Da sua quinta a nossa criança e jovem dizia: Conto, ainda assistir a mais dois debates que sei serem fundamentais no futuro, do planeta Terra. Voltei a levantar-me e comecei a vaguear. Não quis consultar placas informativas. Comecei a perceber que elas se destinavam aos recém-chegados. Para mim, já intuía o funcionamento mental desta nova envolvência cósmica. Avistei um outro edifício, ainda desconhecido para mim. Era diferente, tinha a forma de uma estrela. Aqui tive de voltar ao “sistema informativo” Era algo de novo. Nem mais nem menos do que uma grande biblioteca! Pude ver milhares de livros, todos de capa azul claro. Havia muitos leitores e outros, acabados de entrar, à procura da informação que pretendiam. Fiquei a observar tal movimentação. Não havia empregados ou outro tipo de controlo visível. O sistema de procura era dirigido, como os outros, pelo pensamento. As opções eram vastíssimas, no que concerne a línguas, tipos de leitura, autores e regiões do globo terrestre, etc. A editora era sempre a mesma: “Presença Celestial”. Embora goste muito de ler, confesso que ainda me sinto pouco à vontade para tal aventura. Por fim esta precoce criança estrebuchou e acordando, perguntou:
Apesar de muito consumo e ostentação, as pessoas mais despertas perguntam as si mesmas: Até quando isto durará? Havia sinais de que muita gente, até de populações inteiras, que estava fora do aparente bem-estar, do banquete para os selecionados!
A primeira morte parece ir ser a da económica. O modelo socialista/social-democrata/democrata-cristão, centrado na caridade do Estado e na subalternização do indivíduo, está falido, e brinda-nos com recessões de quatro em quatro anos.
Basta ler "O Dever da Verdade" (Dom Quixote), de Medina Carreira e Ricardo Costa, para percebermos que o nosso Estado é, na verdade, a nossa forca. Através das prestações sociais e das despesas com pessoal, o Estado consome mais do que aquilo que a sociedade produz. Estas despesas, alimentadas pela teatralidade dos 'direitos adquiridos', estão a afundar Portugal. Eu sei que esta verdade é um sapo ideológico que a maioria dos portugueses recusam engolir. Mas, mais cedo ou mais tarde, o país vai perceber que os 'direitos adquiridos' constituem um terço dos pregos do caixão da III República [...]
As pessoas não gostam de Medina Carreira. Mas, na verdade, as pessoas não gostam, é da realidade. Ele só aponta para a realidade. Ele só aponta para factos que ninguém quer ver. E é fascinante ver o "genial" das pessoas perante estes factos.
AJP Taylor dizia que as pessoas, quando criticavam Bismarck, o realista, estavam, na verdade, a criticar a realidade. A grande mudança no mundo terá de chegar, fazendo o Homem engolir novos conceitos e éticas, mais humanas, ambientalistas e sociais!
Porém, vamos continuar na senda do mundo vivido pela criança que viveu e vive num belo país, embora corrupto!
Mas, para tal precisamos de esquecer a realidade do presente e relaxar, desligando-nos da correria do actual quotidiano. Que bem soube e sabe, essa “essa viagem ao passado!”
Mais à frente, a vida não deixará espaço suficiente, para pensamentos românticos, ilusões, sonhos e “mergulhos” na profundidade efémera do “eu”. O tempo que virá, com o seu ritmo rígido e pragmático, será responsável pela formação de um homem novo. Na verdade, o homem de hoje é uma pessoa sem sentimentalismo e perfeitamente capaz de sobreviver e vender-se, com sucesso, numa sociedade de consumo. No futuro, não existirá a nostalgia da música do passado, das silhuetas tão queridas ao coração, tudo serão interesses!
Aos poucos, as águas do rio deixavam de ser barrentas e tornavam-se límpidas. A sua torrente arrastava as ramagens dos salgueiros que assentavam na água. Adeptos da pesca à linha, vinham das terras vizinhas. Existiam também os outros, quase profissionais, que com os seus barcos pretos, em forma de meia-lua, percorriam o Tejo estendendo as suas redes. Também outros aprestos como os “covos”, etc. Ajudavam os pescadores a ganhar a vida. O peixe assim recolhido, era vendido nas terras ribeirinhas que não eram abrangidas pela venda de peixe do alto-mar.Algum tempo depois, outro evento anual fazia acorrer à quinta muita gente das redondezas. Fala-se da 5ª Feira da Ascensão ou “dia da espiga”. Vendedores ambulantes apareciam manhã cedo e montavam as suas bancas. Vendiam refrescos, pevides, tremoços, sanduíches, bolos etc. Outras pessoas vendiam os típicos ramos deste dia, chamados de “espiga”. No rio, fragatas enfeitadas passeavam as pessoas, a troco de quase nada. Todos entoavam cantigas populares, era a alegria do verdadeiro povo.
Com mais ou menos cheias, eram assim os invernos na quinta, para os trabalhadores rurais.
Com os borbotes pequenos e verdes a rebentarem nos ramos das árvores, percebia-se que estava a chegar a primavera. Na terra, o rebentar das ervas e plantas, fazia levantar a camada de lodo que as cheias lá deixavam. Ouviam-se os pardais nos telhados a chilrear, e outros vão bebendo água nas poças mais teimosas. Mais tarde, andarão entretidos a fazer o ninho e a cidar dos filhotes.
À noite, todos se apressavam a pôr ao lume o seu pote de barro com três pés. Estavam pretos de tanto ir ao fogo. Depois, iam vagueando entre um banco e a chaminé, espreitando, se os poucos feijões já se podiam comer. De vez em quando tiravam dos alforges pendurados na parede, um estreito tubo de vidro com azeite, e deitavam no pote umas poucas gotas. Mexiam, o magro sustento com colheres de pau, após o que provavam. Voltavam a tirar dos alforges uma colher muito gasta, e segurando a cabeça com uma mão, lá iam comendo com a outra.
Quase não falavam. Quando acabavam, seguravam a cabeça com as duas mãos e ficavam imóveis até se irem deitar. Talvez estivessem a pensar na vida e na família que estava longe. Mais tarde, lá iam nos seus tamancos feitos de madeira, até ao dormitório.