“ As disparidades, incongruências e imprecisões que resultam das declarações que foram prestadas são de tal ordem que não consideramos possível fixar qualquer posição definitiva num relatório final “, escreve o inspector João Gonçalves, num documento enviado à subinspectora – geral da Inspecção Geral da Administração Interna (IGAI), a 11 de Julho.
De seguida, acrescenta: “ De facto, neste processo há demasiada “ verba “ e pouca “ rés”. Isto é, quando pedimos documentos justificativos das decisões tomadas, ou nos dizem que não existem (e tal está evidenciado nos autos), ou se atribui essa inexistência a “ despachos verbais “, “ ordens superiores “ , “ determinações “ , “ orientações “ , ou mesmo “ gestão desburocratizada e flexibilizada “ . (...) Este processo transcende a pura legalidade formal “.
Estes são só alguns dos motivos apresentados por João Gonçalves para formular um pedido pouco habitual nestas situações: “ Entendemos não ter condições objectivas – pessoais e institucionais – para prosseguir na instrução deste processo de inquérito “ . O inspector que averiguou as empreitadas na Quinta de Santo António, na Pontinha – o imóvel do Ministério da Administração Interna que viria a ser destinado à sede da Fundação para a Prevenção e Segurança – pediu a sua substituição ao fim de seis meses de trabalho.
João Gonçalves ouviu, por diversas vezes, António Morais, director do GEPI, Lencastre Bernardo, director do SEF, Armando Vara, ex-secretário de Estado do MAI, Luís Amado, que teve as mesmas funções, o governador civil de Lisboa e técnicos, assessores e até secretárias, sem conseguir chegar a uma conclusão.
“ Quer o queiramos, quer não, este processo está “ contaminado “ por processos políticos de decisão que não podem ser escamoteados, sob pena de a árvore não nos deixar ver a floresta ou, então, de sermos conduzidos por caminhos que não levam a parte nenhuma “, escreveu, premonitório, no primeiro relatório que fez sobre este caso.”