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O ENTARDECER

O ENTARDECER

COMPORTAMENTOS DESVIANTES

 

Uma atitude longamente recalcada, que se manifesta hoje, entre nós, há duas atitudes diametralmente opostas mas que convergem numa idêntica cegueira: a primeira celebra a nostalgia do velho autoritarismo salazarento e de uma disciplina de caserna típica de alguns internatos; a segunda insiste na condescendência com os abusos e na recusa da autoridade.

Invocando motivos sócio-económicos, culturais e afectivos para explicar (e desculpar) toda a sorte de comportamentos desviantes.   

Eis um exemplo elucidativo, de como os extremos se toca e se mostram igualmente impotentes. Se a escola se tornou palco de um mal-estar tão profundo e disseminado - desde a crise de autoridade dos professores à crescente degradação dos resultados pedagógicos, passando pela aridez dos equipamentos – é certamente porque existem males de raiz para superar.

Mas isso não se consegue fazendo das escolas um sucedâneo de quartéis. Ou um prolongamento de jardins-de-infância. Como se a autoridade se confundisse fatalmente, num caso como noutro, pela positiva ou pela negativa, com autoritarismo.

É indispensável assegurar a autoridade e dignidade dos professores, a responsabilidade dos alunos (e famílias), a repressão dos comportamentos contrários à moralidade escolar e cívica. Mas, para que isso não se traduza apenas em votos piedosos é preciso que a escola deixe de ser uma selva massificada, ao contrário daquilo que a escola deve proporcionar.

 A partir do momento em que os professores temem assumir a sua própria autoridade, seja pelo receio de ela poder ser confundida com autoritarismo, seja por puro ou simples medo de represálias – o sentimento de irresponsabilidade, de impunidade, de primitivismo selvagem tende a ocupar o vazio.  

Não terá sido por acaso, aliás, que a professora agredida por uma aluna, por causa de um telemóvel só se queixou à direcção da sua escola depois do caso ter sido divulgado na net. É de certo um caso entre muitos, já que os professores não têm de ser heróis, e ninguém de resto lhes agradece e paga para isso numa sociedade onde a escola massificada reflecte a mais corrosiva das crises pedagógicas: a dos valores.

Dir-se-á que, apesar de tudo, este caso pode ter um efeito pedagógico, exemplar, uma vez que as imagens difundidas pelo You Tube funcionarão como prova contra um acto de violência que, assim, não ficará impune. Mas é um efeito perverso e puramente intimidativo. O medo e o temor do castigo, não dispensam a compreensão e a interiorização do erro.

Por mais que possa parecer uma doce ingenuidade, é isso o que diferencia uma sociedade policiada de uma sociedade com regras de convivência e respeito verdadeiramente assumidas. Democrática.

É também por isso que importa construir, a diferença entre a escola e a selva, ainda que com telemóveis e You Tube

A MORTE DE UMA QUINTA

 

Da última vez que visitei esta quinta, ela estava quase irreconhecível. Não tinha gente, estava abandonada e desprezada. Não havia flores, frutos, carros de bois a passar, jovens a caminho do rio Tejo! Só uma triste desilusão e abandono.

Recordo-me de muita gente boa que dedicou toda a sua vida àquela Quinta e que já não vive, mas sei,  que onde estiverem continuam com a quinta num coração que já não bate! Só podem pairar, por cima daqueles mil anos de história, contemplando as paredes dos palheiros, lagares, vacarias, castelo e do palácio sempre imponente, num estado decadente e lastimoso.

Só o castelo ainda parece um soldado em sentido!

Falando das etapas deste lugar de orgulho e monumento do imaginário nacional, que ninguém sabe quando veio ao mundo, mas que foi muito antes da formação do nosso país, podem marcar-lhe como influências e períodos de evidência na sua longa existência, a era da primeira dinastia, logo seguida da era de outra Ordem (Templários), e por último dos seus últimos e mais marcantes proprietários, ou seja, a família de um oficial alemão que tão bem soube continuar o trabalho das Ordens já referidas. Resistiu a tudo e só sucumbiu com a entrada do país na União Europeia. Ainda terá recebido, como tantos outros proprietários, subsídios de Bruxelas. Mas como tantos outros não os terá investido em mais produção, com melhor qualidade e menos custos.  Por esta ou por outras razões, o País preferiu importar do estrangeiro tudo o que consumia! Dizia-se que era mais barato, até o trigo dos EUA! Mas os políticos e produtores esqueceram-se de, a tal diferença, lhe somarem os subsídios de desemprego que Portugal começou a pagar por muitos milhares de desempregados de todas as idades!

Um 25 de Abril extremista, piorou tudo de uma assentada.

Assim, a quinta que tudo produzia em agricultura e pecuária e que tanto enriqueceu o País, está hoje em ruínas e desabitada e o orgulho nacional para lá caminha! Muitos querem dizer que não, mas as evidências não falham!

Tempos de sofrimento

 

Daniel Bessa (www.expresso.pt)

 

A Grécia vive tempos de grande sofrimento. Poucos meses atrás, confrontados com qualquer sacrifício, por menor que fosse, os gregos teriam recusado: teriam invocado direitos adquiridos, promessas eleitorais e coisas do género. Hoje, preparam-se para perder dois dos catorze meses de salário anual; congelaram os salários da função pública e as pensões de toda a gente até 2012; aumentaram a idade de reforma de 53 para 65 anos; vão subir o IVA para 23%; vão extinguir 800 entidades públicas e privatizar várias empresas públicas. De forma menos planeada, o caos em que caiu a situação financeira do país, com as taxas de juro

a subirem e com o crédito cortado, farão fechar muitas empresas, destruirão muitos postos de trabalho, obrigarão à falência de bancos e reduzirão a pó muitos depósitos bancários, porão muita gente na miséria. A Bolsa de Valores de Atenas não pára de descer. Podem protestar o que quiserem na certeza de que, quanto mais protestarem, pior.

O inacreditável é que tudo isto poderia ter sido evitado, com um pouco de responsabilidade e de bom senso. Tem responsáveis, sim, aos olhos de toda a gente, por mais que a auto-estima os reconforte.

E não venham dizer que a culpa é dos credores, das agências de rating ou da senhora Merkel. Para males destes, não pode haver perdão.

TER OU NÃO TER MAR

 

O que não poupávamos se Portugal tivesse mar ... !‏

   

Não resisto a um humor como este! Está  m a g i s t r a l.     Aqui vai;

"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo Continente  (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores portugueses."   Porque é que estes dados não me causam admiração?   Talvez porque, esta semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de frescos dos supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco.
Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.
 Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia, sapateira de Madagáscar, polvo Marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do Haiti?

Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais
 de 2.000 quilómetro de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar com o berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.

Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é
 desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o ano.

Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras.  Fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo.  A minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.


Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e
 rouca. Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl.
Eu   às vezes penso:


O que não poupávamos se Portugal tivesse mar.

JOÃO QUADROS.    NEGÓCIOS ONLINE

 

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