MARIA DA FONTE
A contestação à “Lei da Saúde”, criada em nome da higiene pública para evitar epidemias, começou na aldeia minhota de Santo André dos Frades. Estávamos em Março de 1846 quando um grupo de mulheres armadas de foices e gadanhas decidiu protestar contra a nova lei que as proibia de enterrar os seus mortos no interior das igrejas.
Rapidamente, a revolta da Maria da Fonte, como ficou conhecida, passou a rebelião contra a ditadura política e a exploração económica de Costa Cabral, um dos chefes do movimento constitucionalista que, desde 1842 liderava o país. Os camponeses não queriam pagar os novos impostos decretados pelo governante que iria ser demitido pela rainha D.Maria II. Queimavam cartórios para fazer desaparecer os registos das tributações, “as papeletas da ladroeira”. Durante o mês de Abril, nos recontros com as tropas, morreram populares e soldados. Quando tudo parecia ficar controlado, as colunas lideradas por José da Silva Cabral, irmão do ministro, recusam-se a combater contra o povo.
O regime era odiado. O estado vivia dos impostos cobrados ao povo, ao mesmo tempo concedia monopólios ou fazia contratos com os grandes capitalistas em troca de empréstimos. Surgiram grandes Companhias, como a dos Tabacos e do Sabão, muitas vezes fachadas de negócios especulativos. Em Abril de 1845, o “imposto de repartições” veio agravar o descontentamento dos trabalhadores. No ano a seguir dá-se a revolta popular. Costa Cabral tinha os dias contados. Mais tarde, depois da guerra civil da Patuleia que só terminou com a intervenção de ingleses e franceses, António Bernardo da Costa Cabral seria reconduzido.
Neste escrito que apresentamos, o historiador José Hermano Saraiva resume a situação política do país até à revolta da Maria da Fonte. Começa por explicar de onde vem o caráter polémico de Costa Cabral.