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O ENTARDECER

O ENTARDECER

POR QUE OS PIORES

CHEGAM AO PODER

Há razões de sobra para se crer que os aspectos que consideramos mais detestáveis nos sistemas

Totalitários existentes não são subprodutos acidentais, mas fenómenos que, cedo ou tarde, o totalitarismo

produzirá. Assim como o estadista democrata que se opõe a planejar a vida económica não tardará a defrontar-se com o dilema de assumir poderes ditatoriais ou abandonar O seu plano, também o ditador totalitário logo teria de escolher entre o fracasso e o desprezo à moral comum. É por essa razão que os homens inescrupulosos têm mais probabilidades de êxito numa sociedade que tende ao totalitarismo.

A questão que analisaremos é que atitudes morais serão geradas por uma organização coletivista da

Sociedade, e por quais ideias morais tal sociedade tenderá a ser dirigida? As ideias dependerão em parte das qualidades dos que conduzem os indivíduos ao sucesso num sistema totalitário e, em parte, das exigências do mecanismo totalitário.

Para a liderança do movimento as pessoas procuram um homem que goze de sólido apoio, de modo a

Inspirar confiança quanto à sua capacidade de realizar o que pretende. E aqui entra em cena o novo tipo de

Partido, organizado em moldes militares.

Embora os partidos socialistas tivessem poder político suficiente para obter seus fins, desde que

resolvessem empregar a força, relutaram em fazê-lo. Sem o saber, tinham assumido uma tarefa que só poderia ser executada por homens implacáveis, prontos a desprezar as barreiras da moral reinante.

Muitos reformadores sociais aprenderam, no passado, que o socialismo só pode ser posto em prática

por métodos que seriam condenados pela maioria dos socialistas.

Há três razões para que um grupo numeroso, forte e de idéias bastante homogêneas não tenda a ser

constituído pelos melhores, e sim pelos piores elementos:

 

  1. Quanto mais elevada a educação e a inteligência

dos indivíduos, tanto mais se diferenciam os seus gostos e opiniões, e menor é a possibilidade de concordarem sobre determinada hierarquia de valores. Portanto, se queremos lograr alto grau de uniformidade e semelhança de pontos de vista, teremos de descer às camadas em que os padrões morais e intelectuais são inferiores e prevalecem os instintos mais primitivos.

 

  1. As autoridades ou o ditador conseguirão o apoio dos dóceis e dos simplórios, que não têm fortes convicções próprias, mas estão prontos a aceitar um sistema de valores previamente elaborado, contanto que este lhes seja apregoado com estrépito e insistência (FALAR ALTO E GROSSO).

 

  1. Parece ser mais fácil aos homens concordarem sobre um programa negativo ódio a um inimigo ou inveja aos que estão em melhor situação – do que sobre qualquer plano positivo.

Uma das contradições inerentes à filosofia coletivista é que, embora baseada na moral humanista aperfeiçoada pelo individualismo, só se mostra praticável no interior de um grupo relativamente pequeno.

Enquanto permanece teórico, o socialismo é internacionalista; mas ao ser posto em prática, na Alemanha ou na Rússia, torna-se violentamente nacionalista. No coletivismo não há lugar para o amplo humanitarismo do liberal, mas apenas para o estreito particularismo do totalitário.

Se a “comunidade” ou o Estado têm prioridade sobre os indivíduos, se possuem objetivos próprios

superiores aos destes e deles independentes, só os indivíduos que trabalham para tais objetivos podem ser

considerados membros da comunidade. Como conseqüência, uma pessoa só é respeitada na qualidade de membro do grupo, se coopera para os objetivos comuns reconhecidos, e toda a sua dignidade deriva dessa cooperação, e não da sua condição de ser humano.

Enquanto para os grandes filósofos sociais individualistas do século XIX e mesmo para socialistas

contemporâneos como Bertrand Russel, que herdaram a tradição liberal , o poder sempre se figurou o supremo mal, para o coletivista puro ele é um fim em si mesmo.

É errôneo afirmar que o grande poder exercido por uma comissão de planeamento central não seria maior do que o poder exercido conjuntamente pelas diretorias das empresas privadas.

 

Numa sociedade baseada na concorrência, ninguém exerce uma fração sequer do poder que uma comissão planeadora socialista concentraria nas suas mãos.

 

Já vimos que a separação dos objetivos políticos e dos objetivos econômicos representa uma garantia essencial da liberdade individual e como, em conseqüência, tal separação é atacada pelos coletivistas.

Devemos acrescentar agora que a “substituição do poder econômico pelo político” significa necessariamente a substituição de um poder sempre limitado por um outro ao qual ninguém pode escapar.

 

 

O sistema coletivista não deixa à consciência individual a liberdade de aplicar suas regras próprias,

nem mesmo conhece quaisquer regras gerais cuja prática seja exigida ou permitida ao indivíduo em todas as circunstâncias.

 

Como o direito formal, as regras da ética individualista são gerais e absolutas, por mais imprecisos que

Possam parecer certos aspectos. Prescrevem ou proíbem um tipo geral de ação, sem levar em conta se num caso específico o objetivo último é bom ou mau. Na ética individualista, o princípio de que o fim justifica os meios é considerado a negação de toda a moral. Na ética coletivista, torna-se a regra suprema; não há,

literalmente, nada que o coletivista coerente não deva estar pronto a fazer, desde que contribua para o “bem da comunidade”, porque o “bem da comunidade” é para ele o único critério que justifica a ação.

Seria, no entanto, injusto considerar as massas que sustentam um regime totalitário destituídas de

qualquer fervor moral, só porque prestam apoio irrestrito a um sistema que a nós se afigura a negação dos melhores valores morais. Para a sua grande maioria, é justamente o contrário que se verifica: a intensidade das emoções morais em que repousa um movimento como o nazista ou o comunista talvez só possa ser comparado à dos grandes movimentos religiosos da história. Uma vez admitido que o indivíduo é simples instrumento para servir aos fins da entidade superior – sociedade ou nação – manifesta-se necessariamente a maior parte dessas características dos regimes totalitários que nos enchem de horror. Onde existe uma finalidade comum e soberana, não há lugar para uma moral ou para normas gerais. Quando toda a sociedade é dominada por alguns fins específicos, é inevitável que, vez por outra, a crueldade se torne um dever. Para ser um auxiliar útil na administração de um estado totalitário, não basta que um indivíduo esteja pronto a aceitar justificações

capciosas de atos abomináveis; deve estar preparado para violar efetivamente qualquer regra moral de que

tenha conhecimento, se isso parecer necessário à realização do fim que lhe foi imposto.

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