A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O dom da profecia acabará, o dom das línguas há-de cessar, a ciência desaparecerá; mas a caridade não acaba nunca. De maneira imperfeita conhecemos, de maneira imperfeita profetizamos. Mas quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, sentia como criança e pensava como criança. Mas quando me fiz homem, deixei o que era infantil. No presente, nós vemos como num espelho e de maneira confusa; então, veremos face a face. No presente, conheço de maneira imperfeita; então, conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade.
O sangue derramado não seria suficiente para Salazar escrever a sua narrativa. Recorre à mentira. Em Lisboa, os jornais dão conta da morte de mais de mil portugueses. Os títulos galvanizam a opinião pública em torno do regime mas deixam milhares de famílias de coração nas mãos. Estas só saberiam do destino dos seus filhos meses depois. Os militares portugueses foram aprisionados em campos de concentração indianos. No outro lado do Índico, Portugal retaliava com a detenção de 12.000 indianos em Moçambique. A troca dos reféns acontece a partir de Maio de 1962. O regresso a Lisboa é discreto e inglório. Desembarcam sob a mira das armas da Polícia Militar, são colocados em comboios e encaminhados para as respectivas unidades mobilizadoras. Só depois voltam a casa, cinco meses após a notícia de uma possível morte em terra distante. Dez oficiais do Exército seriam demitidos, cinco reformados compulsivamente e nove suspensos por seis meses.
Goa seria rapidamente esquecida perante o agravamento do conflito em África. Os 463 anos de domínio português na Índia terminariam como uma nota menor da história do Estado Novo, cumpre-se este domingo 50 anos.
(fim)
Após ler este texto, o meu amigo J escreveu o seguinte:
“Sobre a detenção de cidadãos indianos residentes em Moçambique, era miúdo mas recordo-me terem sido utilizados, na Beira, uns grandes armazéns, na zona do Maquinino, para albergar as famílias detidas, presumo que a aguardar transporte para a Índia. Os meus colegas de carteira na escola primária não abrangidos pela medida provavelmente ou seriam cidadãos de origem paquistanesa, ou possuíam a cidadania portuguesa.
Muitos anos depois, um colega hindu referia-se com certa animosidade aos grandes comerciantes de origem paquistanesa que, na Beira, haviam florescido com a saída de muitos dos hindus, adoptando até uma postura de subserviência e vassalagem para com o regime português.
Por altura da independência de Moçambique, um acérrimo anticolonialista, de origem goesa, que nas páginas da imprensa diária se evidenciava por uma desmesurada militância em prol do novo regime, fizera questão de guardar num fundo de uma mala em casa, a bandeira portuguesa pois, como dizia a família, a amarga experiência vivida na Índia portuguesa ainda pesava no coração.”
Em primeiro lugar, será de salientar que a ética está relacionada com a nossa reflexão sobre os princípios e argumentos que fundamentam as nossas acções, ou seja, permite-nos ponderar sobre as causas ou os motivos para agirmos de determinada maneira. Assim, a ética ajuda-nos a distinguir o bem do mal, levando-nos a reflectir sobre questões muito pertinentes, tais como: porque faço isto e não aquilo? Qual o motivo que tenho para agir assim?
Serão estes comportamentos pessoais, que poderão fazer com que haja ou não, mais ética na sociedade em que vivemos.
A ética, ainda, pode ser considerada como a arte de construir a nossa própria vida, por isso, sem ética o nosso dia-a-dia seria um caos axiológico, pois teríamos em mente o que nos prejudica e o que nos beneficia. De igual modo, as nossas acções não teriam argumentos nem justificações que as fundamentassem.
Nós, seres humanos, não vivemos isolados, mas em constante interacção com os outros. Por esta razão, o ser humano sofre, naturalmente, influências sociais que condicionam a sua tomada de decisões. Estas influências exteriores podem conduzir o ser humano para um bom ou um mau caminho, o que está intimamente ligado a muitos factores, designadamente aos padrões de cultura do meio, ao contexto histórico e às relações interpessoais que se estabelecem.
Qualquer sociedade humana dispõe, normalmente, de entidades ou meios para defenderem estes princípios da ética, como sejam a educação escolar, com a qual todo o cuidado é pouco! Meter aqui idealismos políticos, como por exemplo “ a Escola Pública”. A educação deve ser livre e sem tabus, que conduzam a mordaças manipuláveis.
Nos últimos tempos muito se tem falado nas Entidades Reguladoras da Ética. Aparentemente já há organizações a mais neste campo, com o risco de desvios a um caminho traçado para o conjunto da sociedade. Parece razoável que nestas “Entidades” haja a presença do Governo, mas também da oposição. Tal como na Assembleia da Républica.
Por último, temos a informação prestada ao público em geral. Ela, não terá que seguir um mesmo ponto de vista, pode e deve ser diferente, mas nunca manipulada! Principalmente quando através dela se introduzem manipulações sem qualquer ética: Dentro de tanta diversidade possível, foquemo-nos, por exemplo, numa informação dada ao povo na comunicação social, sobre o emprego ou desemprego. Os dados estatísticos publicados já têm normalmente, um certo pendor pouco ético, neste caso estarão em causa muitos milhares de portugueses que fogem do seu país na procura de trabalho, que o seu berço não lhe garante. É gente que abandona tudo e todos, com a alma a sangrar! Gente sofredora, e hoje existem portugueses espalhados pelo mundo inteiro!
Ora, quando qualquer Governo atira para a comunicação social estatísticas referindo um abaixamento acentuado no desemprego, logo pensa que os futuros votantes pensarão:
“que bom trabalho estão a fazer”.
Simplesmente ignora, quer ignorar, quantos portugueses partiram por não terem cá um ganha-pão. Logo, este número enorme de trabalhadores deixou de constar das listas de pessoas que procuram emprego cá e hoje, estarão algures por esse mundo fora!
Tal informação prestada ao público, de certo modo, encerra pouca ética, porque induz os leitores numa avaliação manipulada, embora verdadeira!