dois dias antes, um voo da TAP que ligava Casablanca a Lisboa era tomado por opositores do regime que lançaram milhares de panfletos sobre a capital e o Sul do país. Na véspera da votação, um grupo de militantes comunistas foge de Caxias num carro de Salazar. Seguir-se-ia o assalto ao quartel de Beja.
Mas era longe da metrópole e de África que o Portugal colonial iria sofrer, ainda em 1961, a sua primeira amputação. A história da queda do Estado Português da Índia tornar-se-ia paradigmática do autismo do regime perante pressões internas e alterações externas. E tornar-se-ia uma história sobre como se conta uma história: como se quiser contar.
É difícil de calcular um número exato, mas estima-se em 60%, o peso da legislação comunitária nas legislações nacionais. Apesar de tudo a UE, nalguns casos, volta atrás e anula as suas próprias diretivas, nomeadamente em direitos do consumidor ou, mesmo, de saúde pública. Casos mais frequentes aparecem ligados às dimensões da fruta e legumes que, no ano passado, a UE flexibilizou regras muito antigas e passou a permitir, por exemplo, a venda de pepinos tortos e cenouras nodosas.
As competências legislativas exclusivas da EU dizem apenas respeito à área aduaneira, regras de concorrência, política monetária e conservação de recursos do mar.
Os estados são soberanos, em matéria de fiscalidade direta, política externa, política de defesa, tudo o que diz respeito a direito civil, políticas de educação e cultura.
Mas o leque de competências partilhadas é grande e é aqui que Bruxelas se adianta em relação a Portugal, dada a existência do chamado “primado do direito comunitário”, sempre que a UE se antecipa e legisla sobre matérias em que os seus países membros ainda não se debruçaram, estes não podem opor-se e são obrigados a acatar as novas regras.
Até meados do século XIX o tempo de trabalho podia atingir 14 horas diárias e muitas vezes não havia descanso mesmo aos domingos. Por isso uma das principais conquistas sindicais foi a diminuição dos horários e do tempo de trabalho, movimento que continuou durante mais de um século: em 1848, a duração semanal legal do trabalho era, em França, de 84 horas tendo passado para 60 em 1906 e para 48 horas em 1936.
Com a redução do tempo de trabalho, os trabalhadores passaram a dispor de tempo livre para descanso ou prática de actividades de laser descobrindo formas baratas de ocupação dos seus tempos livres e de alojamento menos onerosos para se deslocarem para fora dos grandes centros urbanos.
As primeiras formas de turismo social organizaram-se sob o impulso de associações de carácter socioeducativo que recrutavam contudo os seus membros mais no seio das classes médias do que entre os operários. A primeira dessas associações foi o British Alpine Club criado em 1857 seguindo-se-lhe idênticas associações na Áustria e em França. Alguns anos mais tarde, em 1875 foi criado o Camping Club, em Londres, e as primeiras colónias de férias na Suiça.
Este movimento estendeu-se aos jovens com a criação em 1900, pela primeira vez, de albergues da juventude na Alemanha e de associações ligadas ao automóvel.
No Reino Unido em consequência do empobrecimento da aristocracia, muitas propriedades senhoriais foram vendidas a baixo preço e uma associação, Associação Cooperativa de Férias, e os sindicatos adquiriram-nas transformando-as em casas familiares de férias.
Até ao fim da I Guerra Mundial, as questões turísticas eram essencialmente privadas, mas pouco a pouco o Estado passou a desempenhar importante e variável segundo o país, o regime político e as mentalidades da população. Mas a primeira grande iniciativa ocorreu no domínio das férias pagas que foi um dos importantes factores do desenvolvimento posterior do turismo.
O costume de conceder férias aos funcionários e empregados do sector público já era corrente em muitos países europeus do século XIX mas só no princípio do século XX, começou a ser alargado a alguns empregados privados embora em escala limitada. Este movimento levou, inicialmente, à adopção de legislação sobre férias aplicável a certas categorias de trabalhadores tais como aprendizes, mulheres e empregados de armazéns mas só em 1920 surgiram os primeiros textos legais dando direito aos trabalhadores, em geral, sem distinção de categorias e profissões, de ter férias pagas.
Contudo, sob o impulso dos sindicatos, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aprovou em 1936 uma convenção que viria a servir de suporte aos movimentos sociais a favor das férias pagas e do turismo social. Esta Convenção - nº52 - sobre as férias pagas foi um instrumento inovador no plano internacional por estabelecer normas avançadas para a época.
Ratificada inicialmente por 40 países previa férias de uma duração mínima de apenas 6 dias úteis mas teve como efeito o de criar nos trabalhadores e na população em geral uma mentalidade favorável às férias e ao turismo.
A França foi o primeiro país a dar sequência à Convenção da OIT aprovando, alguns meses depois, uma lei que instituiu as férias pagas e na qual se estabelecia que «todo o operário, empregado ou aprendiz tem direito, após um ano de serviço contínuo no estabelecimento, a férias anuais contínuas pagas de uma duração mínima de 15 dias, comportando pelo menos doze dias úteis».
Posteriormente, em 1970, a OIT aprovou uma nova convenção aplicável a todas as pessoas empregadas, incluindo os trabalhadores agrícolas, pela qual se estabeleceu que as férias mínimas passavam a ser fixadas em 3 semanas de trabalho por um ano de serviço.
Em Portugal a primeira iniciativa oficial no domínio do turismo social surgiu com a criação, em 1935, da FNAT - Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho financiada pelo Estado «com a finalidade de assegurar no tempo livre dos trabalhadores um desenvolvimento físico e a elevação do seu nível intelectual e moral» mediante a criação de colónias de férias e excursões. A sua primeira intervenção consistiu na criação, em 1938, de uma Colónia de Férias na Costa de Caparica e posteriormente em Albufeira e Foz do Arelho. Além disso, tomou outras iniciativas, destacando-se o estabelecimento de Convénios, em 1960, com organizações similares de Espanha, França, Alemanha e Itália com o fim de permitir aos seus associados deslocarem-se para estes países para aí passarem férias em regime de contrapartida.
Em 1974, a FNAT, deu origem ao actual INATEL, Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores.
Até parece que se vai escrever sobre o “Portugal dos Pequeninos”, mas não. Trata-se realmente de desabafar e escrever sobre um outro país muito parecido com o nosso, chamado de “ Babilónia “ e também dos seus políticos.
Neste país a classe política está totalmente desacreditada pela falta de “ Sentido de Estado”, ou tão-somente pela falta de “ Serviço Público” que esperávamos ter e nunca apareceu, até hoje, naquilo a que querem chamar de democracia. A idade média desta classe política já é o que menos importa! Tem havido de tudo. Novos e idosos, mas a falta de sensibilidade e transparência é igual em todos! O mal está no sistema!
Particularmente, nesta “ Babilónia “, vão imperando, nos últimos tempos, os “ políticos pequeninos”, gente com muita falta de saber e de uma visão globalmente socioeconómica. A estrada da vida que já percorreram, por serem pequeninos, não lhes deu a possibilidade de falarem ou pensarem sobre os mais velhos, ou seja, daqueles que já dobraram os cinquenta anos de idade.
Fala-se mesmo em referências como esta: “ Os Governos Anteriores”! Esses são o povo votante quem julga.
Não lhes é possível imaginar o que sente um homem de cabelos brancos, sem lá chegar. Não têm sensibilidade para tal.
Aquele cidadão, reformado, que ainda pensa e sente como seu, tudo aquilo que é de todos e para todos é, para eles um ser extraterrestre!
Os políticos pequeninos desta Babilónia que narramos, agem e decretam, sentindo no seu íntimo a velha máxima;
Não é meu que se lixe.”
É aqui que começa a sua prática demagógica, aquela que um ser pequenino mais rapidamente utiliza. Não é verdade que com ela muitas vezes tentaram ludibriar os seus próprios pais?
Ludibriar os outros é uma constante! Principalmente em período eleitoral!
Pois, são estes políticos pequeninos, novos ou velhos, que puseram a “Babilónia” a funcionar como está! Ou seja, nela nada funciona. Não funciona a justiça, educação, ambiente, segurança,
Saúde etc., ou melhor funcionam, mas exatamente ao contrário daquilo que devia ser.
Temos e vivemos, assim, numa Babilónia”, vergada ao peso do deixa andar, da incompetência, do oportunismo, da falência eminente, da corrupção e da prevalência dos interesses, muito acima dos valores! Interesses privados muitas vezes ilegítimos, em detrimento do interesse geral do país. É neste grave momento que a Babilónia atravessa, que os tais políticos pequeninos sem coragem para tomar as salvadoras medidas de fundo, de há tanto diagnosticadas, embarcam com total descaramento pela via da demagogia.
Lembram muito os cozinheiros de alguns restaurantes que para disfarçaram o travo amargo da carne retardada, carregam sem conta na mostarda.
Na nossa Babilónia há uma profunda crise de Estado, a identidade da nação está perdida e ao invés de haver coragem de pôr em prática as medidas estruturantes adequadas à gravidade, tratam-se os reformados como se fossem, na generalidade, uns autênticos privilegiados e oportunistas!
Quem recebe uma reforma da Segurança Social, pagou-a durante longos anos de trabalho. A sua entidade empregadora também cumpriu a sua obrigação social. Quase de certeza que é deste dinheiro descontado pelos reformados, que muitos dos políticos pequeninos desta Babilónia auferem, antes do tempo ou da razoabilidade, autênticas mordomias e reformas de nababos! Estas sim, são de corrigir. Como podem abordar de forma tão demagógica e generalizada, um problema tão sério? Esquecem-se que milhares de trabalhadores foram corridos dos seus locais de trabalho nos últimos anos, deixando para trás sonhos e regalias que estavam ainda nos seus horizontes? Com cinquenta e poucos anos sentados no banco do jardim! Tudo isto em nome dos desvarios dos tais políticos pequeninos que arrastaram o país numa revolução completamente desatualizada e aberrante !
Também para arranjar empregos aos milhares de alunos das universidades privadas, cujas receitas encheram os bolsos aos ditos políticos pequeninos da nossa Babilónia. É crime os reformados trabalharem?
Melhor seria enterrá-los enquanto antes! E vivos, para não darem mais despesa ao país! Com o dinheiro das suas reformas, então sim, poderíamos corrigir, sem subterfúgios, o pecaminoso défice que enxovalha estes velhotes.
A Páscoa é uma festa móvel, o que significa que sua data não é fixa em relação ao calendário civil. O Primeiro Concílio de Niceia (325) estabeleceu a data da Páscoa como sendo o primeiro domingo depois da lua cheia após o início do equinócio vernal (a chamada lua cheia pascal)[10]. Do ponto de vista eclesiástico, o equinócio vernal acontece em 21 de março (embora ocorra no dia 20 de março na maioria dos anos do ponto de vista astronômico) e a "lua cheia" não ocorre necessariamente na data correta astronômica. Por isso, a data da Páscoa varia entre 22 de março e 25 de abril (inclusive). Os cristãos orientais baseiam seus cálculos no calendário juliano, cuja data de 21 de março corresponde, no século XXI, ao dia 3 de abril no calendário gregoriano utilizado no ocidente. Por conseguinte, a Páscoa no oriente varia entre 4 de abril e 8 de maio inclusive.
A Páscoa cristã está ligada à Páscoa judaica pela data e também por muitos dos seus simbolismos centrais. Ao contrário do inglês, que tem duas palavras distintas para as duas festas (Easter e Passover respectivamente), em português e em muitas outras línguas as duas são chamadas pelo mesmo nome ou nomes muito similares. Os costumes pascais variam bastante entre os cristãos do mundo inteiro e incluem missas matinais, a troca do cumprimento pascal e de ovos de Páscoa, que eram, originalmente, um símbolo do túmulo vazio[12][13][14]. Muitos outros costumes passaram a ser associados à Páscoa e são observados por cristãos e não-cristãos, como a caça aos ovos, o coelho da Páscoa e a Parada da Páscoa. Há também uma grande quantidade de pratos típicos ligados à Pascoa e que variam de região para região.
(.) Percebe-se assim melhor a ideia de Soares quando se assume como político profissional, bem como de Cavaco que se assume como não sendo (na verdade ele encaixa na primeira definição, precisamente quando os políticos não eram profissionais). E como ambos percebem bem que a classe política está desprestigiada, Soares, que se assume como profissional, ataca Cavaco que prefere dela afastar-se. No entanto, quem desprestigiou a política não foi nenhum dos candidatos presidenciais. Foi, sim, aquela geração de políticos que não tendo herdado nem o sentido de serviço público nem a largueza de ideais, dá, sem qualquer grandeza, a impressão de apenas pretender fama, poder e dinheiro.
É uma geração de políticos que gosta, acima de tudo, de ser amada e compreendida e é incapaz de tomar medidas necessárias, ainda que dolorosas; que tem relações promíscuas com a comunicação social e aceita, muitas vezes, as suas regras, expondo-se a si mesmo, à família, ao cão e ao gato, vendendo-se como produtos; que privilegia as formas em relação aos conteúdos, aceitando agir, e falar segundo modelos publicitários, surgindo como oca, vazia.
Felizmente, ainda muitos no Governo e na oposição, resistem a este estereótipo. Mas é fácil reconhecer em diversos gestos e opções, o germe de uma, ou mais, destas maleitas. E se é impossível colocar Soares e Cavaco entre eles, há que dizer que tanto um como o outro contribuíram substancialmente para a sua existência.
A marafona ou matrafona (Alentejo) é uma boneca de trapos, sem olhos, nem boca, nariz ou ouvidos, vestida com um colorido traje regional. A sua armação é uma cruz de madeira revestida a tecido.
Uma marafona
As bonecas de Monsanto, são utilizadas para celebrar a fertilidade, e a felicidade conjugal. As marafonas fazem parte da tradição de Monsanto na Festa das Cruzes, celebrada no dia 3 de Maio se for Domingo, caso contrário, no Domingo seguinte.
Durante a festa, as raparigas casadoiras bailam com as marafonas. Depois da festa as bonecas são deixadas em cima da cama onde têm o poder de livrar a casa das tempestades de trovoada, e de maus olhados. No dia do casamento guardam-se debaixo da cama (como não têm olhos nem orelhas nem boca, nada veem, nada ouvem nem nada podem contar) para trazer fertilidade e felicidade ao casal. As marafonas estão associadas ao culto da fertilidade.
A marafona faz parte da tradição na localidade de Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros, mais propriamente na festa dos Caretos de Podence, onde a marafona é, também, uma rapariga mascarada que anda com a cara escondida por baixo de uma renda e leva um lenço à cabeça. Estas marafonas são os únicos seres que os caretos respeitam nas suas brincadeiras.
Segundo conta uma lenda, quando Monsanto estava cercada pelos mouros alguns dos seus habitantes decidiram fazer umas bonecas e pô-las a dançar nas ameias do castelo, dando a ideia de que estavam bem e felizes. Os mouros ao ver as bonecas, decidiram levantar o cerco. As marafonas desfilam no Carnaval de Torres Vedras durante o Entrudo. A procissão das marafonas, ou do pão bento, tinha lugar em Guimarães, no dia 10 de Junho, na igreja de Sta. Clara.
O nosso sentir, não pode morrer. Sem sentirmos o que sentimos, não seríamos nós mesmos.
Começo a sentir o meu entardecer. Todo o ser humano acaba por senti-lo. No fundo é uma nova vida que chega, com um sentir muito mais lato.
Nem de propósito! Tinha acabado de me aprontar para sair, quando ouvi tocar a campainha da porta. Apressei-me para ver quem tocava e, mesmo dali, deparei-me com um jovem que acompanhei em todo o seu evoluir para homem. De tristeza estampada no rosto disse-me: vizinho é para lhe dizer que o meu pai morreu esta noite!
Pouco ou nada consegui dizer. Tal o embaraço que se apossou de mim! Havia falecido o meu vizinho de mais de cinquenta anos!
É verdade, o senhor Orlando partiu para algum lado onde todos seremos vizinhos, mesmo sem portas ou janelas. Mas mais livres, também, E, acima de tudo, muito muito solidários.
Se eu vinha sentindo o entardecer, tal convicção tomou-me por inteiro. Voltei para dentro, precisava de meditar no Homem que somos. Se sempre lutei por mudanças no mundo a favor de todos, sem qualquer exceção, desta vez apercebi-me que tais mudanças teriam de ser feitas na minha própria vida. É hora de mudar Não em torno da política ou economia, mas da sacralidade da pessoa humana, e dos valores inalienáveis, como pede o Papa A luta que abracei com coragem, em todo o meu passado, para que se pudesse olhar com confiança o futuro no mundo, e para se pudesse viver nele, plenamente, a esperança e a dignidade, vai entrar noutra rota. Uma rota da minha disponibilidade numa luta individual, pode despertar algumas consciências, mas as coisas não se alteram!
A perda (?) do vizinho não sai do meu pensamento. Muitas vezes saíamos em simultâneo de casa e eu via-o trazer a gaiola do seu canário, que pendurava na parede exterior da sua casa. Em breve começaria uma sinfonia espantosa nesta ave! Efeitos sonoros de alta qualidade, um canto melodioso. Adorava ouvirem o seu trinado
Por outro lado, sentia pena que o canário, estivesse aprisionado numa gaiola. A melodia que entoava, sem cansaço, seria certamente muito mais bonita cantada do alto de uma árvore e em plena liberdade.
Se os pássaros não foram feitos para viver aprisionados, muito menos o Homem o foi. Assim não poderá viver, ou seja, sem ser plena liberdade! Submeter o Homem aos pecaminosos interesses de grupo, ou outra dependência intelectual qualquer é, também, limitá-lo e tolher-lhe as suas aptidões de ser humano.
Disposto estou, a pôr as minhas últimas forças ao serviço dos valores inadiáveis da sociedade e estes ao serviço da sacralidade da pessoa humana, Assim mesmo, terminarei a minha atividade no blog luzdequeijas e tentarei desbravar outros caminhos mais consentâneos com o cansaço do entardecer a que fiz alusão. Sem perder a dignidade conquistada no meu passado de lutador pela verdade.
Podem chegar momentos de grandes catástrofes a Portugal ou qualquer outro País e é precisamente nestes momentos, de total desespero, que vem o apelo mais profundo: REGRESSAR À NOSSA ALDEIA
É justamente esse sentimento que assaltou milhares de haitianos, perdidos e profundamente amargurados na tragédia que se abateu sobre este pobre povo. Alguns relatos arrepiam e mostram à saciedade que ninguém está a salvo duma tremenda desgraça. As origens e causas podem ser as mais variadas como, o bloqueio de uma cidade por desordens naturais ou de ordem cívica e económica. A água não chega à grande cidade, nem o abastecimento regular e só por isto a vida nela, pode torna-se angustiante e medonha. Uma grave convulsão social trás as pilhagens, a total insegurança, que pode atingir irremediavelmente a ordem e a segurança, tidas como garantidas. A cidade vira, de um momento para outro, uma verdadeira selva. Acontecem estas e outras situações arrepiantes, constantemente, em qualquer lugar do mundo. Todavia lá, na aldeia, o ritmo das desgraças e privações, acontece em menor grau, ou mesmo não acontece. A vizinhança funciona, a fonte deita água pura, a segurança é garantida pela distância e isolamento e, até, algumas galinhas não deixarão de pôr os seus ovinhos. Alguma hortaliça, fruta e legumes, que com boa vontade e economia, a todos podem socorrer e valer. A vida é local e os transportes não se apresentam como indispensáveis.
Depois, é destas aldeias, podem acreditar, que continua a irradiar para todos os eixos da vida do País, uma imensa força vital e espiritual. Mesmo quando destruídas e abandonadas. Delas, mesmo em ruínas, continua a erguer-se uma força estranha e forte, das gentes antepassadas, como bênção às gentes presentes e futuras. E, deveria ser principalmente por isso, além do muito mais, que elas deveriam estar arranjadinhas, do jeito que sempre foram. Inalteradas, mas bonitas.
Sem mudanças, tal e qual muitas gerações as viram e nelas viveram felizes. Poderiam ser os nossos hospitais de campanha, o lazer da juventude já perdida e o refúgio, doce, para os momentos mais amargos. Também, para todo o tipo de turismo, ou repouso de gente alquebrada pelas canseiras de uma vida de trabalho e saudosa da sua aldeia.
Vamos pois, dignificar aquilo que nunca nos sairá do pensamento, a aldeia onde aprendemos a ler e a escrever, onde espreitámos o primeiro ninho e vimos os passarinhos nascidos, de bico aberto, esperando alimento dos pais.
Se esta for uma real preocupação da União Europeia, assim poderá ser por toda esta terra de civilização cristã. E, por essa razão, nas nossas aldeias poderíamos dar guarida e apoio a gente em desespero como são atualmente as crianças, idosos e adultos haitianos, ou outras mesmo nossas. Amanhã poderá ser a nossa vez, a vida só tem razão de ser, quando todos tivermos de mãos estendidas e sorriso aberto, para aqueles que estiverem em desespero. Também para comungar os momentos bons e felizes da vida em vizinhança, na quietude da nossa aldeia.
Dra. Sonia Regina Rocha Rodrigues (Médica e Escritora)
Introdução
A cultura – somatória de costumes, tradições e valores - é um jeito próprio de ser, estar e sentir o mundo, ‘jeito’ este que leva o indivíduo a fazer, ou a expressar-se, de forma característica.
Ora, SER é também PERTENCER – a algum lugar, a alguma fé ou a um grupo, seja família, amigos ou povo.
Daí ser a cultura um forte agente de identificação pessoal e social, um modelo de comportamento que integra segmentos sociais e gerações, uma terapia efetiva que desperta os recursos internos do indivíduo e fomenta sua interação com o grupo e um fator essencial na promoção da saúde, na medida em que o indivíduo se realiza como pessoa e expande suas potencialidades.
A perceção individual do mundo é influenciada pelo grupo. Aquilo que o grupo aprova ou valoriza tende a ser selecionado na perceção pessoal; já o que é rejeitado ou indiferente aos valores do grupo tem menor possibilidade de ser selecionado pela percepção do sujeito – e se for significativa para o sujeito, este o guarda para si ou o elabora de forma a adaptá-lo aos valores grupais, seja de foram lúdica, simbólica ou distorcida, no intuito de evitar a censura coletiva.
O indivíduo que consegue burlar a censura grupal e introduzir nela uma significativa mudança de valores adquire o poder de influenciar a História, daí o dizer-se que ‘os poetas são profetas’. Explica-se, assim, o medo que os governos autoritários e ditatoriais tem da elite cultural a a perseguição política acirrada que os representantes da cultura tem sofrido através dos séculos – por exemplo, queima de livros e de sábios nas fogueiras da Inquisição, acusados de bruxaria e de pacto com o demônio.
Os povos evoluem através de mudanças significativas em sua cultura e as mudanças acontecem rapidamente quando o clima político é de liberdade; caso contrário demora apenas mais uma pouquinho, o tempo de o pensamento, que é livre, romper os grilhões da intolerância