A grande paixão com esta quinta era em primeiro lugar o rio Tejo. Havia nele, fascínio e mistério, que a todos desafiavam.
O Tejo era contido todo o ano por extensas margens de salgueiros e canaviais, chamadas de marachas, com exceção da época das grandes cheias, hoje quase inexistentes pela grande capacidade de acumulação da água das barragens construídas nos últimos cinquenta anos.
De resto, quase tudo no dia-a-dia da Quinta representava um desafio. Desafio que era preciso vencer sozinho. A natureza é amiga mas lança desafios para nos ajudar e preparar a nossa própria defesa. Enquanto seres humanos
O porto fluvial estava equipado com batelões, barcos a motor fragatas e botes.
No inverno, com as grandes e medonhas cheias todas as embarcações eram recolhidas no leito manso de uma ribeira que aqui desagua.
As águas do Tejo quando baixas, no verão, deixavam aparecer belos areais. O sítio onde a ribeira desaguava no rio era o mais belo e apetecido. Havia relva no chão e muitas amoreiras com ótimas sombras para descansar. No meio deste espaço estava um frondoso chorão. Este lugar era conhecido pela «beira do Tejo» e servia para os banhistas e campistas descansarem e conviverem. Era a praia possível para muitas famílias dos arredores, nesta zona interior.
Naquele tempo, a água que corria neste rio era completamente límpida, com muito peixe e marisco
As primeiras incursões até ao leito do Tejo ocorriam com a chegada dos dias quentes e eram de jovens, normalmente estudantes em grupo à procura da frescura do rio. Vinham ver como estavam as coisas, mas só mais tarde se decidiam pela entrada na água.
A roupa era trocada no meio dos canaviais e aí guardada, sem receio. Começavam deste modo os mergulhos no Tejo. O sítio mais profundo era exatamente onde a torrente esbarrava na muralha do palácio. Era aí, no pego, que os mais audazes mergulhavam. Os outros maus nadadores, procuravam as águas mais baixas. Apesar disso, todos os anos o Tejo fazia as suas vítimas entre os jovens menos avisados ou afortunados. Estes acontecimentos, onde toda a gente se conhecia, eram profundamente sentidos. O luto era para todos sem exceção. Logo que o corpo era encontrado traziam-no para a margem onde ficava a aguardar os trâmites legais. Por alguns dias o rio era motivo de profundo respeito e não havia banhos para ninguém. Curiosamente estes acidentes ocorriam quase sempre no entusiasmo dos primeiros mergulhos.
Nas noites cálidas de verão e depois do jantar, as famílias desciam até à “ beira Tejo”. Sabia bem apanhar o fresco da noite, que vinha do rio, e os mais faladores ajudavam a passar a noite. Numa dessas noites ocorreu um fenómeno que marcou quem o presenciou!
Por cima das cabeças das pessoas presentes, a alguns metros de distância, passou uma grande bola em fogo! A cauda era muito comprida! Desviou para a esquerda e desapareceu no meio de um grande choupal. No dia seguinte procuraram-se vestígios daquele grande objeto luminoso mas sem qualquer êxito. Era o medonho da natureza.
Acabada a reunião pensei para comigo: Já tinha assistido a várias outras reuniões de Casas do Saber e em todas “bebi”, com sofreguidão, tudo que ouvi nelas. O saber em todas era repleto de espiritualidade e profundos conhecimentos, tanto ao nível das intenções como na entrega desinteressada aos projetos. O meu estado de espírito era de uma leveza mental e física muito grande. Ali vivi melhor que os passarinhos vivem na Terra, ou melhor, vivi com outra qualidade, mas todos os dias, sem pensar no amanhã e no futuro. Tão pouco nas outras necessidades diárias. Cansaço, foi outra coisa que ia desaparecendo com o decorrer do tempo. Só de não ter que me preocupar, em comer, mudar de roupa e calçar todos os dias os sapatos, etc., ficava dia-a-dia muito mais leve. Os adornos corporais, é como se não existissem, ou melhor, também são eternos. As pessoas olham-se nos olhos frontalmente e, dos outros, nada mais vêem do que a sua própria alma. E esta, vêem-na com dons que adquiriram do alto do seu estado de leveza corporal e grande evolução espiritual. Neste espaço do universo que considero “celestial”, não vislumbro o mínimo vestígio de poluição. Para melhor meditar, voltei a sentar-me na relva. Precisava de muita meditação! Ouvi falar de muitos temas como: levitação – oceanos – micro algas – energia dos ventos – a teoria de Darwin – propulsão iónica – recursos da Terra – consequências ambientais – correntes oceânicas – climas – famílias dos ventos – novas ferramentas para políticas ambientais – movimentos da Terra – etc. É sobre o aproveitamento de tudo isto que os sábios do plano celestial vão desenvolvendo a sua investigação, no intuito de melhorarem as condições de vida na Terra. Conto, ainda assistir a mais dois debates que sei serem fundamentais no futuro do planeta Terra. Voltei a levantar-me e comecei a vaguear. Não quis consultar placas informativas. Comecei a perceber que elas se destinavam aos recém-chegados. Para mim, já intuía o funcionamento mental desta nova envolvência. Avistei um outro edifício, ainda desconhecido para mim. Era diferente, tinha a forma de uma estrela. Aqui tive de voltar ao “sistema informativo” Era algo de novo. Nem mais nem menos do que uma grande biblioteca! Pude ver milhares de livros, todos de capa azul claro. Havia muitos leitores e outros, acabados de entrar, à procura da informação que pretendiam. Fiquei a observar tal movimentação. Não havia empregados ou outro tipo de controlo visível. O sistema de procura era dirigido, como os outros, pelo pensamento. As opções eram vastíssimas, no que concerne a línguas, tipos de leitura, autores e regiões do globo terrestre, etc. A editora era sempre a mesma: “Presença Celestial”. Embora goste muito de ler, confesso que ainda me sinto pouco à vontade para tal aventura.
Foram precisos 35 anos para se voltar a falar de autoridade nas escolas. É uma discussão pela qual se têm batido uns poucos na esfera pública, professores como Nuno Crato, Fátima Bonifácio, Helena Matos, sociólogos como António Barreto, políticos como Paulo Portas, um ou outro psicólogo desalinhado, um ou outro colunista de jornal. Uma discussão que muitos professores travam entre si diariamente, sem cuidarem de saber se são de esquerda ou de direita, porque não desistiram da profissão e sofrem na pele os efeitos da sua própria desautorização, promovida por sucessivos governos, em nome de Pedo Ciências falhadas.
Até Maria de Lurdes Rodrigues, a ministra que parecia ter um rumo, mas que o perdeu a meio do mandato, deixou como herança um estatuto do aluno que é o oposto da imagem exigente e disciplinadora que projetava de si própria. Um estatuto que menoriza o professor e a sua autoridade, que burocratiza os procedimentos disciplinares, que premeia o absentismo na tentativa de recuperar os faltosos. Um diploma que se traduziu num retrocesso em relação a mudanças antes introduzidas pelo ministro David Justino no delirante estatuto Benavente, de 1998, o qual levou para a escola os piores defeitos da Justiça portuguesa, de tal modo a burocracia do processo e os mecanismos 'garantistas' do prevaricador impediam a aplicação de sanções em tempo útil. Cada acção disciplinar transformou-se, como aqui se escreveu então, num calvário para o seu instrutor e para o docente ou funcionário que ousasse apresentar queixa de um estudante. David Justino deu um pequeno passo para o desmantelamento dessa 'justiça' escolar complacente, Maria de Lurdes Rodrigues deu um passo atrás. Veremos se Isabel Alçada tem a coragem de uma revolução, ou se, como é de temer, apenas ousará alguns remendos, mantendo o essencial dos vícios de que enferma a filosofia subjacente ao estatuto.
De um país que convive há 12 anos com uma lei aberrante, não se espera que reabilite em pouco tempo a escola pública que desacreditou em três décadas. Mas, agora que soou o alarme e é impossível disfarçar os danos, convinha que os partidos tomassem posição e compromissos, já que do PSD não se sabe o que pensa, o PS pensa uma coisa hoje e o seu contrário amanhã e a esquerda restante, ao invés do que sucede em muitas outras áreas da governação, aqui também tem o seu lastro de culpa, pois contribuiu para estabelecer as bases de modelo de escola pública que ainda temos. É também por isso que os sindicatos do sector se transformaram em 'forças de bloqueio' a qualquer propósito de mudança. Mais depressa convocam manifestações para manter o que está do que contribuem para mudar o que precisa de ser mudado.
Texto publicado na edição do Expresso de 2 de Abril de 2010
Naquele paraíso a magia era constante nas quatro estações do ano! No inverno, essa magia tinha o acento tónico no medonho. A natureza engrossava a voz e punha o semblante fortemente carregado.
O volume das águas do Tejo aumentava de forma assustadora, em dois ou três dias, por força das primeiras chuvadas, mais persistentes.
A torrente do rio, tornava-se forte e impetuosa e a água ganhava uma cor barrenta! Troncos de árvore eram vistos a descer o rio ao ritmo dessa torrente. Por todo o lado as águas das chuvas descobriam atalhos e mais logo, toda desaguava no rio, vinda de muito longe. De tanta água receber, o caudal transbordava as margens que ladeavam o leito do rio. Nem os enormes salgueiros e a sua densa ramagem, a podiam suster. Era impressionante ver a cavalgada das águas sempre em busca de cada vez mais espaço galgado. A vida animal, sempre desconfiada, apercebia-se da avalanche das águas e refugiava-se como podia, mais longe ou mais alto!
Rapidamente a paisagem verdejante desaparece e fica submersa por um extenso mar que galga muros, estradas , pomares , colinas e toda a planície a perder de vista!
Do alto do castelo a nossa vista só alcançava água. As noites caíam pouco depois das cinco e eram longas, muito longas e medonhas. O silvo do vento forte acompanhado do barulho da intensa chuva a cair, compunham uma sinfonia para a noite toda. A seguir á chuva de dias, numa bela manhã iria aparecer o sol radioso. Mesmo assim, as águas do rio continuavam a subir até estacionarem por dois ou três dias. Havia de seguir-se o seu abaixamento, normalmente com muita lentidão, deixando nas paredes e muros uma linha horizontal castanha, de lama, que marcava a máxima altura daquela cheia.
Atingida a normalidade no rio ficava visível ao longe, uma extensão muito grande toda coberta por uma espessa camada de lama. Esse lamaçal com o tempo irá ficar transformado num infinito conjunto de polígonos originados pela lama que gretava ao secar. Futuras chuvadas acabarão por proceder à lavagem e transporte para o rio de grande parte deste precioso composto. O que fica na terra é um óptimo fertilizante.
Naquele paraíso a magia era constante nas quatro estações do ano! No inverno, essa magia tinha o acento tónico no medonho. A natureza engrossava a voz e punha o semblante fortemente carregado.
O volume das águas do Tejo aumentava de forma assustadora, em dois ou três dias, por força das primeiras chuvadas, mais persistentes.
A torrente do rio, tornava-se forte e impetuosa e a água ganhava uma cor barrenta! Troncos de árvore eram vistos a descer o rio ao ritmo dessa torrente. Por todo o lado as águas das chuvas descobriam atalhos e mais logo, toda desaguava no rio, vinda de muito longe. De tanta água receber, o caudal transbordava as margens que ladeavam o leito do rio. Nem os enormes salgueiros e a sua densa ramagem, a podiam suster. Era impressionante ver a cavalgada das águas sempre em busca de cada vez mais espaço galgado. A vida animal, sempre desconfiada, apercebia-se da avalanche das águas e refugiava-se como podia, mais longe ou mais alto!
Rapidamente a paisagem verdejante desaparece e fica submersa por um extenso mar que galga muros, estradas , pomares , colinas e toda a planície a perder de vista!
Do alto do castelo a nossa vista só alcançava água. As noites caíam pouco depois das cinco e eram longas, muito longas e medonhas. O silvo do vento forte acompanhado do barulho da intensa chuva a cair, compunham uma sinfonia para a noite toda. A seguir á chuva de dias, numa bela manhã iria aparecer o sol radioso. Mesmo assim, as águas do rio continuavam a subir até estacionarem por dois ou três dias. Havia de seguir-se o seu abaixamento, normalmente com muita lentidão, deixando nas paredes e muros uma linha horizontal castanha, de lama, que marcava a máxima altura daquela cheia.
Atingida a normalidade no rio ficava visível ao longe, uma extensão muito grande toda coberta por uma espessa camada de lama. Esse lamaçal com o tempo irá ficar transformado num infinito conjunto de polígonos originados pela lama que gretava ao secar. Futuras chuvadas acabarão por proceder à lavagem e transporte para o rio de grande parte deste precioso composto. O que fica na terra é um óptimo fertilizante.
Os estudiosos normalmente preocupam-se em analisar a acção e influências que o homem exerce sobre o meio em que vive.
Concordo e reconheço a importância desse conhecimento. Todavia a análise e o estudo do inverso não será menos importante, antes pelo contrário. A influência do meio ambiente sobre o Homem é decisiva na formação do seu carácter e da sua personalidade, nomeadamente no período da infância e adolescência. Depois fica.
O que se passa nos grandes centros urbanos é certamente diferente daquilo que se passa na vivência diária de uma quinta perdida no campo. Nesta quinta, não existem fatores, como nas cidades, que desliguem ou afastem as pessoas da forte influência da natureza.
Nas grandes cidades, talvez que sejam mais determinantes outros coisas como, clubes desportivos, associações culturais e o próprio ambiente familiar, onde as pessoas são obrigadas a recorrer, pois a rua é só de passagem.
O que quero mesmo realçar tem a ver com a vivência das pessoas que nasceram e cresceram numa quinta muito especial como a Cardiga, com uma história riquíssima. A rua aqui não é passagem, é o espaço de liberdade. A História que se lê nas centenárias pedras do castelo é o orgulho que nos vai perseguir a vida toda. A natureza é o amigo, mas também o desafio e a aventura. Os animais quase são da família.O espaço mais amplo, vulgo rua, é a transparência porque nele tudo é claro, mesmo quando chega o escuro da noite.